Israel denuncia “discurso irresponsável" do chefe humanitário da ONU
The
Hunter's Prayer (2017) - Odeya Rush, Sam Worthington
O embaixador israelita na ONU, Danny Danon, manifestou-se
hoje "profundamente chocado"
com o recente discurso de Tom Fletcher, chefe das operações humanitárias da ONU
em Gaza, considerando um "sermão político
irresponsável" que
"destruiu qualquer noção de neutralidade".
Na terça-feira, durante uma reunião do Conselho de
Segurança, Tom Fletcher criticou duramente as condições desumanas impostas
"sem o menor constrangimento" por Israel no território palestiniano.
Tom Fletcher utilizou mesmo a
palavra "genocídio".
"De que mais provas precisam? Vão agir de forma
decisiva para impedir o genocídio e garantir o respeito pelo direito
internacional humanitário, ou, em vez disso, dirão 'fizemos tudo o que
podíamos?'", questionou.
Danny Danon realçou, numa carta enviada na sexta-feira a Tom
Fletcher, tornada pública pelo seu gabinete, que ficou "profundamente
chocado e perturbado" com aquelas declarações.
"Teve a ousadia, na sua
capacidade de alto funcionário da ONU, de se apresentar perante o Conselho de
Segurança e invocar a
acusação de genocídio sem provas, sem mandato, sem
restrições", denunciou.
"Esta foi uma declaração completamente descabida e
irresponsável, que destruiu qualquer noção de neutralidade (...) O senhor não informou o Conselho, fez um sermão político",
acrescentou.
Para o embaixador israelita, utilizar "a palavra 'genocídio' como arma contra Israel não é apenas uma distorção, é a
profanação e a subversão de um termo de força e peso únicos".
O difícil relacionamento entre Israel e a ONU deteriorou-se
ainda mais após o ataque sem precedentes do Hamas contra Israel, a 7 de outubro
de 2023, e a retaliação do exército israelita na Faixa de Gaza.
As autoridades israelitas cortaram todos os laços com a
agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (UNRWA), que acusam
de estar infiltrada pelo Hamas.
Em outubro passado, o secretário-geral da ONU, António
Guterres, foi declarado "persona non grata" em Israel.
Já hoje, o Alto-Comissário das Nações Unidas para os
Direitos Humanos, Volker Türk, lamentou a escalada dos ataques israelitas na
Faixa de Gaza, alertando para uma "limpeza
étnica" do povo palestiniano
em curso.
Em resposta ao ataque de 7 de outubro de 2023 do grupo
islamita palestiniano Hamas - que fez 1200 mortos e 251 sequestrados, o
primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, propôs-se
"erradicar" o movimento, e o seu Exército lançou horas depois uma
ofensiva destruidora em Gaza que causou mais de 53 000 mortos, obrigou os 2,4
milhões de habitantes a deslocarem-se várias vezes em busca de refúgio e
provocou uma catástrofe humanitária.
[Na vida, sabem os letrados, são necessários dois para
dançar o tango. Não está claro, nestes acontecimentos, que não tenha havido
instigação efetiva de Israel para o ataque ou estamos perante um simples
aproveitamento de uma oportunidade de ouro, para obter mais território e
supremacia na região, sobretudo sobre o Irão, o inimigo simbólico. O dia
escolhido foi o melhor do ano: realizava-se um festival de música com muita
gente descartável e de várias nacionalidades para melhor marketing nas Nações
Unidas e nas visitas de dirigentes israelitas a outros países; a operação dos
pagers explosivos estava em andamento; a seleção de alvos para destruição
estava definida, como aconteceu com a explosão de parte do aeroporto
internacional de Alepo; a recolha de inteligência sobre os inimigos da zona
estava bastante avançada – não poderia ter ser escolhida melhor altura para
este ataque.
Israel nunca divulgou quantos dos seus agentes
integravam o holocaústrico ataque do grupo islamita a 7 de outubro de 2023, nem
quantas das 1200 pessoas foram, de facto, mortas pelo Hamas e quantas pelas
forças armadas e polícia israelitas através da ativação do Protocolo Hannibal.
Numa era em que os serviços secretos monopolizam a informação e moldam a
perceção do real, resta ao cidadão comum, desprovido de acesso aos briefings
confidenciais, um último bastião de liberdade: a lógica aristotélica. Pois, como
ensinava o velho Estagirita, o que se contradiz não pode ser verdadeiro. E
assim, no meio do ruído e da manipulação, só o que resiste à razão merece ser
acreditado. Simplesmente, é ilógico e um atentado à inteligência dos
consumidores de informação mediatizada, que os israelitas tenham informações
minuciosas, ao mais ínfimo detalhe, sobre o Hezbollah, a Síria, os houthis, o
Irão e até sobre os americanos, e, pelo lado absurdo, viviam na mais perfeita
ignorância sobre planeamentos operacionais do Hamas, quando têm uma brigada, a
Duvdevan, especificamente treinada para infiltração no grupo.
A justificação do embaixador Oren Rozenblat é
simplesmente ridícula: "E nós estávamos dormindo. Especialmente pensando
que outras pessoas deveriam pensar como nós. Eles, não. Eles têm princípios de
religião extremos. Sacrificar as suas vidas para destruir Israel é mais
importante do que os filhos. E esse foi o nosso erro”].
Após um cessar-fogo de dois meses, o Exército israelita
retomou a ofensiva na Faixa de Gaza a 18 de março e apoderou-se de vastas áreas
do território.
No início de maio, o governo de Netanyahu anunciou um plano
para "conquistar" Gaza, que Israel ocupou entre 1967 e 2005.
Fonte: CNN Portugal, 16 de maio de 2025
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