Israel denuncia “discurso irresponsável" do chefe humanitário da ONU


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O embaixador israelita na ONU, Danny Danon, manifestou-se hoje "profundamente chocado" com o recente discurso de Tom Fletcher, chefe das operações humanitárias da ONU em Gaza, considerando um "sermão político irresponsável" que "destruiu qualquer noção de neutralidade".

Na terça-feira, durante uma reunião do Conselho de Segurança, Tom Fletcher criticou duramente as condições desumanas impostas "sem o menor constrangimento" por Israel no território palestiniano.

Tom Fletcher utilizou mesmo a palavra "genocídio".

"De que mais provas precisam? Vão agir de forma decisiva para impedir o genocídio e garantir o respeito pelo direito internacional humanitário, ou, em vez disso, dirão 'fizemos tudo o que podíamos?'", questionou.

Danny Danon realçou, numa carta enviada na sexta-feira a Tom Fletcher, tornada pública pelo seu gabinete, que ficou "profundamente chocado e perturbado" com aquelas declarações.

"Teve a ousadia, na sua capacidade de alto funcionário da ONU, de se apresentar perante o Conselho de Segurança e invocar a acusação de genocídio sem provas, sem mandato, sem restrições", denunciou.

"Esta foi uma declaração completamente descabida e irresponsável, que destruiu qualquer noção de neutralidade (...) O senhor não informou o Conselho, fez um sermão político", acrescentou.

Para o embaixador israelita, utilizar "a palavra 'genocídio' como arma contra Israel não é apenas uma distorção, é a profanação e a subversão de um termo de força e peso únicos".

O difícil relacionamento entre Israel e a ONU deteriorou-se ainda mais após o ataque sem precedentes do Hamas contra Israel, a 7 de outubro de 2023, e a retaliação do exército israelita na Faixa de Gaza.

As autoridades israelitas cortaram todos os laços com a agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (UNRWA), que acusam de estar infiltrada pelo Hamas.

Em outubro passado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, foi declarado "persona non grata" em Israel.

Já hoje, o Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, lamentou a escalada dos ataques israelitas na Faixa de Gaza, alertando para uma "limpeza étnica" do povo palestiniano em curso.

Em resposta ao ataque de 7 de outubro de 2023 do grupo islamita palestiniano Hamas - que fez 1200 mortos e 251 sequestrados, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, propôs-se "erradicar" o movimento, e o seu Exército lançou horas depois uma ofensiva destruidora em Gaza que causou mais de 53 000 mortos, obrigou os 2,4 milhões de habitantes a deslocarem-se várias vezes em busca de refúgio e provocou uma catástrofe humanitária.

[Na vida, sabem os letrados, são necessários dois para dançar o tango. Não está claro, nestes acontecimentos, que não tenha havido instigação efetiva de Israel para o ataque ou estamos perante um simples aproveitamento de uma oportunidade de ouro, para obter mais território e supremacia na região, sobretudo sobre o Irão, o inimigo simbólico. O dia escolhido foi o melhor do ano: realizava-se um festival de música com muita gente descartável e de várias nacionalidades para melhor marketing nas Nações Unidas e nas visitas de dirigentes israelitas a outros países; a operação dos pagers explosivos estava em andamento; a seleção de alvos para destruição estava definida, como aconteceu com a explosão de parte do aeroporto internacional de Alepo; a recolha de inteligência sobre os inimigos da zona estava bastante avançada – não poderia ter ser escolhida melhor altura para este ataque.  

Israel nunca divulgou quantos dos seus agentes integravam o holocaústrico ataque do grupo islamita a 7 de outubro de 2023, nem quantas das 1200 pessoas foram, de facto, mortas pelo Hamas e quantas pelas forças armadas e polícia israelitas através da ativação do Protocolo Hannibal. Numa era em que os serviços secretos monopolizam a informação e moldam a perceção do real, resta ao cidadão comum, desprovido de acesso aos briefings confidenciais, um último bastião de liberdade: a lógica aristotélica. Pois, como ensinava o velho Estagirita, o que se contradiz não pode ser verdadeiro. E assim, no meio do ruído e da manipulação, só o que resiste à razão merece ser acreditado. Simplesmente, é ilógico e um atentado à inteligência dos consumidores de informação mediatizada, que os israelitas tenham informações minuciosas, ao mais ínfimo detalhe, sobre o Hezbollah, a Síria, os houthis, o Irão e até sobre os americanos, e, pelo lado absurdo, viviam na mais perfeita ignorância sobre planeamentos operacionais do Hamas, quando têm uma brigada, a Duvdevan, especificamente treinada para infiltração no grupo.

A justificação do embaixador Oren Rozenblat é simplesmente ridícula: "E nós estávamos dormindo. Especialmente pensando que outras pessoas deveriam pensar como nós. Eles, não. Eles têm princípios de religião extremos. Sacrificar as suas vidas para destruir Israel é mais importante do que os filhos. E esse foi o nosso erro”].

Após um cessar-fogo de dois meses, o Exército israelita retomou a ofensiva na Faixa de Gaza a 18 de março e apoderou-se de vastas áreas do território.

No início de maio, o governo de Netanyahu anunciou um plano para "conquistar" Gaza, que Israel ocupou entre 1967 e 2005.

Fonte: CNN Portugal, 16 de maio de 2025

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