Corrida ao armamento é comparável aos períodos que antecederam as guerras mundiais? “A resposta é um sonoro sim!”

 Transporter: The Series - Chris Vance, Delphine Chanéac

As vendas de armas nos EUA têm crescido durante vários anos, e a guerra na Ucrânia acelerou esse processo. Os EUA são o maior fornecedor global de armas militares, mas a produção e venda de material de defesa aumentou um pouco por todo o mundo. Vários analistas afirmam que a corrida ao armamento já é comparável aos períodos precederam as guerras mundiais

“Ritmo febril” e “sentido de urgência” marcam a atual corrida ao armamento que lembra os períodos que antecederam as duas guerras mundiais. As palavras escolhidas por Abhijit Apsingikar, analista militar indiano da GlobalData (uma consultora de análise de riscos, em Londres), contam apenas parte da história. “O atual ritmo de rearmamento a nível mundial é substancialmente diferente do que foi observado durante o período que precedeu a I Guerra Mundial e durante o período entre guerras após a I Guerra Mundial”, diz ao Expresso Abhijit Apsingikar, apontando que a atualidade supera o frenesim do passado. “Este movimento foi desencadeado por uma série de acontecimentos desestabilizadores, como a guerra na Ucrânia, a intervenção de Israel em Gaza, as disputas fronteiriças indo-paquistanesa e indo-chinesa, e as reivindicações territoriais chinesas no Mar da China Meridional. Ao contrário de antes, não existe um fator universal específico que impulsione esta corrida armamentista, e esta está agora geograficamente dispersa, com vários fatores geopolíticos a alimentá-la.”

O secretário-geral da NATO iniciou um debate para emitir títulos conjuntos e assegurar um "quadro financeiro multianual" de apoio à Ucrânia, que deverá rondar os 107 mil milhões de dólares (cerca de 100 mil milhões de euros). Mas o custo real da defesa das fronteiras de leste europeias deverá ser ainda superior. Também o Reino Unido anunciou que vai aumentar as despesas com a Defesa para 2,5% do PIB até ao final da década, elevando para os 101 mil milhões de euros o orçamento militar.

A guerra na Ucrânia e o conflito no Médio Oriente são os focos no mundo que mais têm merecido a atenção internacional, mas também a China está a aumentar os seus gastos militares e a intensificar a cooperação com o Kremlin. As autoridades de segurança dizem que, para acompanhar o ritmo, os EUA e os seus aliados poderão ter de elevar os seus orçamentos de defesa até aos níveis da Guerra Fria, o que consumiria até 4% do Produto Interno Bruto de vários países. Se os EUA e o G7 o fizessem, esse esforço equivaleria a cerca de nove mil milhões de euros em recursos militares adicionais na próxima década, de acordo com análise da “Bloomberg”. O mercado global de defesa está em evolução, garante ao Expresso Mark Cancian, antigo conselheiro do Departamento de Defesa norte-americano e hoje investigador do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, um think tank em Washington. “As vendas da Rússia diminuíram, por causa das sanções. As vendas da China aumentaram nos últimos anos, à medida que os seus equipamentos aumentaram a sua qualidade. A Turquia, a Coreia do Sul e o Brasil tornaram-se grandes produtores de armas.

Abhijit Apsingikar vê a França a subir na hierarquia, podendo emergir como o terceiro maior exportador de material de defesa, com um potencial valor líquido de exportação de 29,1 mil milhões de dólares. “O mercado global de defesa também viu a Coreia do Sul emergir como um dos dez maiores exportadores de defesa, avaliando-se essas exportações em 11,3 mil milhões de dólares. Com outros países, como a Índia, o Japão e até mesmo a Turquia, a liberalizar os controlos de exportação e a procurar ativamente oportunidades de mercado, o valor das suas exportações de defesa também poderá registar um aumento significativo nos próximos anos.”

Fonte: Expresso, 26 de abril de 2024

Macron duvida que escudo antimíssil europeu afaste ameaça russa e sugere “dissuasão nuclear”

O Presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou hoje ter dúvidas de que um “escudo antimíssil” europeu ofereça “proteção total” contra a Rússia, apelando a reflexão estratégica na Europa que inclua “dissuasão nuclear”

A Europa é “o continente que pode ser atingido amanhã por mísseis” da Rússia, que “está a tornar-se novamente uma potência desinibida”, disse Macron aos jornalistas à margem de uma visita a Estrasburgo.

“O debate levantado pelos alemães, especialmente porque não têm um sistema de dissuasão nuclear, é legítimo”, afirmou Macron, acrescentando que não tem “a certeza de que exista qualquer tipo de escudo antimíssil que proteja totalmente contra os mísseis russos ou que os dissuada”.

De acordo com o Presidente francês, a solução poderá ser “um pacote”: “termos nós próprios lançamentos de [mísseis de] longo alcance para dissuadir”, “ter escudos, cúpulas”, como propõe a Alemanha, “e integrar a questão da dissuasão [nuclear] nesta reflexão”.

Para Macron, é necessário fazer uma “reflexão estratégica” e “clarificar o conceito” antes de analisar as “capacidades” de armamento e, neste aspeto, existe “uma ligeira diferença” em relação à abordagem alemã.

No seu longo discurso sobre a Europa, proferido na quinta-feira na Universidade de Sorbonne, em Paris, o chefe de Estado francês anunciou a sua intenção de iniciar discussões com os seus parceiros europeus para construir um “conceito estratégico” para uma “defesa europeia credível”, em que levantou a hipótese da Europa precisar de um escudo europeu de defesa antimíssil.

“Será isso (escudo de defesa antimíssil) suficiente para fazer face aos mísseis russos?”, afirmou Emmanuel Macron.

A Rússia, adiantou, revela ser cada vez mais agressiva e dispõe de “capacidades balísticas (…) cujo alcance e tecnologia se transformaram, de armas nucleares e capacidades crescentes” pelo que devem ser tomadas medidas: “é evidente que temos de construir este conceito estratégico de uma defesa europeia credível para nós próprios”.

O objetivo é que a Europa, que o chefe de Estado francês acredita ser “mortal”, seja capaz de se defender, “com os seus aliados quando estes estiverem prontos para o fazer, e sozinho se necessário”. A dissuasão nuclear da França é “um elemento essencial na defesa do continente europeu”, adiantou.

A Alemanha lançou a iniciativa de escudo antimíssil europeu “Euro Sky Shield” em outubro de 2022, ao qual Paris se opôs, juntamente com a Itália e a Polónia.

Até ao momento, Berlim já reuniu uma vintena de outros países europeus em torno desta iniciativa, que beneficiará de tecnologias norte-americanas, israelitas e alemãs, mas não terá qualquer equipamento de fabrico francês.

No discurso da Sorbonne, o Presidente francês afirmou ainda que os europeus não podem contar apenas com o apoio dos Estados Unidos para a sua defesa, porque para Washington “não esta é a prioridade”. Sem chegar ao ponto de pedir a criação de um exército europeu, apelou a uma “intimidade estratégica” no domínio militar entre os Estados-membros da UE.

Além disso, Macron explicou que é necessário “aumentar as despesas com a defesa”, sugerindo um empréstimo europeu para financiar o esforço de defesa, para além de aplicar “a preferência europeia na compra de equipamento militar”, bem como acelerar a integração dos exércitos face a ameaças como a Rússia, com a qual tem havido um recente aumento de tensões pelo apoio prestado pela França à Ucrânia.

A França é o único país da União Europeia que possui armas nucleares. Em janeiro, durante uma visita à Suécia, Emmanuel Macron reafirmou que o seu país tem “uma responsabilidade especial” a este respeito, especialmente porque os “interesses vitais” franceses que podem ser defendidos por esta dissuasão nuclear “são, em parte, essencialmente europeus”.

Fonte: O Jornal Económico, 26 de abril de 2024 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Fact Check. Entrevista de João Baião a Pedro Andersson interrompida pelo Banco de Portugal?

Zelensky cobra fim de “rumores” em meio à especulação sobre saída do ministro da Defesa