Da língua para o linguado e depois o resto – Morangos com açúcar (2023)
Mafalda Peres, Cíntia Semedo
Tomás Taborda, António Van Zeller
Em tempos findos, as séries de TV, sobretudo as infantojuvenis, assumiam-se como instrumentos educativos, cuidando da língua portuguesa e do falar corretamente. Os argumentistas apuravam-se nessa tarefa gramático-lexical. As alterações demográficas atiraram o português falado ou escrito para o caixote do lixo da História, aquela que tem lado certo. E falar ou escrever português correto já não faz sentido nenhum, porque parte significativa da população aprende no berço outras línguas.
Olívia Campelo (Madalena Aragão): “O que estás a fazer?”
Santiago Matoso (Rui Pedro Silva): “Tou a deitar fora a última grama que tenho.”
A outra função das séries de TV, de alicerce da estrutura social, divulgando os virtuosos valores, os bons costumes sociais e os comportamentos conformes, mantém-se intacta e no lado certo da História.
O regresso da série “Morangos com açúcar” em 2023 foi concebido nestes saudáveis novos ares. O português é mandado para a Cartilha Maternal de João de Deus, da qual nunca devia ter saído e os comportamentos e papéis sociais, modelados pelo espírito científico, dominam e iluminam.
Olívia (Madalena Aragão): “Tu e a Pipa andam, não andam?”
Luana (Cíntia Semedo): Damos assim tanta bandeira?”
Olívia: “Eu sabia! Eu sabia. Porque é que não assumem, Luana?”
Harry (Tomás Taborda): “Não tamos a dar muita cana?”
Zé Maria (António Van Zeller): “Mas qual é que é o mal?”
A série esmera-se para vencer os estereótipos das pessoas racializadas.
Um preto com caparro, na norma antiga, seria o porteiro da
escola ou, com muito boa vontade, o professor de Ginástica. Um tipo porreiro, mas pouco esperto.
O professor Joel (Ricardo Monteiro) é professor de Matemática. Nem mais nem menos, uma disciplina para crânios.
Emprega-se a linguagem neutra, sem a gangrena do é menino ou é menina. Sem a canga do rapaz ou da rapariga.
(O ator do anúncio da Telecel, agora atriz, Maria João Vaz): “Uau, pessoas, espetacular!”
O inevitável trio que conduz à descoberta da sexualidade, que, nos tempos correntes, quer dizer homossexualidade.
Beatriz Frazão, Tomás Taborda, António van Zeller
(Kika tenta atrair os rapazes para os seus encantos e doçuras femininos, mas Harry e Zé Maria descobrem alternativa ainda mais gostosa e culturalmente do lado certo da História e ela fica a ver navios)
Pai do Zé Maria (Pedro Almendra): “Vai acampar?”
Zé Maria: “Não, vou viver com o meu namorado.”
Joana Manuel (mãe do Zé Maria).
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