Luís Montenegro não mentiu. Fez pior. E já não é a primeira vez
“A
desinformação e as fake news são um dos maiores desafios deste tempo. Elas
afetam a credibilidade das instituições, a confiança dos cidadãos, a
participação cívica, a coesão social e a segurança nacional. São uma ameaça à
democracia e aos valores que a sustentam. É importante defender a verdade, a
transparência, a liberdade, a pluralidade e a responsabilidade no espaço
público. É imperioso responder aos males da desinformação e das fake
news, proteger os direitos e deveres dos cidadãos e dos meios de comunicação e
promover a educação e a literacia mediática”
programa de governo
Os partidos que formam a Aliança Democrática (AD) não
mentiram no programa eleitoral quando prometeram uma descida do IRS em 2024. O
Governo não mentiu no seu programa quando manteve a promessa de descer o IRS em
2024. Luís Montenegro não mentiu na Assembleia da República quando anunciou que
a primeira medida do Governo seria uma descida do IRS. Em todos os momentos
estava escrito, preto no branco, que a descida seria em relação a 2023.
Ainda assim, em todos os momentos, o Governo iludiu,
ludibriou, fez acreditar e deixou que se acreditasse que os portugueses iriam
sentir uma enorme descida do IRS este ano. Mesmo sabendo que essa descida era apenas imaginária.
“Aprovaremos
na próxima semana uma proposta de lei que altera o artigo 68.º do Código do
Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares, introduzindo uma descida das
taxas de IRS sobre os rendimentos até ao oitavo escalão, que vai perfazer uma
diminuição global de cerca de 1500 milhões de euros nos impostos do trabalho
dos portugueses face ao ano passado, especialmente sentida na classe média”
Luís Montenegro, primeiro-ministro
Luís Montenegro sabe perfeitamente que da frase que leu no
Parlamento apenas uma certeza iria chegar aos ouvidos dos portugueses: iriam
beneficiar de uma enorme redução do IRS em 2024. E sabe igualmente que tal não
corresponde à verdade.
Basta interrogarmo-nos: se o Governo decidisse anunciar uma
descida do IRS em 200 milhões de euros face ao imposto que está em vigor, este
anúncio seria a principal medida do discurso inaugural de Luís Montenegro no
Parlamento? É, no mínimo, duvidoso. Basta interrogarmo-nos: alguma vez um
Governo anunciou uma alteração fiscal, não em relação ao Código em vigor, mas
ao anterior? Duvido que alguma vez tenha acontecido.
O Governo não mentiu. Fez pior. Fez o que fazem os
propagadores de fake news. Usou meias palavras. Deixou que a dúvida se
instalasse. Optou por não esclarecer quando lhe perguntaram. Manteve a
narrativa mesmo depois de ser desmascarado.
Este poderia ser um episódio isolado. Mas infelizmente não
é. Na primeira vez em que Luís Montenegro usou esta forma de comunicar ainda
era apenas o líder do PSD.
Em novembro do ano passado, no congresso dos
sociais-democratas, o então
líder da oposição garantiu que não iria cortar pensões, que as iria aumentar de
acordo com a lei e anunciou que, se viesse a ser primeiro-ministro, iria, de
forma gradual e até ao final da legislatura, “colocar a referência do
Complemento Solidário para Idosos (CSI) nos 820 euros”. Até aqui tudo
normal. Mas Montenegro disse mais. Disse que esse aumento do CSI traduzia que,
“até 2028, o rendimento mínimo garantido dos pensionistas portugueses seria de
820 euros”. É mentira? Não. Mas, mais uma vez, Montenegro sabia ou tinha a obrigação
de saber que estava a criar a dúvida razoável de que em 2028 todas as pensões
seriam, no mínimo, de 820 euros. Mesmo sabendo que não seria assim. Mais uma
vez jogou com a ansiedade, com as expectativas. Informou? Não. Desinformou.
E, a menos que esteja a mentir, Luís Montenegro sabe também
que a “desinformação e as fake news são um dos maiores desafios deste tempo.
Afetam a credibilidade das instituições, a confiança dos cidadãos, a
participação cívica, a coesão social e a segurança nacional. São uma ameaça à
democracia e aos valores que a sustentam”. Afinal, este mesmo parágrafo faz
parte do seu programa de governo.
Fonte: TVI Notícias, 15 de abril de 2024
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