Milei minimiza crise orçamental universitária, mas já se fala de emergência
Morangos com Açúcar (2023) - Vicente Gil, Madalena Aragão
O libertário presidente argentino, Javier Milei, está a
procurar minimizar a crise orçamental nas universidades públicas,
considerando-a algo normal, em polémica com os opositores de esquerda,
influentes nos espaços universitários.
Mas na elitista Universidade de Buenos Aires (UBA) as paredes estão a ficar negras e
os elevadores e o ar condicionado deixaram de funcionar em alguns edifícios
na semana passada.
Os professores dão aulas a turmas com 200 pessoas sem
microfones ou projetores, por a universidade pública – entre as melhores da
América Latina – não conseguir
pagar a conta da eletricidade.
“Esta é uma crise impensável”, disse Valeria Anón, uma
professora de Literatura, com 50 anos, em manifestação contra as medidas de
austeridade de Milei, realizada na terça-feira na baixa da capital Buenos
Aires, com a participação de milhares de pessoas. “Sinto-me muito triste pelos
meus estudantes e por mim mesma”, acrescentou.
Na sua política de alcançar um excedente orçamental, Milei
está a cortar despesas de forma geral e transversal, encerrando ministérios,
cortando financiamento de centros culturais, despedindo funcionários públicos e
eliminando subsídios.
Na segunda-feira, Milei disse que a Argentina tinha alcançado o seu primeiro excedente
trimestral desde 2008.
“Estamos a fazer possível o impossível, mesmo com a maioria
dos políticos, dos sindicatos, dos meios de comunicação social e da maioria dos
agentes económicos contra nós”, disse, durante uma intervenção televisiva.
Uma multidão de estudantes e professores universitários
saíram na terça-feira da UBA em protesto, juntando-se a milhares de outros
manifestantes no centro da capital. Algumas escolas privadas encerraram em
solidariedade.
Os protestos estenderam-se a outras cidades argentinas.
Sinal da batalha ideológica mais generalizada que se trava,
os sindicalistas e os apoiantes dos partidos de esquerda também encheram as
ruas.
Desde julho, quando começa o ano orçamental na Argentina, a
UBA, que tem 200 anos, apenas recebeu 8,9% das verbas que lhe foram
orçamentadas, enquanto se confronta com uma inflação anual de 290%.
A universidade já disse que está com muitas dificuldades em
conseguir manter as luzes acesas e garantir serviços básicos nos hospitais
universitários, que reduziram a sua capacidade.
Fonte: CNN Portugal, 24 de abril de 2024
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