Biden opõe-se ao "reconhecimento unilateral" de um Estado palestiniano

No passado fim de semana, o presidente norte-americano disse que apoiava uma solução de dois estados, classificando com “a única solução onde duas pessoas vivem em paz, segurança e dignidade”.

O presidente norte-americano, Joe Biden, opõe-se ao reconhecimento unilateral de um Estado palestiniano, indicou esta quarta-feira fonte oficial da Casa Branca.

"[Joe Biden] acredita que um Estado palestiniano deve surgir através de negociações diretas entre as partes e não através de um reconhecimento unilateral", afirmou Adrienne Watson, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional norte-americano.

"O presidente é um forte apoiante de uma solução de dois Estados e tem-no sido ao longo da sua carreira. Acredita que um Estado palestiniano deve ser criado através de negociações diretas entre as partes e não através de um reconhecimento unilateral", afirmou em reação à decisão de três países europeus de reconhecerem o Estado da Palestina.

A Espanha, a Irlanda e a Noruega anunciaram esta quarta-feira que vão reconhecer o Estado da Palestina a 28 de maio, o que levou Israel a chamar os seus embaixadores nestes três países para consultas.

Os anúncios destes três países, aplaudidos pela Arábia Saudita, Jordânia e Egito, elevam para 146 o número de Estados-membros das Nações Unidas que reconhecem o Estado da Palestina.

Malta e a Eslovénia também afirmaram que poderiam dar este passo em breve, enquanto Israel criticou todas estas decisões e afirmou que terão um impacto negativo na região.

Por outro lado, o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, da extrema-direita, reiterou que Israel não permitirá a declaração da Palestina como Estado.

Fonte: SIC Notícias, 22 de maio de 2024

E não haja nenhuma ilusão, os americanos também não. Este forte apoiante de uma solução de dois Estados ao longo da sua carreira nada fez, nem podia, e agora na sua curta carreira, também não.

O objetivo sionista, desde o início, era ter a maior parte possível da Palestina com o menor número possível de palestinianos. Não existe uma diferença efetiva entre o que hoje chamamos sionismo de esquerda e de direita. A única diferença é que a direita diz mais o que pensa, pois está sempre a dizer-nos que quer tirar mais e mais terras aos palestinianos. Não se importam se não é o momento histórico certo ou se têm recursos suficientes para o fazer ou se a atmosfera internacional não é boa. Já a esquerda, a esquerda pragmática, diz que não pode estar sempre a tirar terras. Por isso, por exemplo, é preciso procurar bons momentos históricos. Uma parte da esquerda diz que é suficiente ter 90% da Palestina histórica para os israelitas, com os últimos 10% para os palestinianos, a quem também seria negada a cidadania israelita.

Esta é a visão da solução dos dois Estados na perspetiva israelita. Esta solução nasceu como uma ideia da esquerda sionista. Disseram para dar um pouco da Cisjordânia e da Faixa de Gaza aos palestinianos e deixá-los chamar-lhe um Estado, apesar de nem sequer estarem ligados. O que eles fizeram foi desenhar um mapa do Estado palestiniano que apenas mostra onde os palestinianos vivem agora, nem mais um centímetro. Se olharem para o mapa da Cisjordânia, podem vê-lo, Nablus é Nablus, não há subúrbios de Nablus. De acordo com Israel, se não houver palestinianos a viver lá, é Israel, independentemente da razão pela qual não estão lá. No entanto, se houver um colonato, será necessário um parâmetro para o proteger. Esta partição é algo que a esquerda sionista já tinha concebido em 1967. Os palestinianos podem ficar onde estão, mas não podem ter mais espaço.

Então esta é a ideia desenvolvida com os acordos de Oslo em 1993, que dividiram a Cisjordânia em três áreas (A, B e C)?

Sim, está correto. Mas esta ideia foi desenvolvida, como já disse, em 1967 pelos sionistas de esquerda, muito antes dos acordos de Oslo. O grande arquiteto de tudo isto foi o ministro sionista do Trabalho, Yagel Alon. Em 1967, Alon não falava especificamente das zonas A, B e C, mas dizia que, se queremos uma solução, temos de dividir a Cisjordânia em duas zonas, uma sob controlo israelita e outra sob controlo palestiniano. Disse que não se importava se a zona palestiniana viesse um dia a chamar-se Estado - não tinha qualquer problema com isso. O problema será quem controla as zonas estratégicas e os recursos da Cisjordânia. Israel tem de controlar o ar e o rio Jordão e os palestinianos não podem ter um exército que os impeça de o fazer. Todo o conceito de Oslo, na minha opinião, foi verdadeiramente criado pelos israelitas em 1967.

Na Cisjordânia ocupada, a apropriação de terras é uma ocorrência quotidiana, especialmente, mas não só, na zona C. Vê um paralelo atual ou futuro com os bantustões sul-africanos e as reservas dos nativos americanos a este ritmo?

Sim. Penso que já falei sobre este assunto, mas vou repeti-lo com um enfoque diferente.

Os estrategas israelitas compreendem que não serão capazes de se livrar fisicamente de todos os palestinianos, pois eles ficarão onde estão. Por isso, em vez de se livrarem deles, estão a colocá-los em pequenas prisões, para que não sintam que fazem parte de Israel. Traz-se mais judeus, coloniza-se e, para construir casas para eles, é preciso expropriar terras palestinianas, porque não há terras judaicas para expropriar, pelo que se demoliram casas palestinianas. Em segundo lugar, constrói-se um muro de separação entre o espaço judeu e o espaço palestiniano e expropria-se mais terra, não só para os colonatos, mas também para criar uma zona tampão, de modo a que judeus e árabes não possam viver juntos. Mais importante ainda, também se apoderam das melhores terras - onde há recursos hídricos e a qualidade da terra é boa. E tiram a boa água dos palestinianos e colocam-na nas mãos dos colonos, e certificam-se de que as águas residuais correm para terras palestinianas. Portanto, é ainda mais cruel - não só vos tiro a água boa, como também vos vendo a água má pelo dobro do preço, o que é simplesmente terrível. E, como já disse, sim, creio que existe um paralelo claro entre a situação atual na Palestina e os tristes exemplos históricos dos nativos americanos e do apartheid sul-africano.

Ilan Pappé

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