Alvo de ameaças de morte e insultos racistas, o primeiro deputado alemão nascido em África vai deixar o parlamento
Alfred
Hitchcock Presents / Servant Problem - Grandon Rhodes, Alice Frost
Karamba
Diaby, deputado desde 2013, disse sempre que queria continuar na política
apesar do assédio recebido. Diaby
é socialista, tal como o chanceler Olaf Scholz, e acusa a AfD
(partido de extrema-direita em ascensão) de tornar o ambiente político mais
violento
Em 2013, Karamba Diaby fez
história ao tornar-se o primeiro cidadão alemão nascido
em África a ser eleito para o parlamento do país. Esta semana, Diaby
anunciou que não será candidato nas eleições federais do próximo ano, depois de
um aumento das mensagens de ódio e ameaças de morte, que o levaram a
reconsiderar a sua presença na política.
Diaby. de 62, eleito pelos sociais-democratas do SPD (o
partido de Olaf Scholz), explicou ao site Politico que a sua decisão se
deve a uma maior vontade em passar mais tempo com a família e em dar lugar a
políticos mais jovens. Apesar
de apontar que as ameaças e insultos de que tem sido alvo “não são as
principais razões” para a sua saída, a imprensa
alemã considera que não deixaram de
ter feito parte da tomada de decisão.
O deputado apontou o dedo ao Alternative für Deutschland
(AfD), o partido nacionalista que cresceu substancialmente nas últimas eleições
europeias na Alemanha, e cujos membros já foram até denunciados por outros
líderes de extrema-direita, como a francesa Marine Le Pen.
“Desde 2017 que o tom do parlamento alemão tem-se tornado
mais duro. Ouvimos discursos agressivos de colegas da AfD. Ouvimos conteúdos
depreciativos e ofensivos no seu trabalho. Isto é uma situação completamente
nova comparativamente ao período entre 2013 e 2017. Este estilo de discurso
agressivo é propício à violência nas ruas”, alertou Diaby.
O anúncio surge depois de semanas de mensagens violentas
endereçadas a Diaby e aos seus assessores parlamentares. Karamba Diaby entrou
no Bundestag em 2013, ao mesmo tempo que Charles Huber: foram os primeiros deputados negros do parlamento
da Alemanha.
Diaby, doutorado em Química, nasceu no Senegal e mudou-se para a Alemanha de Leste em 1985,
antes da queda do muro de Berlim. Foi eleito pelo círculo eleitoral de Halle,
no estado da Saxónia-Anhalt.
O trabalho parlamentar tornou-se, nos últimos anos, cada vez
mais difíceis, segundo o próprio. Em entrevistas passadas, Karamba Diaby
garantiu que não iria deixar que as ameaças o dissuadissem de cumprir as suas
funções. Mas, nas últimas semanas, o seu escritório em Halle foi incendiado,
balas foram disparadas contra as suas janelas, e funcionários receberam ameaças
de morte para deixarem de trabalhar para Diaby.
“Isto ultrapassou os limites. O ódio que o AfD cria todos os
dias com as suas narrativas
misantrópicas é
refletido na prática em violência física e psicológica. Isto põe em risco a
coesão da nossa sociedade. Não podemos simplesmente aceitar isto”, frisou o
social-democrata alemão.
Segundo o The Guardian, Diaby disse aos colegas do
SPD que iria continuar ativo no partido, especialmente ao longo dos próximos 15
meses, até à eleição de 2025. “Enfrentamos grandes desafios e muito trabalho.
Ao mesmo tempo, estou ansioso por ter mais tempo para a minha família, os meus
amigos e a minha horta”,
disse.
Fonte: Expresso, 5 de julho de 2024
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