Taylor está ao lado de Kamala. Mas o que pensam as "swifties" disso? "Ela quer estar do lado certo da História"
Wisting -
Thea Green Lundberg, Mads Sjøgård Pettersen
O termo
“swiftie” já surge no dicionário de Oxford como “fã entusiasta da cantora
Taylor Swift”
Na quarta-feira, era madrugada em Portugal, a cantora
norte-americana, talvez a
maior e certamente mais influente artista mundial do presente,
resolveu declarar, através do Instagram, o apoio à campanha de Kamala Harris —
que Swift descreve como uma “guerreira” que defende os mesmos “direitos e
causas” da cantora —, isto logo após o debate entre a candidata democrata e o
republicano Donald Trump.
Sem surpresa, a publicação atingiu um milhão de “gostos” em breves 13 minutos,
estando hoje acima da marca dos 10 milhões. E sem surpresa, a posição de Taylor
Swift foi pró-democrata, ela que já o havia feito na anterior corrida eleitoral
em favor de Joe Biden.
O que alguns não esperavam foi talvez o timing da tomada
pública de posição — em 2020, fê-lo mais adiante na campanha —, mas pode ter
sido apressado por uma sucessão de eventos que vinham colando Taylor a Trump:
primeiro, uma fotografia na qual a artista abraça Brittany Mahomes, mulher do
jogador de futebol americano Patrick Mahomes, um suposto trumpista; depois, a
utilização da imagem de Taylor, recorrendo à inteligência artificial,
retratando falsamente (em publicações massivamente partilhadas) um apoio a
Trump.
Aliás, no post de Taylor Swift no Instagram, a cantora deixa
antever que foi mesmo este falso apoio que precipitou a posicionamento em favor
de Kamala, escrevendo Taylor que “a forma mais simples de combater a
desinformação é a verdade”.
As “swifties” acreditam que, precipitada ou não pela
desinformação, não foi surpreendente a declaração de Taylor nem tão pouco
imprevista, porque “tudo o que ela faz é muito bem planeado”. Quem o diz é Patrícia Abreu, portuense de 32 anos e uma fã declarada da cantora
desde 2008. “E talvez não houvesse melhor momento do que este. Ela abraçou-se à
Brittany Mahomes, ela até tem uma amiga pró-Trump, mas ela respeita as
ideologias de cada um. No entanto, não se vai deixar arrastar para um jogo
político em que só por ser amiga de alguém tem de ser a favor de Trump. Ela vai
estar sempre do lado oposto [a Trump]”, garante Patrícia.
Opinião idêntica tem Ana Carmo, 30 anos,
igualmente fã de Taylor Swift há mais de uma década. “Ela quer ficar como sempre do lado certo da História —
e Trump nunca será o lado certo. É claro que seria uma questão de tempo até que
ela declarasse apoio à Kamala Harris — como, aliás, já tinha declarado apoio a
Biden na eleição passada. Agora fê-lo mais cedo, não creio que para abafar
qualquer tipo de rumor, mas porque era o tempo certo. Ela não o quis fazer numa
tour, a meio da tour, e escolheu um momento estratégico, após um debate.”
Para Ana Carmo, foi também sem surpresa que, tal como houve
quem apoiasse a posição de Taylor Swift, também houve quem ripostasse.
Na publicação do Instagram, a cantora declara-se “senhora sem filhos e com gatos”,
uma crítica irónica às declarações do candidato a vice de Trump, J.D. Vance,
que cunhou várias figuras do partido democrata, incluindo Kamala Harris, como
um “bando de senhoras sem
filhos e com gatos que têm vidas miseráveis”. Em reação à crítica de
Swift, outra figura influente, Elon
Musk, dono do X e CEO da Tesla, um declarado trumpista — até lhe
terá sido prometido, dizem, um cargo governamental —, atirou: “Está bem,
Taylor… ganhaste… eu faço-te um filho e defendo os teus gatos com a minha
vida”.
A
publicação de Musk é vista por muitos como misógina. “Ele acaba por
representar aquilo que ela [Taylor Swift] tenta combater, que é uma certa
misoginia. Aos olhos de um
homem todo-poderoso ela é só uma miúda,
uma cantora, ‘que não entende nada disto’, de política. Ela ergueu este templo
na carreira dela: o da defesa de ideais, ideais cristãos, do feminismo, da
livre orientação sexual, contra a discriminação, também contra o porte de
armas”, explica Patrícia Abreu.
Mas se hoje é politizada — Kamala é descrita pela cantora
como “líder de mão firme e dotada” que trará ao país “calma e não caos” —, nem
sempre Taylor Swift foi. Patrícia Abreu recorda que num passado recente, em
2016, aquando da vitória de Donald Trump sobre Hillary Clinton, muitas e muitos “swifties” ficaram
desapontados porque
Taylor resolveria não tomar um partido.
“No início da carreira, perguntaram-lhe, numa entrevista na
televisão, se deveria participar na política, ter uma opinião, ao que ela
respondeu que não, que as pessoas só queriam saber de relacionamentos dela e de
letras de canções. Isso, claro está, mudou muito. Em 2016 ela não toma partido
[contra Trump] e houve fãs algo desapontados. O álbum ‘Lover’, de 2019, já
começa a ser um pouco mais politizado, ou a ter referências políticas. Em 2020,
no documentário ‘Americana’ ela
diz ao pai, em lágrimas, que quer que saibam os seus valores políticos.
E surge por essa altura a canção ‘Only The Young’, em que ela diz que os jovens
ditarão o futuro — e é uma canção de cariz político. Ela mudou muito”,
argumenta Patrícia.
Apesar de apoiar Kamala, Ana Carmo sabe que Taylor não quer
dividir um país já de si dividido. “Claro que a Taylor não é contra o
eleitorado republicano, porque haverá sempre quem vote no Partido Republicano,
seja pelas suas políticas, seja pelas suas visões económicas — sobretudo pela
economia. Não acredito que votem no partido por causa de Trump, pelo menos não
a maioria. No entanto, os crimes pelos quais é acusado — e de alguns saiu
impune — ou já foi até condenado não deixam margem para dúvidas de que a Taylor
nunca o apoiaria”, refere.
Na partilha do Instagram, Taylor Swift aconselhou os
“swifties”, nomeadamente os eleitores americanos, a assistirem ao debate
Trump-Kamala e, assim, “fazerem a vossa pesquisa sobre os assuntos em jogo e
sobre as posições que estes candidatos tomam sobre os assuntos que mais vos
interessam”. E apelou ao recenseamento e participação eleitoral a 5 de
novembro.
Por enquanto, e apesar da subida de Kamala Harris nas intenções de voto,
os candidatos continuam próximos do empate técnica. Poderá ser, ou vir a ser,
Taylor um facto de desempate? Ana Carmo diz esperar que não. “Eu gostava que
não, gostava que um artista não tivesse de ser um ponto de viragem, gostava que
as pessoas decidissem em função das políticas, dos programas, do passado, da
realidade. Mas, infelizmente, isso não deve acontecer dessa forma. E é bem
possível que, pela influência que ela tem — e nunca teve tanta como agora —, a
Taylor vá gerar notícias, polémicas até, e isso talvez seja um fator importante
num desempate.” Também Patrícia desejaria que “quando alguém votasse, votasse
pelos seus ideais, que tivesse uma opinião formada, consolidada em relação à
política e às políticas”. No entanto, “feliz ou infelizmente”, está certa de
que “a Taylor é hoje tão grande que deverá mesmo traduzir-se em votos”. “Só não
sei se suficientes para desempatar”, conclui.
Donald Trump parece, por ora, ignorar o apoio da estrela da
pop à adversária democrata. E respondeu, no final do debate, quando questionado
pela publicação de Taylor Swift: “Não faço ideia”.
Fonte: CNN Portugal, 15 de setembro de 2024
Os tempos muito modernos imprimiram nos cérebros de trintonas de que são miúdas. Vivem num mundo de idade estirada. Podem enganar-se à frente do espelho, mas não fintam a biologia, Taylor Swift está a chegar à idade de gravidez geriátrica.
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