Ofensiva russa está a perder força e pode durar apenas "algumas semanas"


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A ofensiva de verão russa está a perder cada vez mais força, com a Ucrânia a conduzir “uma defesa eficaz” que está a fazer com que as conquistas territoriais russas sejam obtidas com “perdas significativas”. Estas perdas, que se estão a acumular, estão a tornar-se cada vez mais difíceis de repor, o que pode travar novos esforços ofensivos russos já nas próximas "semanas", antecipam os analistas do Institute for the Study of War (ISW).

“A Rússia nunca perdeu tantos homens como durante este verão e não está a ser capaz de repor, mesmo prometendo bastante dinheiro para assinar contrato. A conquista de cidades como Vuhledar e a ofensiva em Pokrovsk estão a sair extremamente caras a Moscovo e esta situação não é sustentável”, explica à CNN Portugal o major-general Isidro de Morais Pereira.

Este último esforço ofensivo russo dura há já 12 meses, depois de a contraofensiva ucraniana ter sido incapaz de atingir os seus objetivos no verão de 2023. A Rússia não perdeu tempo e lançou o seu próprio contra-ataque. O primeiro alvo foi a cidade-fortaleza de Avdiivka, na região de Donetsk, que após vários meses de combates foi conquistada. O esforço russo manteve-se ao longo de todo o ano de 2024, com o exército a aplicar os seus recursos em toda a frente.

Este esforço russo produziu alguns ganhos em vários “setores específicos da frente”. De acordo com os analistas ISW, as forças ucranianas estão a conduzir uma defesa eficaz em profundidade ao longo da linha da frente, “infligindo perdas significativas às forças russas enquanto cedem terreno lentamente”. Esta estratégia impede as forças russas de obterem conquistas rápidas no campo de batalha.

“As forças russas não dispõem dos recursos humanos e materiais necessários para continuar a intensificar os esforços ofensivos indefinidamente, e as atuais operações ofensivas russas no leste da Ucrânia culminarão provavelmente nos próximos meses, se não semanas”, escreve o ISW na sua mais recente análise da frente de batalha.

Apesar dos esforços redobrados, as alterações na linha da frente não são tão significativas quanto a Rússia gostaria. Em outubro de 2023, a Rússia ocupava 111,1 mil quilómetros quadrados de território ucraniano. Um ano depois, as forças russas conquistaram mais 1600 quilómetros quadrados, ocupando agora uma área 112,7 mil quilómetros quadrados.

Mas em agosto veio um revés. A ofensiva ucraniana na região de Kursk apanhou as forças russas de surpresa e fez com que a Rússia perdesse mais de mil quilómetros quadrados do seu território.

Feitas as contas, nos últimos 12 meses de combates, a Rússia conseguiu conquistar “apenas” mais 600 quilómetros quadrados do que a Ucrânia, o equivalente à área do município de Ferreira do Alentejo. Esta conquista corresponde a aproximadamente 0,1% do território ucraniano.

Ainda assim, a Ucrânia continua a ter problemas sérios por resolver. Particularmente no que toca a falta de militares para repor unidades que defendem a linha da frente há vários meses. “As forças ucranianas enfrentam sérios desafios e limitações operacionais, que estão a dar às forças russas oportunidades de obter ganhos taticamente significativos”, destaca o ISW.

A Ucrânia tem sido capaz de equilibrar o campo de batalha nos últimos meses, através de uma campanha de bombardeamentos a depósitos de munições em território russo. Segundo vários bloggers militares ucranianos, esta estratégia tem levado a uma escassez de munições de artilharia na linha da frente russa.

Por esse motivo, Zelensky tem redobrado os apelos aos seus aliados para que sejam levantadas as restrições acerca da utilização de armas ocidentais de longo alcance para atingir alvos no interior do território russo.

O próprio vice-ministro da Defesa ucraniano Ivan Havryliuk admite que o campo de batalha está a ficar mais equilibrado neste campo, em comparação com o início de 2024. "Atualmente, a proporção de uso de munições de artilharia no campo de batalha diminuiu em comparação ao inverno de 2024, quando a proporção era de 1 [Ucrânia] para 8 [Rússia]. Atualmente, está em 1 [Ucrânia] para 3 [Rússia]", sublinhou Havryliuk.

Fonte: CNN Portugal, 4 de outubro de 2024

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