Moçambique: Professores coagidos a dar respostas nos exames
Johnny Oro
(1966) - Mark Damon, Valeria Fabrizi, Andrea Aureli
Os professores em Moçambique reivindicam há vários meses o
pagamento de horas extraordinárias, reclamando direitos de uma dívida que se
arrasta há pelo menos dois anos e que o ministério da Educação se comprometeu a
saldar.
Isac Marrengula, presidente da Associação Nacional dos
Professores Moçambicanos (ANAPRO), garante que apesar dos professores trabalharem para além das suas cargas
horárias normais, ainda não receberam a respetiva compensação
financeira.
Devido à falha do compromisso por parte do Governo, alguns
professores decidiram
boicotar os exames do 12.º ano, faltando à vigilância das provas.
"É uma questão de luta, uma questão de exigir os direitos dos professores.
Nós tivemos, na verdade, a confirmação da decisão dos professores. Tivemos 13
escolas que paralisaram o processo todo", adiantou Isac Marrengula em
entrevista à DW.
Para o presidente da ANAPRO, que diz que a não comparência
dos professores nos exames "não foi uma sabotagem", esta é uma forma
de luta como outra qualquer.
Professores obrigados a darem
respostas aos alunos
Segundo a ANAPRO, alguns professores foram ainda obrigados a
manter-se nas salas de aula para vigiar os exames e a dar as respostas das
provas aos alunos.
"Sim, temos conhecimento disso. Foram obrigados a
controlar os exames e ajudaram os alunos, mostrando-lhes as respostas",
confirmou.
A ANAPRO avança ainda que também houve professores que foram subornados para ajudarem os
alunos, no sentido de não haver muitas reprovações. Em algumas
escolas, foram os próprios seguranças
dos estabelecimentos de ensino que vigiaram os exames, com o mesmo objetivo.
À pergunta sobre se essa forma de protesto poderia ter
impacto na qualidade de ensino em Moçambique, Isac Marrengula responde: "O
nosso exame já deixou de ser um exame credível. Não é um exame, é um circo de
palhaçada".
"A situação dos professores contribui para a
precariedade do próprio sistema nacional de educação", acrescentou.
Isac Marrengula afirma ainda que o Governo ainda não mostrou
interesse em resolver os problemas dos professores. "O Governo não tem
nenhuma resposta e não nos diz nada, mostrando falta de interesse pela
Educação", concluiu.
Fonte: DW, 3 de dezembro de 2024
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