Países europeus mais endividados “deveriam aprender com o que Portugal fez”
Para
Isabelle Mateos y Lago, economista-chefe do BNP Paribas, a redução do
endividamento vai continuar na Europa. Lentamente, mas irá continuar
Os países europeus mais endividados deveriam inspirar-se no
exemplo de Portugal na redução dos seus défices e dívidas, considerou Isabelle
Mateos y Lago, economista-chefe do BNP Paribas, em entrevista ao Expresso.
Portugal, o 6.º mais
endividado dos 27, deixou o clube dos 100% no ano passado, reduzindo
o seu endividamento de 111,2%, em 2022, para os 97,9% do produto interno bruto
(PIB). A economista-chefe do banco francês não poupa
aplausos: os países mais endividados “deveriam olhar para Portugal e
aprender com o que Portugal fez, porque conseguiu reduzir o rácio da dívida
face ao PIB, diria que de forma
espetacular, nos últimos cinco anos”.
Um rácio ainda assim significativamente acima da média da
zona euro de 87,4% e da União Europeia, de 80,8%, segundo dados do Eurostat,
mas em trajetória descendente, ao contrário do que sucede noutras economias.
Para a especialista, é imperativo que os países europeus com maiores rácios de
dívida medida em percentagem do PIB - o indicador que conta para Bruxelas -
reduzam os seus níveis de endividamento, de forma a precaverem-se face a
eventuais choques que provoquem o pânico nos mercados. Em 2023, Grécia, Itália, França, Espanha
e Bélgica superavam todos os 100% do PIB.
Mateos y Lago acredita que quem manda está ciente dessa
necessidade: “Estes países compreendem que precisam de reduzir, como no caso de
França, tanto a
dívida como o défice. No caso de Itália, estão a ter um desempenho razoável no défice, mas
precisam de fazer mais para reduzir a dívida. E acredito que vá acontecer. Irá
acontecer muito devagar, muitos dirão que acontecerá demasiado devagar, mas a
necessidade de reduzir é reconhecida”.
No caso de os mercados tornarem insustentáveis os custos de financiamento dos países
mais endividados, Isabelle Mateos y Lago admite que o Banco Central
Europeu (BCE) possa vir a intervir para garantir a estabilidade. “O BCE tem as
ferramentas para tal e sempre disseram que irão responder se a turbulência no
mercado não se justificar nos chamados ‘fundamentais’", ou seja,
indicadores estruturais como o crescimento do PIB, inflação, despesa e dívida,
entre outros.
"Agora, se num país - sem dizer nomes, mas imaginemos
um dos que têm dívidas altas - um
governo resolve implementar políticas alucinadas e se o mercado obrigacionista
começar a desvalorizar muito rapidamente, o BCE não fará nada”, avisa.
Mas não será esta uma decisão política, e não técnica, a
tomar pelo BCE? Quem decide se determinadas políticas são ou não “alucinadas”?
“Não será uma decisão política", vinca a especialista, com base na
avaliação da sustentabilidade das contas públicas com base nas trajetórias de
indicadores como a dívida ou a despesa. "Será uma avaliação sobre se as políticas que estão a ser
implementadas são sensatas e se o mercado está a reagir de forma
desproporcional. Se se trata, de facto, de um governo alucinado e se a reação
dos mercados for sensata, assim não será necessária qualquer intervenção do BCE.”
Fonte: Expresso, 3 de dezembro de 2024
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