Guerra comercial com pinguins? Tarifas aduaneiras de Trump atingem alvos remotos em todo o mundo
Perry Mason
(1957-1966) – Kurt Kreuger, Chris Alcaide, Theodore Marcuse
O presidente dos EUA, Donald Trump, lançou um imposto de
base de 10% sobre as importações de todos os países do mundo, incluindo um
grupo de ilhas inóspitas habitadas por pinguins.
Na lista de 185 locais abrangidos pelas tarifas de Trump, anunciadas no que chamou de "Dia da Libertação", estão as ilhas Heard e McDonald, um território externo da Austrália, e Jan Mayen, um território norueguês no Oceano Ártico. Não vivem seres humanos nos dois territórios.
As ilhas
Heard e McDonald, um conjunto de ilhas perto da Antártida, são dos
locais mais remotos da Terra, acessíveis apenas através de uma viagem de barco
de duas semanas a partir da Austrália e habitadas
principalmente por pinguins e focas. As visitas a estes locais estão
restringidas a trabalhos de preservação ecológica e requerem uma autorização.
Apesar de não terem moradores humanos e, por isso, não terem
economia própria, Washington vai aplicar-lhes tarifas de 10%, tal como à
Austrália continental.
São um dos vários territórios externos da Austrália que
foram objeto de tarifas específicas, juntamente com as ilhas Cocos (Keeling),
a ilha Christmas e a ilha Norfolk.
Esta última, uma ilha minúscula com uma população de 2188
habitantes, vai ter uma tarifa de 29%, superior à aplicada às importações
provenientes da Austrália propriamente dita.
O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, disse não
ter a certeza da razão pela qual a Ilha Norfolk foi diferenciada.
"Não tenho a certeza se
a Ilha Norfolk, no que lhe diz respeito, é um concorrente comercial da
gigantesca economia dos Estados Unidos", disse Albanese aos
meios de comunicação australianos, acrescentando que a medida "exemplifica
o facto de que nenhum lugar na Terra está isento".
Apesar de os dados do Observatório de Complexidade Económica
mostraram que em 2023, a Ilha Norfolk exportou
655 000 dólares (591 000 euros) para os Estados Unidos, incluindo
413 000 dólares (373 000 euros) em calçado de couro, um porta-voz do
administrador da Ilha Norfolk disse à SBS News da Austrália que
"não tinha exportações conhecidas" para os Estados Unidos.
"O turismo é o principal setor da ilha de Norfolk e o
principal motor da atividade económica", disse o porta-voz. "Ficámos
a coçar a cabeça em relação a isto".
Desabitada
Além das ilhas Heard e McDonald, a guerra comercial de Trump
atingiu o território ártico desabitado de Jan Mayen, que foi abrangido com uma tarifa de
10%, bem como o arquipélago de Svalbard.
A ilha vulcânica faz parte do Reino da Noruega e não tem
população permanente. Os únicos habitantes são
18 pessoas que trabalham para o
exército norueguês e para o Instituto Meteorológico do país durante o inverno e
outras 35 que chegam durante os meses de verão.
Esta ilha faz parte do arquipélago de Svalbard, também sai
afetado pelas tarifas de 10% impostas por Trump. Este arquipélago está
localizado entre o Ártico e o Oceano Atlântico e tem uma população de pouco
menos de 3000 habitantes. Outrora um centro mineiro, agora a economia consiste
principalmente no turismo.
O arquipélago de Svarland foi visado juntamente com a
Noruega continental, que está sujeita a uma tarifa de 15%. O primeiro-ministro
Johas Gahr Støre descreveu a medida como uma "má notícia" numa
entrevista ao canal público NRK.
Segundo a emissora, cerca de 8%
das exportações da Noruega continental são enviadas para os Estados Unidos,
sendo o terceiro maior mercado de exportação do país.
O Território
Britânico do Oceano Índico, povoado apenas por cerca de 3000 militares
britânicos e norte-americanos e outras pessoas que trabalham na base militar Diego Garcia, propriedade
conjunta do Reino Unido e dos EUA, também é afetado pelos impostos de 10%
propostos por Trump.
Também a Reunião, um território ultramarino francês no
Oceano Índico, foi afetada por uma tarifa de 37%, apesar de ter uma população
de cerca de 896 175 habitantes.
Fonte: Euronews, 3 de abril de 2025
Administração dos EUA impõe tarifas até a ilha que
alberga ursos e deixa atónita antiga colónia penal
Na
quarta-feira, o Presidente americano, Donald Trump, anunciou a imposição de uma
tarifa de base global de 10% a todos os países que considera estarem a criar
barreiras comerciais aos produtos norte-americanos, acrescentando uma tarifa
adicional para aqueles que considera serem os “piores infratores”
A administração norte-americana de Donald Trump, no afã de
imposição de tarifas por todo o mundo, está a
incluir desde afloramentos rochosos que albergam ursos polares no Ártico a uma
antiga colónia penal britânica.
Na quarta-feira, o presidente americano, Donald Trump,
anunciou a imposição de uma tarifa de base global de 10% a todos os países que
considera estarem a criar barreiras comerciais aos produtos norte-americanos,
acrescentando uma tarifa adicional para aqueles que considera serem os “piores
infratores”.
Alguns países, como a Rússia,
que enfrenta sanções dos EUA, e o Canadá e o México,
com medidas tarifárias separadas, ficaram de fora. A Santa Sé, por exemplo, também foi excluída da lista de dezenas de países e territórios
visados pelo presidente dos EUA.
Mas na lista de visados há territórios que têm pouca ou
nenhuma produção, exportação ou papel na economia global. Não foi dada qualquer
explicação imediata sobre o motivo pelo qual estes locais foram incluídos na
lista.
A ilha de Jan Mayen é um exemplo. É uma pequena ilha vulcânica no
Ártico, com 55 quilómetros de comprimento e possivelmente com mais ursos
polares do que pessoas.
Os únicos habitantes da ilha, que faz parte da Noruega desde
1930, são pessoal do Instituto Meteorológico norueguês e do exército, cujo
principal papel é supervisionar a reivindicação de soberania da Noruega sobre a
ilha, voando com aviões de carga C-130 Hercules para Jan Mayen uma dúzia de
vezes por ano a partir da Noruega.
Questionados pela agência de notícias AP, os ministérios dos
Negócios Estrangeiros e do Ambiente da Noruega não responderam de imediato aos
pedidos de comentário.
Toquelau, um
pequeno arquipélago da Polinésia, no sul do oceano Pacífico, três ilhas num
total de 10 quilómetros quadrados onde vivem 1500 pessoas, também está a
enfrentar tarifas aduaneiras de 10% impostas por Donald Trump.
É uma das mais pequenas economias da região, vive da
agricultura de subsistência, da pesca e do financiamento da Nova Zelândia.
Roland Rajah, economista-chefe de um instituto australiano
disse, citado pela AP, que vai ser difícil às pequenas economias insulares
fazerem Washington mudar de ideias, dado o seu pequeno tamanho e invisibilidade
para a administração de Donald Trump.
A ilha Christmas,
com menos de 2000 habitantes, na mesma lista, já disse que o atol do oceano
Índico, território australiano, não exporta nada para os Estados Unidos. O
presidente do condado, Gordon Thomson, explicou
que dos americanos apenas compra máquinas do fabricante texano Caterpillar,
e que a única coisa que exporta são fosfatos, para a Malásia, Indonésia e
“talvez Tailândia”.
E também na mesma lista as ilhas
Heard e McDonald, outro território australiano, na Antártida,
desabitado, na maioria estéril, com dois vulcões ativos. A Divisão Antártida,
do governo australiano, não respondeu sobre a forma como a tarifa poderia
afetar as suas operações nas ilhas.
Também australiana, a ilha de
Norfolk, que já foi uma colónia penal, com uma população de 2000
pessoas, recebeu um tratamento mais severo.
A administração de Donald Trump disse que a ilha cobra aos
Estados Unidos 58% de tarifas e respondeu com uma taxa de 29% para Norfolk,
cuja economia gira em torno do turismo.
O administrador da ilha de Norfolk, George Plant,
representante do governo australiano na ilha, estava a investigar o que estava
por detrás da situação.
“Pelo que sei, não exportamos nada para os Estados Unidos”,
disse à AP. “Não cobramos tarifas sobre nada. Também não me lembro de nenhuma
barreira não tarifária, por isso estamos a coçar a cabeça”.
Também o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese,
disse ironicamente não ter a certeza de que a ilha Norfolk seja uma concorrente
comercial da economia norte-americana.
Fonte: O Jornal Económico, 3 de abril de 2025
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