Todos erraram menos o jovem Trump e agora esta é a realidade: "Podem comprar o que quiserem, desde que seja americano"


No Rose Garden, Donald Trump apresentou o seu tão antecipado plano para aquilo que batizou como o "dia da libertação" - o método para "fazer da América rica outra vez". Mas o estratagema da Casa Branca até ao momento passa por uma só palavra - tarifas.

Trump tentou fazer querer que esta é uma ideia inovadora e sem precedentes, mas sê-lo-á mesmo? Ou seja, a intenção passa por criar novos impostos sobre todos os produtos comprados por norte-americanos que tenham sido produzidos no estrangeiro.

Isto levará a que mais dinheiro chegue aos cofres dos EUA derivado dos próprios impostos mais altos, mas também deverá fomentar a economia americana, tendo em conta que os produtos de fabrico nacional não serão taxados, logo ficaram mais baratos em comparação com os restantes.

É este segundo ponto que tem algumas semelhanças com o modo de pensar de um impulsionador da economia norte-americana através do setor automóvel, com que também Trump tanto se tem preocupado. O pai do Fordismo e da produção em série, Henry Ford, que, numa escala menor, fez algo comparável ao que Donald Trump está agora a tentar com o quarto maior país do mundo. Com os lucros da empresa, Ford passou a pagar aos funcionários 5 dólares por dia, em vez de 2,34, com um objetivo claro: que comprassem um Ford Model T - único modelo produzido nos primórdios da agora gigante Ford (ou pelo menos a ideia de que o poderiam comprar com o propósito de aumentar a produção).

Como reflexo da produção em massa, o custo do Model T era economicamente mais acessível do que os restantes carros no mercado. A visão de Henry Ford passou por criar a ideia de que cada funcionário, se assim o quisesse, poderia comprar qualquer carro, desde que fosse um Model T. E na cor preta, porque na altura era a única que existia. Consciente ou inconscientemente, Donald Trump acabou por dizer algo parecido esta quarta-feira: "Se comprarem um carro norte-americano vão ter um desconto de impostos".

Donald Trump não identificou Henry Ford como fonte de inspiração, mas reconheceu para onde estava a olhar: copiar o passado para construir a nova "Era Dourada da América". "Vamos construir o nosso futuro com mãos americanas, corações americanos, aço americano e vamos fazê-lo com o orgulho americano, como fazíamos antigamente", resumiu.

Parece, aliás, que Trump acabou por aplicar esta ideia um pouco a tudo: “As farmacêuticas vão todas voltar, porque se não vão ter uma conta grande em impostos para pagar", disse o presidente norte-americano, como se fosse os EUA fossem o único comprador de medicamentos no mundo.

Para Trump, este é "o momento de os EUA prosperarem, de começarem a ser espertos e voltarem a ser ricos - tão mais ricos do que qualquer outro país do mundo". "É inacreditável", exclamou o presidente norte-americano, justificando que os cofres americanos só não estão a rebentar pelas costuras porque estão a ser "roubados há mais de 50 anos".

“Temos muitas notícias boas hoje. Hoje é o dia da libertação, há muito esperado”, anunciou o presidente Donald Trump, lembrando que “ninguém seria tão simpático enquanto está a ser roubado” como foram os antigos presidentes dos EUA. Era também o dia de "tornar a América rica de novo".

As tarifas são recíprocas, agora é "build, build, build"

Sobre as tarifas, o chefe da Casa Branca garante que é tempo de "colocar a América primeiro". "Tomamos conta de países um pouco por todo o mundo e quando cortamos um pouco ficam chateados, mas temos de cuidar do nosso povo", afirmou.

Trump garantiu até que foi meigo e bondoso, porque "as tarifas podiam ser totalmente recíprocas". E porque não são? "Não o quisemos fazer, porque seria muito duro para alguns países”, explicou. Exemplo disso é a União Europeia, que todos "veem como amigável, mas são negociadores muito duros": "Estão a roubar-nos e é patético”, argumentou Trump.

Antes de qualquer tentativa, o líder republicano avisou os países que estejam a pensar rumar a Washington, DC para pedir isenções às tarifas: "Terminem com as vossas próprias tarifas, demulam as barreiras e não manipulem as vossas moedas".

Depois disto, é esperar para o que aí vem, tal como antecipa o próprio presidente dos EUA: "Crescimento como nunca viram anteriormente e já começou", rematando com "build, build, build [construir, construir, construir]!"

As tarifas

 A União Europeia não é nem de perto o mais atingido e vai ser tarifada em 20%. O Vietname vai ter de passar a pagar 46% de tarifas, enquanto o Camboja terá de pagar 49%.

A China, que o presidente dos Estados Unidos diz estar a taxar a 67% à economia de Washington, DC vai passar a pagar 34%.

O Japão avança para tarifas de 24%, enquanto a Índia tem tarifas de 26% a partir de agora. E o número mínimo será de 10%, valor que se aplica a países como o Reino Unido. No total, são 76 os países visados.

Trump diz que as tarifas são apenas uma resposta às taxas que os países estrangeiros aplicam sobre as importações vindas dos EUA e alerta que, para já, "estas tarifas não são totalmente recíprocas, são mais ou menos recíprocas".

Todos erraram, menos o jovem Trump

O presidente norte-americana explica que esta decisão surge também, porque "todas as previsões económicas dos últimos 30 anos estavam erradas": "Erraram na China e erraram no acordo Transatlântico".

"Quando era jovem e bonito já falava disto [de os EUA serem maltratados pelo resto do mundo]. Nos meus discursos antigos na televisão já o dizia e avisava que estávamos a ser roubados por estes países. Na verdade, nada realmente muda, a única coisa que mudou acho que foram de facto os países. É uma honra finalmente poder fazer isto", reitera.

Para Trump, o futuro para reerguer a economia dos EUA parece passar pela indústria por "produzir carros, chips, navios, aviões, minerais e medicamentos", tudo o que país precise. Uma espécie de economia fechada alienada da ideia de um mercado livre global.

"Temos de celebrar o que a administração está a fazer, porque isto vai ser um país totalmente diferente num curto prazo de tempo. Vai ser algo que o mundo inteiro vai ficar a falar", antevê Trump, lembrando que ainda só passaram dois meses desde que se voltou a sentar na Sala Oval da Casa Branca.

Fonte: CNN Portugal, 3 de abril de 2025

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