Donald Trump promete aplicar tarifa de 100% aos filmes produzidos no estrangeiro

 
















Deep Throat (1972)

Numa publicação partilhada no domingo à noite na sua plataforma Truth Social, Trump anunciou ter autorizado o Departamento de Comércio e o Gabinete do Representante Comercial dos EUA a aplicar uma tarifa de 100% “a todos e quaisquer filmes que entrem no país e que sejam produzidos em países estrangeiros”.

A indústria cinematográfica americana está a morrer muito rapidamente”, escreveu, queixando-se de que outros países "estão a oferecer todo o tipo de incentivos para atrair" cineastas e estúdios para longe dos EUA. “Trata-se de um esforço concertado de outras nações e, por conseguinte, de uma ameaça à segurança nacional. É, para além de tudo o resto, mensagens e propaganda!

Não ficou imediatamente claro como é que tal tarifa sobre filmes internacionais poderia ser implementada. É algo comum as produções, grandes e pequenas, incluírem filmagens tanto nos EUA, como noutros países. Filmes de grande orçamento, como o próximo “Missão: Impossível - O Ajuste de Contas Final”, por exemplo, são filmados por todo o mundo.

Há anos que programas de incentivos influenciam o local onde os filmes são rodados, levando cada vez mais a produção cinematográfica para fora da Califórnia e para outros estados e países com incentivos fiscais favoráveis, como o Canadá e o Reino Unido.

No entanto, as tarifas são concebidas para direcionar os consumidores para os produtos norte-americanos. E nas salas de cinema, os filmes produzidos nos Estados Unidos dominam de forma esmagadora o mercado nacional.

A China aumentou a sua produção cinematográfica nacional, culminando com o êxito de bilheteira, no segmento de animação, “Ne Zha 2”, que arrecadou mais de dois mil milhões de dólares este ano. Mas, mesmo assim, as suas vendas derivaram quase exclusivamente da China continental. Na América do Norte, rendeu apenas 20,9 milhões de dólares.

A Motion Picture Association (MPA) não respondeu imediatamente ao anúncio de domingo à noite.

Os dados da MPA mostram até que ponto as exportações de Hollywood dominaram as salas de cinema. De acordo com esta entidade, os filmes americanos produziram 22,6 mil milhões de dólares em exportações e 15,3 mil milhões de dólares em excedente comercial em 2023.

Trump fez jus ao rótulo de “homem das tarifas” que deu a si mesmo há vários anos, ao aplicar novos impostos sobre produtos produzidos em países ao redor do mundo. Tal inclui uma tarifa de 145% sobre os produtos chineses e uma tarifa de base de 10% sobre os produtos vindos de outros países, com a ameaça de taxas ainda mais elevadas.

Ao impor tarifas unilateralmente, Trump exerceu uma influência extraordinária sobre o fluxo comercial, criando riscos políticos e empurrando o mercado em diferentes direções. Existem tarifas sobre automóveis, aço e alumínio, e outras importações, incluindo medicamentos, deverão ser sujeitas a novas taxas nas próximas semanas.

Há muito que Trump manifesta a sua preocupação face à deslocação da produção cinematográfica para o estrangeiro.

Pouco antes de tomar posse, anunciou ter escolhido os atores Mel Gibson, Jon Voight e Sylvester Stallone para servirem de “embaixadores especiais” de Hollywood, com o objetivo de o trazer de volta “MAIOR, MELHOR E MAIS FORTE DO QUE NUNCA!

A produção cinematográfica e televisiva dos EUA tem sido prejudicada nos últimos anos, com os contratempos provocados pela pandemia de covid-19, as greves dos sindicatos de Hollywood, em 2023, e os recentes incêndios florestais na região de Los Angeles. A produção global nos EUA registou uma quebra de 26% no ano passado em comparação com 2021, de acordo com dados da ProdPro, que acompanha a produção.

A pesquisa anual do grupo junto de executivos, que questionou sobre os locais de filmagem preferidos, descobriu que nenhum sítio nos Estados Unidos estava entre os cinco primeiros, de acordo com o Hollywood Reporter. Toronto, Reino Unido, Vancouver, Europa Central e Austrália ficaram no topo, com a Califórnia em sexto lugar, Geórgia em sétimo, Nova Jérsia em oitavo e Nova Iorque em nono.

O problema é especialmente grave na Califórnia. Na área da grande Los Angeles, a produção no ano passado caiu 5,6% em relação a 2023, de acordo com a FilmLA, perdendo apenas para 2020, durante o pico da pandemia. Em outubro passado, o governador Gavin Newsom propôs expandir o programa de crédito fiscal para filmes e televisão da Califórnia para 750 milhões de dólares anuais, em vez de 330 milhões de dólares.

Outras cidades norte-americanas como Atlanta, Nova Iorque, Chicago e São Francisco também recorreram a incentivos fiscais agressivos para atrair produções cinematográficas e televisivas. Tais programas podem assumir a forma de subsídios monetários, como no Texas, ou de créditos fiscais, como os oferecidos na Geórgia e no Novo México.

Outras nações têm roubado as capacidades de produção cinematográfica dos Estados Unidos”, disse Trump, em declarações aos jornalistas na Casa Branca, no domingo à noite, depois de regressar de um fim de semana na Flórida. “Se não estão dispostas a fazer um filme nos Estados Unidos, devemos impor uma tarifa sobre os filmes que entram no país.”

Fonte: Euronews, 5 de maio de 2025

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