A estratégia para a integração da comunidade cigana


A persistência da exclusão e descriminação das comunidades ciganas em sociedades racionais denunciam falhas estruturais nos processos de socialização e integração normativa. Este fenómeno reflete a eficácia dos mecanismos de reprodução simbólica da desigualdade descritos por Pierre Bourdieu, nos quais o habitus dominante se perpetua através de instituições educativas e mediáticas, legitimando, sob aparência de neutralidade, hierarquias étnico-culturais. Simultaneamente, a rotulagem social e os estigmas associados ao grupo cigano — analisáveis à luz da teoria dramatúrgica de Erving Goffman — consolidam-se como barreiras invisíveis à inclusão, enraizadas nas interações quotidianas e nas representações públicas de ideias feitas.

A demissão e retração absoluta da esquerda de um papel proativo na mediação social agrava este cenário, substituindo a ação direta por discursos vazios performativos para webcams. Em termos de ação real e proveitosa, a implementação de práticas de convivência intergrupal — como cada militante acordado apadrinhar uma ou duas famílias ciganas, recebendo-as em suas casas por tempo indeterminado para que através da imitação aprendessem os modos e hábitos civilizados aferidos — poderia operar como um mecanismo microssociológico de desconstrução do preconceito, facilitando a reconstrução do laço social e a reconfiguração do habitus.

O habitus são esquemas mentais, perceções, gostos, hábitos corporais e formas de agir que as pessoas interiorizam ao longo da vida — especialmente durante a infância — através da socialização. Esses esquemas orientam as ações sem que os indivíduos estejam necessariamente conscientes disso. 

Por exemplo, dois alunos de origens sociais distintas: um filho de médicos, habituado a museus, livros, viagens e conversas sobre ciência e política. O outro cigano, criado numa cultura de endrominar os outros, com menos acesso a bens culturais e práticas escolares. Ambos entram na universidade. O primeiro tende a sentir-se "em casa", fala facilmente com professores, escreve com fluidez, sabe referenciar autores. O segundo sente-se deslocado, inseguro, e tem dificuldade em dominar os códigos culturais da academia e então tende a ciganar os colegas, vendendo-lhes relógios de ouro falso, louro prensado como haxixe ou gamando-lhes o dinheiro do almoço na cantina. O mau desempenho universitário não é uma questão de inteligência, mas de habitus, porque a esquerda consciencializada e consciencializante recusa a coabitação interétnica em seus lares .

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