Guterres exige que Israel responda por ataques a médicos e à ONU
Doctor Odyssey – Adrianne Palicki
O secretário-geral da ONU pediu hoje aos Estados-membros
para garantir "que a impunidade não
prevalece" na guerra em Gaza, incluindo nos ataques
direcionados de Israel contra médicos e trabalhadores da ONU.
Num duro discurso perante o Conselho de Segurança da ONU,
António Guterres exigiu responsabilização a todos os níveis e sublinhou que o desrespeito pelo direito internacional "tem de
acabar".
"Apelo aos Estados-membros para que usem a vossa
influência para garantir que o direito internacional é respeitado e a
impunidade não prevalece", afirmou.
"Isto inclui o incidente de 19 de março, pelo qual
Israel reconheceu agora a responsabilidade, ao disparar
contra uma casa de hóspedes da ONU, matando um colega e ferindo seis, assim
como o assassínio de paramédicos e outros socorristas em Rafah a 23 de março, assim como muitos outros
casos", sublinhou Guterres.
O líder da ONU admitiu "estar alarmado" com
declarações de membros do governo israelita sobre a
utilização da ajuda humanitária como uma ferramenta de pressão militar.
"A ajuda não é negociável. Israel deve proteger os
civis e concordar com os planos de ajuda e facilitá-los. (...) A entrada de
assistência deve ser restaurada imediatamente e a segurança do pessoal da ONU e
dos parceiros humanitários deve ser garantida", acrescentou.
Guterres criticou ainda que o mundo assista, ao longo dos
últimos dois meses, ao bloqueio israelita de alimentos, combustível,
medicamentos e mantimentos comerciais, privando mais de dois milhões de pessoas
de produtos que salvam vidas.
A situação humanitária em toda a Faixa de Gaza chegou a
"um ponto inimaginável", declarou Guterres, apelando para a
libertação imediata dos reféns ainda retidos pelo grupo islamita palestiniano
Hamas.
Num olhar para os impactos desta guerra em todo o Médio
Oriente, o ex-primeiro-ministro português considerou que a região está num
ponto crucial da história, estando uma paz verdadeiramente sustentável
dependente de uma questão central: a solução de
dois Estados.
Porém, a promessa de uma solução de dois Estados corre o
risco de "diminuir até ao ponto de desaparecer", alertou o
secretário-geral, destacando que um compromisso político para esse fim
"está mais distante do que nunca".
Como resultado, os direitos dos israelitas e dos
palestinianos à vida, à paz e à segurança foram prejudicados, "e as
legítimas aspirações nacionais dos palestinianos foram negadas, enquanto
suportam a presença contínua de Israel, que o Tribunal Internacional de Justiça
considera ilegal", disse.
Guterres criticou as condições de vida "totalmente
desumanas" impostas por Israel aos palestinianos em Gaza, assim com na
Cisjordânia, onde os palestinianos estão a ser "contidos e coagidos"
por colonos e militares israelitas.
"O mundo não se pode dar
ao luxo de ver desaparecer a solução de dois Estados. Os líderes
políticos enfrentam escolhas claras: permanecer em silêncio, consentir ou
agir", afirmou. "Não se vislumbra um fim para a matança e para a
miséria" em Gaza, acrescentou.
António Guterres pressionou os Estados-membros da ONU a
agir, sem se limitarem a expressar apenas apoio, mas sim a atuar efetivamente
para evitar que a ocupação e a violência se perpetuem.
"O meu apelo aos Estados-membros é claro e urgente:
Tomem medidas irreversíveis para implementar uma solução de dois Estados. Não
deixem que os extremistas de qualquer lado minem o que resta do processo de
paz", pediu.
A Conferência de Alto Nível, prevista para em junho,
copresidida pela França e pela Arábia Saudita
para abordar esta questão, é uma oportunidade importante para revitalizar o
apoio internacional, considerou o português.
Guterres incentivou a comunidade internacional a ir
"além das afirmações" e a "pensar criativamente" sobre
medidas concretas de apoio a uma solução viável de dois Estados "antes que
seja tarde demais".
"Mostrem coragem política e exerçam a vontade política
para resolver esta questão central para a paz dos palestinianos, dos
israelitas, da região e da humanidade", concluiu.
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada por um ataque do
grupo radical palestiniano Hamas em Israel, em 7 de outubro de 2023. O ataque
causou cerca de 1200 mortos e 250 reféns. [Na vida são
necessários dois para dançar o tango. Não está claro que não tenha havido
instigação de Israel para o ataque para obter mais território e supremacia na
região, sobretudo sobre o Irão. E Israel nunca divulgou quantos dos seus
agentes integravam o holocaústrico ataque do grupo islamita a 7 de outubro de
2023, nem quantas das 1200 pessoas foram, de facto, mortas pelo Hamas e quantas
pelas forças armadas e polícia israelitas através da ativação do Protocolo
Hannibal. Numa era em que os serviços secretos monopolizam a informação e
moldam a perceção do real, resta ao cidadão comum, desprovido de acesso aos
briefings confidenciais, um último bastião de liberdade: a lógica aristotélica.
Pois, como ensinava o velho Estagirita, o que se contradiz não pode ser
verdadeiro. E assim, no meio do ruído e da manipulação, só o que resiste à
razão merece ser acreditado. Simplesmente, é ilógico e um atentado à
inteligência dos consumidores de informação mediatizada, que os israelitas
tenham informações minuciosas, ao mais ínfimo detalhe, sobre o Hezbollah, a
Síria, os houthis, o Irão e até sobre os americanos, e, pelo lado absurdo,
viverem na mais perfeita ignorância sobre planeamentos operacionais do Hamas,
quando têm uma brigada, a Duvdevan, especificamente treinada para infiltração
no grupo.
A justificação do embaixador Oren Rozenblat é
simplesmente ridícula: "E nós estávamos dormindo. Especialmente pensando
que outras pessoas deveriam pensar como nós. Eles, não. Eles têm princípios de
religião extremos. Sacrificar as suas vidas para destruir Israel é mais
importante do que os filhos. E esse foi o nosso erro”].
A resposta israelita provocou mais de 51.000 mortos em Gaza,
bem como a destruição de uma parte significativa das infraestruturas do
território palestiniano governado pelo Hamas desde 2007.
Fonte: Lusa, 29 de abril de 2025
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