Eurovisão ameaça multar televisão pública espanhola se voltar a mencionar número de mortos em Gaza na final deste sábado
A
Eurovisão advertiu a RTVE da possibilidade de ser multada se, na transmissão da
final da Eurovisão, neste sábado, repetir os comentários sobre os mortos
resultantes da ofensiva de Israel em Gaza. Comentadores da RTVE lembraram os
“mais de 50 mil mortos” palestinianos desde o 7 de outubro. Este sábado
morreram pelo menos mais 58 pessoas
A União Europeia da Radiodifusão (UER), organizadora do
Eurofestival da Canção, advertiu a RTVE, empresa de Rádio e Televisão estatal
de Espanha, de que poderá ser multada se voltar a tecer comentários sobre os
mortos resultantes da invasão de Gaza por Israel durante a transmissão da final
da Eurovisão deste sábado.
A informação, adiantada pelo jornal espanhol El País,
que teve acesso ao documento enviado pela UER, foi confirmada à agência de
notícias Efe pela televisão pública, embora não tenham facultado mais detalhes
sobre o conteúdo da missiva, nem a posição que será adotada.
A carta, dirigida à chefe da delegação espanhola, Ana María
Bordas, recorda à RTVE que as regras da
Eurovisão “proíbem as declarações políticas que podem comprometer a
neutralidade do concurso”.
Por sua vez, este facto, provocou uma queixa formal à UER por parte da emissora
pública israelita, KAN, segundo informações publicadas pelo Ynet.
No ano passado, o porta-voz da plataforma de esquerda Somar
e ministro espanhol da Cultura, Ernest Urtasun, solicitou a comparência da
direção da RTVE no congresso para garantir que não se repetiria a “participação
da estação pública de televisão espanhola no branqueamento do genocídio”, em
referência às ações de Israel.
A presença de Israel no concurso este ano foi contestada por
artistas que já participaram no concurso e pela televisão pública espanhola.
Mais de 70 músicos, entre os quais Salvador Sobral, António
Calvário, Fernando Tordo, Lena D'Água e Paulo de Carvalho, apelaram à União
Europeia de Radiodifusão (UER) para que excluísse a participação de Israel.
Numa carta aberta, os subscritores justificam o apelo com o
facto de considerarem a televisão israelita KAN “cúmplice do genocídio contra
os palestinianos em Gaza”.
Fonte: Expresso, 17 de maio de 2025
A Eurovisão optou pela cantilena de Cavaco Silva — o mais político dos políticos portugueses, celebrado por repetir incansavelmente que não era político. Tal como Cavaco, que encenava a neutralidade enquanto exercia um poder profundamente ideológico, também a Eurovisão se apresenta como celebração inócua da diversidade musical, quando na verdade encarna uma das mais eficazes formas de diplomacia cultural e alinhamento geopolítico suave da Europa contemporânea.
Neste festival que consegue ser mais politizado do que uma universidade de verão partidária, o discurso da imparcialidade funciona como o que Pierre Bourdieu descreveu como “ficção da neutralidade”, uma postura institucional que mascara os mecanismos de reprodução simbólica:
“A neutralidade é sempre uma tomada de posição em nome da ordem estabelecida” (Bourdieu, Sur la télévision, 1996).
A Eurovisão representa, assim, aquilo que Jacques Rancière chamaria de “partilha do sensível” — uma configuração estética que determina quem pode aparecer, de que forma, e com que discurso:
“A política é antes de mais nada uma estética, a configuração de uma cena” (Rancière, Le partage du sensible, 2000).
Neste sentido, a recusa da política — sob o pretexto de uma celebração neutra e apolítica da cultura pop — é já uma decisão política altamente sofisticada, que opera por exclusão de tudo o que não cabe no quadro da aceitabilidade ocidental e israelita.
Mesmo o gesto de “dar voz” à diversidade é mediado por uma forma de racionalidade estratégica, aquilo que Jürgen Habermas qualificaria como “ação comunicativa sob constrangimento sistémico”:
“A aparência de consenso pode ocultar profundas assimetrias estruturais na distribuição do poder comunicacional” (Habermas, Teoria da ação comunicativa, 1981).
A ideologia da diversidade serve, portanto, como dispositivo de consenso: não há política, dizem — só canções, bandeiras, histerismos gay e votos, quando, no espetáculo, o governo israelita tem uma poderosa arma de propaganda. Tal como em 2024, Israel voltou a vencer o televoto na edição de 2025 da Eurovisão. A mensagem é clara: uma parte significativa do público europeu manifesta, conscientemente ou não, apoio à ofensiva em Gaza. A representante de Israel, Yuval Raphael, obteve o primeiro lugar no voto popular durante o Festival Eurovisão da Canção 2025, terminando em segundo lugar geral.
Televoto:
Noruega – 67 pontos / Polónia – 139 pontos / San Marino – 18 pontos / Islândia – 33 pontos / Letónia – 42 pontos / Grécia – 126 pontos / Estónia – 258 pontos / Reino Unido – 0 pontos / Finlândia – 108 pontos / Malta – 8 pontos / Alemanha – 74 pontos / Ucrânia – 158 pontos / Israel – 297 pontos / Albânia – 173 pontos / Dinamarca – 2 pontos / Arménia – 30 pontos / Portugal – 13 pontos / Lituânia – 62 pontos / Espanha – 10 pontos / Luxemburgo – 24 pontos / Noruega – 67 pontos / Polónia – 139 pontos / San Marino – 18 pontos / Polónia – 139 pontos / Noruega – 67 pontos / Luxemburgo – 24 pontos / Espanha – 10 pontos / Portugal – 13 pontos / Arménia – 30 pontos / Dinamarca – 2 pontos / Albânia – 173 pontos / Alemanha – 74 pontos / Finlândia – 108 pontos / Grécia – 126 pontos / Itália – 97 pontos / Estónia – 258 pontos / Suécia – 195 pontos / Ucrânia – 158 pontos / Letónia – 42 pontos / Países Baixos – 42 pontos / Malta – 8 pontos / Reino Unido – 0 pontos / Suíça – 0 pontos /Áustria – 170 pontos.
O número de mortos em Gaza é infinitamente ridículo para as ambições democráticas propostas para o território. O presidente do cabelo lindo só está a negociar acomodações para um milhão, na Líbia, é bom, é um grande esforço democrático, os restantes, têm de morrer. Daí, Israel estar a bombardear todos os locais onde estejam pessoas amontoadas, poupa-se munições.
A RTVE, a televisão pública espanhola, emitiu uma mensagem de apoio à Palestina momentos antes de iniciar a sua transmissão da grande final do concurso, que se realiza este sábado em Basileia, na Suíça.
Num fundo preto, pôde ler-se, em espanhol e em inglês, “No
que toca a direitos humanos, o silêncio não é uma opção. Paz e justiça para a
Palestina”.
A mensagem da RTVE serve como resposta à União Europeia de
Radiodifusão (UER), que havia ameaçado a televisão pública espanhola com uma
multa, caso os comentadores do festival voltassem a mencionar as mais de 50 mil
pessoas assassinadas em Gaza, pelo exército israelita.
Durante a primeira semifinal, e antes da atuação da cantora
israelita Yuval Raphael, os comentadores Tony Aguilar e Julia Varela abordaram
a polémica presença de Israel no concurso, afirmando que a RTVE pediu à UER
para que se abrisse um debate sobre a continuidade desse país na Eurovisão,
dada a ofensiva israelita na Palestina – tal
como foi feito com a Rússia, banida do festival em 2022, na
sequência da invasão da Ucrânia.
Na noite deste sábado, também o presidente da RTVE, José
Pablo López, subscreveu que “o silêncio não é uma opção”, tendo publicado a
essa mesma mensagem numa publicação na sua conta oficial da rede social X,
antigo Twitter, acompanhada pelo vídeo que passou na RTVE.
Fonte: Expresso, 17 de maio de 2025
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