EUA sancionam "falsas instituições de caridade" que podem financiar Hamas e outras organizações palestinianas
O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos anunciou esta
terça-feira um novo pacote de sanções contra cinco instituições de caridade – e
cinco indivíduos associados –, acusando-as de canalizar fundos para os braços
armados do Hamas e da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP),
duas organizações palestinianas com presença
militar ativa sobretudo em Gaza.
Segundo o Tesouro norte-americano, os visados disfarçavam
atividades de financiamento ao terrorismo sob a capa de trabalho humanitário –
tanto dentro da Faixa de Gaza como no exterior. Esta ação, inserida num esforço
mais amplo de "asfixia" financeira a redes consideradas terroristas, visa sobretudo minar a capacidade de manobra do Hamas.
Entre as instituições agora sancionadas estão a Al Weam
Charitable Society, com base em Gaza; a Filistin Vakfi, sediada na Turquia; a
El Baraka Association for Charitable and Humanitarian Work, da Argélia; a Israa
Charitable Foundation, nos Países Baixos; e a Associazione Benefica La Cupola
d’Oro, com sede em Itália. Os cinco indivíduos identificados ocupavam cargos de
liderança nestas organizações.
“Esta ação sublinha a importância de proteger o setor da
caridade do abuso por parte de grupos terroristas como o Hamas e a FPLP, que
continuam a usar falsas instituições de solidariedade para financiar as suas
operações terroristas e militares”, declarou Michael Faulkender, subsecretário
do Tesouro para Finanças Internacionais, citado no comunicado oficial.
De acordo com as autoridades norte-americanas, tanto o Hamas
como a FPLP têm um histórico longo de instrumentalização de organizações sem
fins lucrativos, recorrendo a essa estratégia para captar fundos e escapar à
vigilância internacional. Com a imposição destas sanções, os ativos das
entidades em território dos EUA ficam congelados – e é proibida qualquer
transação com cidadãos ou empresas norte-americanas.
A medida surge num momento em que Washington tenta reforçar
os mecanismos de controlo financeiro sobre grupos
armados considerados uma ameaça à estabilidade do Médio Oriente.
Fonte: CNN Portugal, 10 de junho de 2025
A política externa americana é decidida em Telavive, o presidente do cabelo lindo não tem voto na matéria, como não tiveram os outros antes dele.
O poder do lobby pró-Israel nos Estados Unidos
A influência política dos Estados Unidos na política do Médio Oriente, particularmente no apoio contínuo e incondicional a Israel, não pode ser compreendida sem examinar o poder e a eficácia do lobby pró-Israel em Washington. Este sistema de influência é altamente organizado, bem financiado e opera em várias frentes — desde o financiamento eleitoral direto até à moldagem da opinião pública e à vigilância ideológica.
A. AIPAC (American Israel Public Affairs Committee)
O AIPAC é amplamente reconhecido como o mais poderoso grupo de pressão pró-Israel nos Estados Unidos. Apesar de se declarar "bipartidário", o seu apoio é claramente orientado para candidatos — republicanos ou democratas — que prometem apoio irrestrito ao Estado de Israel. O seu poder reside principalmente no financiamento de campanhas eleitorais e na capacidade de mobilizar redes de doadores.
Entre 1990 e 2024, o AIPAC e organizações relacionadas canalizaram centenas de milhões de dólares para campanhas de candidatos considerados “amigos de Israel”, assegurando que a política externa dos EUA permaneça alinhada com os interesses israelitas. Em 2023, por exemplo, o AIPAC investiu mais de 26 milhões de dólares para derrotar candidatos progressistas e críticos da ocupação israelita, como Jamaal Bowman, deputado por Nova Iorque. Este tipo de intervenção serve como aviso a qualquer político que ouse questionar o apoio automático dos EUA a Israel.
B. Outros grupos de pressão
Embora o AIPAC seja a face mais visível e poderosa do lobby, existem outros atores igualmente relevantes que operam em esferas paralelas, reforçando a narrativa hegemónica pró-Israel.
1. ADL (Anti-Defamation League)
A ADL é oficialmente dedicada ao combate ao antissemitismo, mas tem sido frequentemente criticada por confundir críticas legítimas à política israelita com ódio aos judeus. Este mecanismo retórico permite à organização descredibilizar académicos, ativistas e até jornalistas que denunciam violações de direitos humanos cometidas por Israel. Ao rotular como “antissemita” qualquer crítica à ocupação, a ADL reforça a blindagem moral de Israel na arena internacional e inibe o debate público.
2. Christians United for Israel (CUFI)
Fundado pelo pastor John Hagee, o CUFI representa o braço evangélico do apoio a Israel. Com milhões de membros, é uma das maiores bases eleitorais da direita cristã nos EUA. O apoio evangélico a Israel não se baseia na solidariedade inter-religiosa, mas em crenças escatológicas — muitos destes grupos acreditam que o regresso dos judeus à “Terra Santa” é condição necessária para a segunda vinda de Cristo. Esta aliança, embora teologicamente oportunista, tem efeitos políticos muito reais: os evangélicos pressionam a Casa Branca e o Congresso a manterem apoio militar, diplomático e financeiro incondicional ao Estado israelita.
Votos e vetos na ONU: Os EUA como "Guarda-Costas" de Israel
A posição privilegiada dos Estados Unidos no sistema internacional, particularmente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, tem sido sistematicamente usada para proteger Israel de qualquer responsabilização significativa por violações do direito internacional. Esta aliança, enraizada tanto em interesses estratégicos como em pressões internas do lobby pró-Israel, manifesta-se sobretudo no uso recorrente do poder de veto. De facto, os EUA atuam há décadas como uma espécie de guarda-costas diplomático de Israel, blindando-o contra sanções, investigações e condenações.
O histórico de vetos
Desde 1972, os Estados Unidos vetaram mais de 50 resoluções no Conselho de Segurança da ONU que visavam condenar ações de Israel ou exigir o cumprimento do direito internacional. Entre estas resoluções, destacam-se:
• Condenações da ocupação da Cisjordânia e a construção de colonatos ilegais, considerados uma violação da Quarta Convenção de Genebra;
• Pedidos de investigações internacionais sobre possíveis crimes de guerra cometidos em Gaza, nomeadamente durante as operações militares de 2008-2009 (Operação Chumbo Fundido), 2014 (Operação Margem Protetora) e 2023-2024, que causaram milhares de mortos civis palestinianos.
Estes vetos norte-americanos isolam frequentemente os EUA da comunidade internacional. Um exemplo emblemático ocorreu em 2023, quando 14 dos 15 membros do Conselho de Segurança apoiaram uma resolução exigindo um cessar-fogo imediato em Gaza, face ao elevado número de civis mortos e à catástrofe humanitária em curso. Os EUA foram o único país a vetar a proposta, impedindo assim qualquer ação vinculativa.
Caso recente: O veto à adesão da Palestina
Em abril de 2024, a Palestina voltou a solicitar a sua adesão plena à ONU, um passo simbólico e político importante para o reconhecimento do seu estatuto de Estado. Apesar de 143 países membros da Assembleia Geral apoiarem esta medida, os Estados Unidos vetaram a resolução no Conselho de Segurança, bloqueando mais uma vez qualquer avanço diplomático para a autodeterminação palestiniana.
Este veto foi duramente criticado por organizações de direitos humanos e por vários países, que viram na decisão norte-americana não apenas um ato de obstrução, mas um claro alinhamento com a negação do direito internacional. A Palestina permanece, assim, com o estatuto de “Estado observador não-membro”, o mesmo desde 2012, incapaz de usufruir plenamente dos direitos e deveres conferidos aos Estados soberanos.
Apoio financeiro e militar incondicional dos EUA a Israel
Desde a fundação do Estado de Israel, em 1948, os Estados Unidos têm desempenhado o papel de principal financiador e fornecedor militar do país, estabelecendo uma aliança que vai muito além da diplomacia convencional. Este vínculo é sustentado por décadas de apoio incondicional, traduzido em verbas astronómicas, transferências de armamento de ponta e blindagem legal contra críticas.
A soma total de ajuda americana concedida a Israel desde 1948 ultrapassa os 260 mil milhões de dólares, quando ajustada à inflação. Trata-se da maior assistência externa contínua já fornecida pelos EUA a qualquer país. Atualmente, Israel recebe anualmente 3,8 mil milhões de dólares em ajuda militar — uma verba que o coloca como o maior destinatário de apoio militar americano no mundo.
Esse financiamento materializa-se em armas concretas, utilizadas nos principais teatros de guerra da atualidade. Os bombardeamentos em Gaza, por exemplo, contam com o uso de aviões de combate F-35, produzidos pela Lockheed Martin, bem como bombas de fragmentação — armamento cuja utilização é condenada por diversas organizações de direitos humanos e proibida por tratados internacionais que nem os EUA nem Israel assinaram.
Este apoio está cimentado em acordos formais, como o Memorando de Entendimento assinado em 2016 pela administração de Barack Obama, que garante a Israel 38 mil milhões de dólares ao longo de 10 anos, sem qualquer exigência de condicionalidade política, militar ou humanitária. Noutras palavras, os fundos continuam a fluir mesmo diante de acusações internacionais de crimes de guerra, apartheid ou violações sistemáticas do direito internacional.
Para além do apoio material, os EUA também promovem a proteção legal de Israel no próprio território americano. A lei “Israel Anti-Boycott Act”, aprovada em vários estados a partir de 2019, visa criminalizar ou sancionar economicamente indivíduos e empresas que adiram a campanhas de boicote contra Israel, como o movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções). Essa legislação tem sido duramente criticada por violar o direito à liberdade de expressão, uma vez que transforma um ato político legítimo em infração legal.
Assim, os EUA não só sustentam militar e financeiramente Israel, como asseguram-lhe impunidade internacional e imunidade doméstica, criando um quadro em que a ocupação e a violência militar podem persistir sem consequências reais. Trata-se de uma aliança estratégica mascarada de dever moral, cujas implicações ultrapassam em muito as fronteiras do Médio Oriente.
Alinhamento automático da política externa dos EUA com os interesses de Israel
A política externa dos Estados Unidos tem demonstrado, ao longo das últimas décadas, um grau notável de alinhamento com os interesses estratégicos do Estado de Israel — muitas vezes contrariando o direito internacional, o consenso global ou mesmo os interesses diretos da diplomacia norte-americana. Esse alinhamento não é acidental: resulta da influência de grupos de pressão pró-Israel dentro das estruturas de poder norte-americanas, da simbiose ideológica entre elites políticas dos dois países e da penalização sistemática de vozes dissidentes.
Um dos exemplos mais emblemáticos foi a Guerra do Iraque, em 2003. Embora oficialmente justificada com base na alegada existência de armas de destruição em massa, a invasão foi fortemente impulsionada por neoconservadores ligados a interesses israelitas, como Paul Wolfowitz e Douglas Feith. Documentos do Project for the New American Century (PNAC) revelam que a queda de Saddam Hussein era uma prioridade para Israel, que via no regime iraquiano uma ameaça regional. Os EUA acabaram por executar essa mudança de regime com um custo humano e geopolítico devastador, cuja utilidade real para os interesses americanos permanece controversa.
Outro caso claro de submissão à agenda israelita foi o Acordo Nuclear com o Irão. Negociado em 2015 sob a administração Obama, o acordo visava limitar o programa nuclear iraniano em troca do levantamento de sanções. No entanto, o então primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu fez nada menos que 47 discursos contra o pacto, incluindo uma intervenção histórica e controversa no Congresso dos EUA, em 2015, sem sequer consultar a Casa Branca. Donald Trump, em 2018, retirou unilateralmente os EUA do acordo, cumprindo uma exigência de Netanyahu, com consequências desastrosas para a estabilidade do Golfo.
Em 2017, Trump voltou a ceder a uma velha demanda israelita ao reconhecer Jerusalém como capital de Israel, rompendo com décadas de consenso diplomático internacional e desprezando resoluções da ONU. A decisão contrariou o direito internacional e foi amplamente criticada, mas agradou a base evangelista pró-Israel e o governo israelita, que há muito pressionava nesse sentido.
Quando vozes críticas se fazem ouvir dentro dos próprios EUA, a resposta costuma ser punitiva. Em 2010, a diplomata Huma Abedin, de origem muçulmana, foi investigada por alegadas ligações à Irmandade Muçulmana depois de manifestar posições críticas em relação a políticas israelitas. Mais recentemente, em 2023, a congressista Rashida Tlaib, a única palestiniana-americana no Congresso, foi censurada formalmente por defender os direitos dos palestinianos em Gaza — uma clara mensagem de que mesmo os representantes eleitos não estão imunes à repressão política quando confrontam o status quo pró-Israel.
Em suma, a política externa dos EUA em relação ao Médio Oriente não opera como um reflexo racional dos seus próprios interesses nacionais, mas antes como um prolongamento quase automático dos desígnios estratégicos de Israel. A dissidência é reprimida, o debate é desincentivado e a soberania diplomática parece, neste domínio, cada vez mais condicionada.
O controle da narrativa pelos média: A vigilância da crítica a Israel
O espaço mediático internacional, particularmente no Ocidente, tem sido alvo de uma vigilância intensa por parte de grupos de pressão pró-Israel, cujo objetivo central é controlar a forma como o conflito israelo-palestiniano é retratado. A crítica ao Estado de Israel, mesmo quando fundamentada em princípios de direitos humanos ou direito internacional, é frequentemente silenciada, distorcida ou punida — especialmente quando veiculada por jornalistas, académicos ou figuras públicas.
Um exemplo claro desta dinâmica é a atuação da Canary Mission, uma base de dados online que lista e expõe publicamente estudantes, académicos, jornalistas e ativistas críticos de Israel ou solidários com a causa palestiniana. A tática é simples e eficaz: associar esses indivíduos à “extremismo”, “ódio” ou “antissemitismo”, mesmo quando as suas posições são meramente políticas ou éticas. Essa exposição tem impactos concretos nas suas carreiras académicas e profissionais, levando a demissões, cancelamentos de convites e dificuldades em obter financiamento ou emprego.
O condicionamento estende-se também aos grandes órgãos de comunicação. Redações como a da CNN e da BBC foram acusadas de censurar ou suavizar terminologias que possam sugerir crimes graves cometidos por Israel, como “apartheid” — termo usado por organizações como a Human Rights Watch e a Amnistia Internacional — ou “genocídio”, frequentemente evitado mesmo quando civis são mortos em larga escala. Diversos jornalistas relataram pressões internas para “equilibrar” reportagens que mostrem sofrimento palestiniano, exigindo que qualquer menção a bombardeamentos em Gaza seja acompanhada de referências ao “direito de Israel à autodefesa”.
Essa imposição narrativa não é neutra. Ela molda a perceção pública, despolitiza o sofrimento palestiniano e contribui para a normalização da ocupação e das operações militares israelitas. Ao transformar a crítica legítima num tabu, os média deixam de informar e passam a reproduzir uma versão higienizada e alinhada com interesses geopolíticos.
Em suma, a liberdade de imprensa e o discurso académico estão sob cerco sempre que tocam na questão palestiniana, revelando que, em certas matérias, o controle da narrativa vale mais do que a verdade.
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