"Morte às IDF". EUA invalidam vistos de rappers britânicos por comentários anti-Israel no Festival de Glastonbury

Killer Elite (2011) – Adewale Akinnuoye-Agbaje

O duo britânico Bob Vylan deixa de estar autorizado a entrar em solo norte-americano porque os EUA revogaram os vistos. A decisão prende-se com a atuação de Vylan no Festival de Glastonbury, no Reino Unido, onde gritou "morte às Forças de Defesa de Israel".

Os Estados Unidos mostraram-se indignados com o duo britânico Bob Vylan por fazerem comentários anti-Israel em solo britânico.

Assim, nesta segunda-feira, a Administração de Donald Trump anunciou que revogara o visto da banda britânica de punk-rap Bob Vylan, que cantou uma música onde pedia a morte do exército israelita (IDF) no Festival de Glastonbury, a decorrer em Worthy Farm, na localidade de Pilton, Somerset, no sudoeste de Inglaterra.

"Estrangeiros que glorificam a violência e o ódio não são visitantes bem-vindos no nosso país", escreveu o secretário de Estado Adjunto dos EUA, Christopher Landau, na rede social X.

Controvérsia: “Morte, morte às IDF (Forças de Defesa de Israel)”

As frases a apelar à morte dos militares de Israel proferidas pelo vocalista de Bob Vylan - Bobby Vylan- foram transmitidos ao vivo pela BBC.

(transcrição das palavras de Bobby)

Após o concerto do grupo Bob Vylan no festival britânico surgiram diversas reações, entre elas da própria emissora dos concertos.

Desta forma, a BBC disse que “milhões de pessoas” assistiram à cobertura do festival, “mas uma exibição dentro da nossa transmissão ao vivo incluiu comentários que foram profundamente ofensivos”.

"A BBC respeita a liberdade de expressão, mas opõe-se firmemente à incitação à violência", acrescentou.

A agência de vigilância dos média, Ofcom, alertou que estava “muito preocupada” e que a BBC tinha que responder a algumas perguntas. "Estamos a conversar com a BBC sobre o fim-de-semana e estamos a obter mais informações com urgência", acrescentou a Ofcom.

Os organizadores de Glastonbury também reagiram afirmando que os comentários "pisaram muito os limites".

“Estamos a lembrar a todos os envolvidos na produção do festival que não há lugar em Glastonbury para o antissemitismo, discurso de ódio ou incitamento à violência”, realçou a organização do festival, em comunicado.

A polícia de Avon e Somerset declarou no sábado que provas em vídeo seriam avaliadas "para determinar se algum delito pode ter sido cometido que possa exigir uma investigação criminal".

Também o Governo do Reino Unido condenou "as palavras entoadas sobre a morte às IDF", em Glastonbury.

“Os sentimentos antissemitas expressos por Bob Vylan foram totalmente inaceitáveis e não têm lugar nas nossas antenas", sublinhou o governo britânico.

Entretanto o episódio quase causou um incidente diplomático entre o Reino Unido e a embaixada de Israel.

Os diplomatas israelitas emitiram um comunicado onde relatam que "ficaram profundamente perturbados pela retórica inflamatória e odiosa expressa no palco do Festival de Glastonbury".

Fonte: RTP, 30 de junho de 2025

A indústria musical contemporânea tornou-se um dos mais eficazes instrumentos de reprodução simbólica do fascismo global. Longe do potencial de resistência e crítica que, por momentos, a cultura popular parecia conter — sobretudo em contextos de agitação social ou contracultura —, o mainstream musical integrou-se completamente na lógica do consumo, do espetáculo e da mercantilização da experiência estética com o único intuito de formatar públicos.

Tal como Adorno e Horkheimer advertiram na Dialética do Esclarecimento, a chamada “indústria cultural” não emancipa, mas anestesia: uniformiza o gosto, promove a passividade e transforma a arte em produto. Os artistas, mesmo os que se apresentam como dissidentes ou “transgressores”, tornam-se marcas registadas — esvaziadas de conteúdo político e recicláveis ad infinitum para alimentar um ciclo ininterrupto de atenção e lucro, sobretudo pelo envelhecimento dos seus executantes, que raramente compreendem a nova realidade que lhes sucedeu.

Guy Debord, ao teorizar A Sociedade do Espetáculo, descreveu com precisão este fenómeno: a arte já não representa a realidade, mas sim a sua simulação — um simulacro reconfortante que mascara a violência estrutural da ordem económica, política e mediática. A música, nesse contexto, converte-se numa mercadoria que pretende emocionar, mas sem perturbar; entreter, mas sem questionar, banda sonora de telenovelas e comícios de políticos entertainers.

Naomi Klein, em No Logo, descreve o poder das marcas culturais como instrumentos de captura emocional e de neutralização da crítica. O festival transformado em boutique, o concerto vendido como experiência premium, a canção convertida em jingle político ou publicitário — tudo aponta para uma despolitização deliberada da cultura, que prefere o “engajamento” inócuo nas redes sociais ao confronto com estruturas de poder reais.

Hoje, a indústria musical rasteja perante os grandes patrocinadores, monopolistas do mercado, em troca de um prato de milhões, perde o seu potencial de denúncia e torna-se cúmplice de um sistema que perpetua a banalidade e o aborrecimento.

A indústria da música a boiar em mais esta pacífica fase de engordar porcos defende os cifrões: ajoelha-se perante os políticos com mais espaço mediático e rouba os pobres com preços exorbitantes pelos concertos e canções – puro lixo, que quem compra, zombizado em fã, está a ser enganado. 

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