Relatório da ONU enumera empresas cúmplices do "genocídio" de Israel: Quem são?
Perry Mason
(1957-1966) – Marie Windsor
A relatora especial da ONU, Francesca Albanese, divulgou um
relatório que nomeia vários gigantes americanos entre as empresas que auxiliam
a ocupação israelita e a guerra em Gaza. Empresas de outros países – da China
ao México – são também referidas.
A relatora especial das Nações Unidas sobre a situação dos
direitos humanos nos Territórios Palestinianos Ocupados (TPO) divulgou um novo
relatório que mapeia as empresas que auxiliam Israel na deslocação de
palestinianos e na sua guerra genocida em Gaza, em violação do direito
internacional.
O mais recente relatório de Francesca Albanese, que será
apresentado numa conferência de imprensa em Genebra na quinta-feira, nomeia 48 empresas, incluindo as gigantes
tecnológicas norte-americanas Microsoft,
Alphabet Inc.
– empresa-mãe da Google – e Amazon.
Foi também criada uma base de dados com mais de 1000 entidades corporativas
como parte da investigação.
“A ocupação perpétua [de Israel] tornou-se o campo de testes ideal para
os fabricantes de armas e grandes empresas tecnológicas – proporcionando uma
oferta e procura significativas, pouca supervisão e responsabilidade zero –
enquanto os investidores e as instituições públicas e privadas lucram
livremente”, referiu o relatório.
“As empresas já não estão meramente implicadas na ocupação –
podem estar inseridas numa economia de genocídio”, afirmou, numa referência ao
contínuo ataque de Israel à Faixa de Gaza. Num parecer especializado no ano
passado, Albanese afirmou que havia “razões razoáveis” para acreditar que
Israel estava a cometer genocídio no enclave palestiniano cercado.
O relatório afirmou que as suas conclusões ilustram “porque
é que o genocídio de Israel continua”.
“Porque é rentável para muitos”, afirmou.
Que empresas de armas e tecnologia foram identificadas
no relatório?
A aquisição de caças F-35 por Israel faz parte do maior
programa de aquisição de armas do mundo, que conta com pelo menos 1600 empresas
em oito países. É liderado pela Lockheed Martin,
sediada nos EUA, mas os componentes do F-35 são construídos a nível global.
O fabricante italiano Leonardo
S.p.A. está listado como um dos
principais contribuintes no setor militar, enquanto a japonesa FANUC Corporation fornece
máquinas robóticas para linhas de produção de armas.
O setor tecnológico, por sua vez, permitiu a recolha, o
armazenamento e a utilização governamental de dados biométricos sobre os
palestinianos, "apoiando o regime discriminatório de permissões de
Israel", refere o relatório. A Microsoft,
a Alphabet e a Amazon concedem
a Israel "acesso virtualmente de todo o governo às suas tecnologias de
cloud e IA", melhorando as suas capacidades de processamento e vigilância
de dados.
A empresa tecnológica norte-americana IBM também foi responsável pela formação de
pessoal militar e de inteligência, bem como pela gestão da base de dados
central da Autoridade de População, Imigração e Fronteiras (PIBA) de Israel,
que armazena os dados biométricos dos palestinianos, segundo o relatório.
Concluiu-se que a plataforma de software norte-americana Palantir Technologies ampliou o seu apoio ao exército israelita desde o início da guerra em Gaza, em outubro de 2023. O relatório indicou que existem “fundados motivos” para acreditar que a empresa forneceu tecnologia de policiamento preditivo automático, usada para decisões automatizadas no campo de batalha, para processar dados e gerar listas de alvos, incluindo através de sistemas de inteligência artificial como o “Lavender”, o “Gospel” e o “Where’s Daddy?”.
Que outras empresas são identificadas no relatório?
O relatório enumera ainda várias empresas que desenvolvem
tecnologias civis que servem como "ferramentas de dupla utilização"
para a ocupação israelita de territórios palestinianos.
Entre elas, estão a Caterpillar,
a Rada Electronic Industries,
propriedade da Leonardo, a sul-coreana HD
Hyundai e a sueca Volvo Group, que fornecem maquinaria pesada
para demolições de casas e o desenvolvimento de colonatos ilegais na
Cisjordânia.
As plataformas de aluguer Booking e Airbnb também auxiliam os colonatos ilegais,
publicitando propriedades e quartos de hotel em territórios ocupados por
Israel.
O relatório apontou a norte-americana Drummond Company e
a suíça Glencore como os principais
fornecedores de carvão para eletricidade a Israel, proveniente sobretudo da
Colômbia.
No setor agrícola, a chinesa Bright
Dairy & Food é acionista maioritária da Tnuva, o maior conglomerado alimentar de
Israel, que beneficia de terras confiscadas aos palestinianos em postos
avançados ilegais de Israel. A Netafim,
empresa fornecedora de tecnologia de irrigação gota-a-gota, detida em 80% pela
mexicana Orbia Advance Corporation,
fornece infraestruturas para explorar os recursos hídricos na Cisjordânia
ocupada.
Os títulos do Tesouro também desempenharam um papel
fundamental no financiamento da guerra em curso em Gaza, de acordo com o
relatório, com alguns dos maiores bancos do mundo, incluindo o francês BNP Paribas e
o britânico Barclays, listados como
tendo intervindo para permitir que Israel contivesse o prémio da taxa de juro,
apesar da descida da classificação de crédito.
Quem são os principais investidores por detrás destas
empresas?
O relatório identificou as multinacionais de investimento
americanas BlackRock e Vanguard como
os principais investidores por detrás de várias empresas cotadas.
A BlackRock, a
maior gestora de ativos do mundo, está listada como o segundo maior investidor
institucional na Palantir (8,6%), Microsoft (7,8%), Amazon (6,6%), Alphabet
(6,6%) e IBM (8,6%), e o terceiro maior na Lockheed Martin (7,2%) e Caterpillar
(7,5%).
A Vanguard, a segunda maior gestora de ativos do mundo, é a maior investidora institucional na Caterpillar (9,8%), Chevron (8,9%) e Palantir (9,1%), e a segunda maior na Lockheed Martin (9,2%) e na fabricante israelita de armas Elbit Systems (2%).
As empresas estão a lucrar com os negócios com Israel?
O relatório refere que "os empreendimentos coloniais e
os genocídios a eles associados têm sido historicamente impulsionados e
possibilitados pelo setor empresarial". A expansão de Israel em terras
palestinianas é um exemplo de "capitalismo racial colonial", em que
as entidades corporativas lucram com uma ocupação ilegal.
Desde que Israel lançou a sua guerra contra Gaza, em outubro
de 2023, “entidades que anteriormente facilitavam e lucravam com a eliminação e
apagamento dos palestinianos no contexto da economia de ocupação, em vez de se
desvincularem, estão agora envolvidas na economia do genocídio”, refere o
relatório.
Para as empresas estrangeiras de armamento, a guerra tem
sido um empreendimento lucrativo. Os gastos
militares de Israel aumentaram 65% entre 2023 e 2024, atingindo os 46,5 mil
milhões de dólares – um dos valores per capita mais altos do mundo.
Várias entidades cotadas em bolsa – especialmente nos
setores das armas, tecnologia e infraestruturas – viram os seus lucros aumentar
desde outubro de 2023. A Bolsa de Telavive
também registou uma valorização sem precedentes de 179%,
acrescentando 157,9 mil milhões de dólares em valor de mercado.
As seguradoras globais, incluindo a Allianz e a AXA,
investiram grandes somas em ações e obrigações ligadas à ocupação israelita,
segundo o relatório, em parte como reservas de capital, mas principalmente para
gerar retornos.
A Booking e a Airbnb continuam igualmente a lucrar com os alugueres em
territórios ocupados por Israel. A Airbnb chegou a remover temporariamente, em
2018, os imóveis localizados em colonatos ilegais, mas acabou por recuar,
passando a doar os lucros dessas listagens a causas humanitárias — uma prática
que o relatório descreve como “humanitarian-washing” (lavagem humanitária).
As empresas privadas são responsáveis face ao direito
internacional?
De acordo com o relatório de Albanese, sim. As entidades
corporativas têm a obrigação de evitar violações dos direitos humanos através
de ações diretas ou nas suas parcerias comerciais.
Os Estados têm a responsabilidade primordial de garantir que
as entidades empresariais respeitam os direitos humanos e devem prevenir,
investigar e punir os abusos cometidos por agentes privados. No entanto, as
empresas devem respeitar os direitos humanos mesmo que o Estado onde operam não
os respeite.
Uma empresa deve, portanto, avaliar se as suas atividades ou
relações ao longo da cadeia de abastecimento representam risco de causarem ou
contribuírem para violações dos direitos humanos, segundo o relatório.
O incumprimento do direito internacional pode resultar em
responsabilidade criminal. Executivos individuais podem ser responsabilizados
criminalmente, inclusive perante tribunais internacionais.
O relatório apelou às empresas para que desinvistam de todas
as atividades ligadas à ocupação israelita dos territórios palestinianos, a
qual é ilegal à luz do direito internacional.
Em julho de 2024, o Tribunal Internacional de Justiça emitiu
um parecer consultivo determinando que a presença continuada de Israel na
Cisjordânia ocupada e em Jerusalém Oriental deve terminar “o mais rapidamente
possível”. Face a este parecer, a Assembleia Geral das Nações Unidas exigiu que
Israel ponha fim à sua presença ilegal no território palestiniano ocupado até
setembro de 2025.
O relatório de Albanese afirma que a decisão do Tribunal
Internacional de Justiça “qualifica efetivamente a ocupação como um ato de
agressão (...). Consequentemente, quaisquer relações que apoiem ou sustentem a
ocupação e o seu aparato associado podem constituir cumplicidade num crime
internacional ao abrigo do Estatuto de Roma.”
“Os Estados não devem prestar ajuda ou assistência, nem
estabelecer relações económicas ou comerciais, e devem tomar medidas para
impedir relações comerciais ou de investimento que contribuam para manter a
situação ilegal criada por Israel nos Territórios Palestinianos Ocupados.”
Fonte: Al Jazeera, 1 de julho de 2025
EUA pedem a Guterres que expulse Francesca Albanese do cargo de Relatora da ONU
Os Estados Unidos (EUA) pediram hoje ao secretário-geral da ONU, António Guterres, que expulse Francesca Albanese do cargo de relatora especial para a situação dos direitos humanos na Palestina, alegando "má conduta" da diplomata italiana.
Em comunicado de imprensa, a missão norte-americana junto das Nações Unidas manifestou mais uma vez "graves preocupações" com a postura de Francesca Albanese e insistiu para que o secretário-geral "condene as suas atividades e solicite a sua remoção" do cargo.
Os Estados Unidos alertaram para o potencial de perda de credibilidade das Nações Unidas caso a relatora permaneça no cargo, a quem acusam de praticar "antissemitismo".
Washington considerou ainda que as alegações de Albanese de que Israel está a cometer genocídio em Gaza e a envolver-se num sistema de 'apartheid' "são falsas e ofensivas".
"Nas últimas semanas, a senhora Albanese intensificou o seu padrão de anos de antissemitismo virulento e de implacável preconceito anti-Israel, enviando correspondência ameaçadora a dezenas de entidades em todo o mundo, incluindo grandes empresas americanas", diz o comunicado norte-americano a que a Lusa teve acesso.
Fonte: CNN Portugal, 1 de julho de 2025
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