Procurados pela Turquia

A Turquia está particularmente interessada na entrega de indivíduos que considera ligados ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), considerado um grupo terrorista pela UE, EUA e Reino Unido. Também está atrás de seguidores do clérigo turco exilado nos EUA, Fethullah Gülen. Os gulenistas são acusados pela Turquia do golpe fracassado contra o presidente Erdogan em 2016.

A BBC conversou com três das pessoas procuradas pela Turquia.

Bulent Kenes: Jornalista

Durante anos, ele foi editor-chefe do Today's Zaman, um importante diário de língua inglesa na Turquia, antes de ser encerrado em 2016. Agora, ele vive no exílio em Estocolmo.

As autoridades turcas acusam-no de fazer parte do movimento Gulen, ou aquilo que chamam Fethullah Terrorist Organisation (Feto). É conhecido pela sua rede de escolas e não é considerado um grupo terrorista na UE, Reino Unido ou EUA.

Kenes disse que se tornou um alvo pelas suas críticas diretas a Erdogan e enfrentou acusações de conspirar para derrubar o governo: "Todas as alegações são fabricadas. Sou um jornalista independente sem afiliação com nenhuma organização."

Ele recebeu uma pena de prisão suspensa em 2015 por "insultar o presidente", num tuíte que dizia que a falecida mãe de Erdogan teria vergonha dele.

Insultar o presidente Erdogan continua a ser uma acusação comum atualmente, com 17 jornalistas e cartunistas sendo julgados nos primeiros três meses de 2022, de acordo com a organização independente turca Bianet.

Bulent Kenes acredita que se tornou uma moeda de troca entre Erdogan e a Suécia nas negociações da NATO.

Ele não está particularmente receoso de ser extraditado, pois isso seria uma "traição aos próprios valores da Suécia" da democracia e proteção aos dissidentes. "Este não é um teste para o regime de Erdogan... é um teste para as autoridades suecas", disse ele.

Fatih: 'incendiário reformado'

Outros na lista da Turquia são bem menos proeminentes. Fatih, um curdo finlandês, fazia parte de um grupo de cinco jovens que atearam fogo à porta da embaixada turca em 2008.

Agora empresário e empreendedor, de 37 anos, disse à BBC que se arrependeu do que fez: "Naquela época, a minha vida estava confusa, eu tinha muitos tipos de problemas".

Ele ficou surpreendido ao encontrar o seu nome na lista, já que cumpriu uma pena suspensa de 14 meses há muito tempo - e pagou indemnização por perdas e danos à embaixada. As autoridades finlandesas concederam-lhe a cidadania há alguns anos e consideraram o caso da embaixada encerrado, disse ele.

A Turquia acusa-o de ser membro do militante PKK, que defende uma maior autonomia curda e está envolvido numa luta armada com o Estado turco.

Fatih disse que não tinha laços ou ligações ideológicas com o PKK e acreditava ter sido alvo apenas por causa da sua origem curda.

Os curdos representam de 15 a 20% da população da Turquia, mas enfrentam perseguição no país há gerações. O governo de Ancara está tentando banir o partido pró-curdo HDP, o terceiro maior do parlamento.

Embora Fatih não acreditasse que seria extraditado como cidadão finlandês, ele temia assédio na comunidade turca local ou possível prisão no exterior a pedido da Turquia. Ele disse que estava muito triste pela Finlândia ter que "lutar por ele".

Aysen Furhoff: Professora que fugiu

Aysen Furhoff veio para a Suécia depois de cumprir cinco anos de uma pena de prisão perpétua na Turquia por tentar "subverter a ordem constitucional", quando tinha 17 anos e era membro do Partido Comunista Turco. Ela disse que recebeu proteção na Suécia depois de ser torturada na prisão.

Agora com 45 anos, ela mora em Estocolmo com o marido e a filha e trabalha como professora, e insiste que não está mais envolvida na política turca.

"Saí da Turquia há 20 anos. Se eu for enviada para lá, eles não terão utilidade para mim. Todos aqueles que conheço estão mortos ou na prisão. É por isso que estar na lista foi surpreendente - quem sou eu para eles?"

A Sra. Furhoff diz que também está sendo processada na Turquia por ser membro do PKK. Ela admite ter colaborado com eles durante três meses há cerca de 25 anos.

Embora ela não simpatize mais com o PKK, nega que eles sejam um grupo terrorista e acredita que deveriam fazer parte das discussões para uma paz negociada na Turquia.

Citando a lei sueca, ela não está preocupada com a extradição, mas acha difícil acreditar que possa ser um caso importante para Ancara.

(…).

Um ex-membro do PKK na lista, Cemil Aygan, foi alvo de pedido de extradição pela Turquia no passado, mas acredita que a Supremo Tribunal da Suécia impedirá. "Se a Suécia me entregasse, a minha vida estaria acabada", disse ele à emissora pública SVT.

Fonte: BBC, 5 de julho de 2022

Erdogan entregou aos suecos uma lista de 120 nomes para serem extraditados se quiserem entrar na NATO. Os meios de comunicação livre ainda não divulgaram os nomes daqueles forçados a regressar à Turquia para satisfazer a propaganda anti-Putin.

No entanto, algo podemos deduzir. Sendo Erogan um amigo do Ocidente, os deportados, se forem fuzilados, enforcados ou esfaqueados, sê-lo-ão respeitando os direitos humanos. E, nesses atos, o regime turco acautelará uma pegada de carbono neutra, muito do gosto sueco, e até para não irritar a Greta.  

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