Israel responde em tom de desafio a ordem do TIJ para sair de Rafah
Alfred
Hitchcock Presents / O Youth and Beauty! - Patricia Breslin
Decisões do Tribunal Internacional de Justiça são
vinculativas. Ministros do governo de Netanyahu garantem que a luta contra o
Hamas vai continuar “onde e quando necessário”
O Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) exigiu esta
sexta-feira que Israel deve “interromper imediatamente a sua ofensiva militar e
qualquer outra ação na província de Rafah que imponham aos palestinos de Gaza
condições de vida que possam provocar a sua destruição física total ou parcial”,
uma decisão histórica que deverá aumentar a
crescente pressão internacional sobre Telavive. O tribunal apoiou assim um
pedido da África do Sul, uma semana depois de Pretória ter pedido a medida num
processo em que acusa Israel de genocídio.
Israel não
deu qualquer indicação de estar a preparar-se para mudar de objetivos em Rafah,
insistindo que o TIJ tinha entendido mal a situação. “Israel não realizou e não
realizará operações militares na área de Rafah que criem condições de vida que
possam causar a destruição da população civil palestina, no todo ou em parte”,
garantiu o conselheiro de Segurança Nacional, Tzachi Hanegbi, num comunicado
conjunto com porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros, divulgado numa
altura em que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu estava reunido com
ministros.
A primeira reação à decisão havia chegado através do
ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, que afirmou que aqueles que exigem que
Israel pare a guerra, exigem que ele decrete o fim da sua existência. “Não
vamos concordar com isso”, disse Smotrich, um dos membros de extrema-direita da
coligação, acrescentando: “Continuamos a lutar por
nós mesmos e por todo o mundo livre. A história julgará quem hoje apoiou os
nazis do Hamas e do Estado Islâmico”.
Já o ministro do gabinete de guerra Benny Gantz afirmou que
Israel vai continuar a sua guerra “justa e necessária” contra o Hamas, “onde e
quando necessário, incluindo em Rafah”, mas garantiu que “continuaremos a operar de acordo
com o direito internacional onde quer que operemos, ao mesmo tempo que
salvaguardamos, na melhor medida possível, a população civil, não por causa do
TIJ, mas por causa de quem somos e dos valores que
defendemos”. Segundo a agência Wafa, o exército israelita intensificou os
ataques em Rafah após ser conhecida a decisão do Tribunal Internacional de
Justiça.
O tribunal das Nações Unidas também considerou
“profundamente preocupante que muitos destes reféns permaneçam em cativeiro e
reitera o seu apelo à sua libertação imediata e incondicional”, pedido feito
horas depois de os militares israelitas terem anunciado que as tropas
recuperaram os corpos de mais três sequestrados no norte de Gaza.
Foi ainda ordenado que Israel deve “manter aberta a passagem
de Rafah para o fornecimento irrestrito e em escala de serviços básicos e
assistência humanitária urgentemente necessários”, localizada entre o Egito e
Gaza, e que fechou no início deste mês, no início do ataque terrestre à cidade.
“Israel continuará a permitir que a passagem de Rafah permaneça aberta para a
entrada de assistência humanitária do lado egípcio da fronteira e impedirá que
grupos terroristas controlem a passagem”, respondeu o comunicado do conselheiro
de Segurança Nacional israelita. A Casa Branca anunciou que o presidente
egípcio, Abdel Fattah el-Sisi, concordou, num telefonema com Joe Biden, em
permitir a entrada da ajuda da ONU através da passagem de Karem Abu Salem. De
acordo com a AFP, que citou fontes de Bruxelas, a União Europeia estará
disponível para controlar o posto de passagem de ajuda humanitária, que o TIJ
ordenou que fosse restabelecido.
O TIJ apelou ainda a Israel para permitir que investigadores internacionais entrem no enclave e que Telavive apresente um relatório ao tribunal no prazo de um mês sobre o seu progresso na aplicação das medidas por ele ordenadas. As ordens do TIJ são juridicamente vinculativas, mas carecem de mecanismos de aplicação direta.
A decisão tomada pelo TIJ é a terceira e mais significativa
intervenção no conflito e ocorre quatro dias depois de o procurador-chefe do
Tribunal Penal Internacional, este não reconhecido por Israel, ter anunciado
que iria pedir mandados de prisão para responsáveis do Hamas e israelitas por
crimes de guerra e contra a humanidade, incluindo Netanyahu e o ministro da
Defesa Yoav Gallant.
O Hamas saudou a decisão do TIJ, mas criticou o facto de
deixar de fora o resto do enclave, dizendo ainda esperar que isto “ponha fim à
agressão e ao genocídio contra o nosso povo em toda a Faixa de Gaza, e não
apenas em Rafah”, apelando à “comunidade internacional e à ONU para que
pressionem a ocupação para que cumpra imediatamente esta decisão”.
A Comissão Europeia, através do o comissário para a Gestão
de Crises, Janez Lenarcic, lembrou que as decisões do TIJ “são vinculativas” e
“todas as partes têm de obedecer”. “Espero uma implementação total e imediata”,
referiu o esloveno. Uma ideia que foi também sublinhada pelo secretário-geral
da ONU, António Guterres.
Fonte: Diário de Notícias, 24 de maio de 2024
Numa daquelas coincidências que não lembra ao diabo, estimando o timing do Tribunal Internacional de Justiça, o Hamas dispara rockets contra Israel precisamente de… Rafah.
Até um anjinho acredita que foram eles e não a verdadeira resposta de Israel ao TIJ.
Hamas lança rockets contra Telavive
O braço armado do Hamas lançou neste domingo, 26, pela primeira vez desde janeiro, uma vaga de rockets contra o centro comercial de Israel, Telavive, numa demonstração de resiliência dos militantes palestinos no oitavo mês da guerra Israel-Hamas.
Sirenes de ataque aéreo soaram durante o ataque, mas Israel disse que não houve relatos imediatos de vítimas ou danos.
Os rockets ou foram destruídos ou caíram em espaços vazios
As Brigadas Izzedine al-Qassam do Hamas escreveram numa publicação no Telegram que tinham atacado Tel Aviv “com uma grande onda de foguetes em resposta aos massacres sionistas contra civis”.
Os militares israelitas disseram que oito projéteis entraram em Israel depois de serem lançados perto da cidade de Rafah, no sul de Gaza, onde as forças israelitas lançaram recentemente uma incursão.
Fonte: VOA Português, 26 de maio de 2024
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