Sólido programa de reformas estruturais
“Mota Pinto, o político das medidas estruturais. Se houvesse que escolher um homem do ano da política portuguesa em 1984, a opção seria decerto o vice-primeiro-ministro Carlos Alberto Mota Pinto. E o facto político de 1984 seria decerto esse misterioso elenco de medidas estruturais, a que o líder do PSD vem entoando sistematicamente loas desde há um ano, sem que mais ninguém (ou ninguém mesmo) saiba o que significam, o que são, ou tão-só, quais são. A única conhecida em toda a sua extensão é… o fim da cobrança pela banca nacionalizada dos juros à cabeça.
Mota Pinto foi neste ano de 1984 o primeiro responsável de múltiplas crises políticas que se verificaram no seio da coligação, todas em nome das medidas estruturais. Com os socialistas ao longo do ano foi fazendo negócios. Trocou logo em janeiro, o aborto pelas medidas estruturais. Passados uns meses desistia da remodelação governamental por que se tinha batido, para que se concretizassem as medidas estruturais. Deu mesmo um prazo: dois meses e teremos medidas estruturais. Em dezembro, assina um novo acordo com o PS – compromete-se a congelar o seu candidato presidencial até junho de 1985 e em troca recebe… as medidas estruturais.
Como ministro da Defesa tem um invejável registo. Demitiu o General Garcia dos Santos para disciplinar as Forças Armadas, mas este ano engoliu todas as insolências dos chefes militares, desde a greve de zelo da Força Aérea de Lemos Ferreira, até às afirmações de que as Forças Armadas são «a reserva moral da nação» à boa maneira salazarista. E silencioso assistiu também ao recente mistério da apreensão da revista da Força Aérea. Em circunstâncias tão estranhas e ainda por esclarecer.
Mas é este homem, amigo e inimigo de Ramalho Eanes, amigo e inimigo e outra vez amigo (a título póstumo) de Sá Carneiro, amigo por enquanto de Mário Soares, é este homem que propõe um hino e uma bandeira em cada escola portuguesa para estimular o patriotismo; é este homem que ao longo de 1984 está à frente do segundo maior partido português e que, aparentemente, acaba 1984 mais seguro e mais forte do que no início do ano.”
Diário de Lisboa, segunda-feira, 31 de dezembro de 1984
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