A Rússia pode atacar a Europa até 2030, avisa a Alemanha. Propaganda ou ameaça real? "Vamos todos ter de fazer sacrifícios"
Will &
Grace - Megan Mullally, Sean Hayes, Michael Angarano
O alerta partiu do presidente do Serviço Federal de Informações da Alemanha
(Bundesnachrichtendienst), que afirmou esta segunda-feira que a Rússia poderá
ter condições para atacar a Europa até ao final desta década.
“Putin continuará a testar as linhas vermelhas do Ocidente e a aumentar a escalada do
confronto. As Forças Armadas Russas estarão provavelmente em posição, em termos de pessoal e material,
de lançar um ataque contra a NATO, o mais tardar, no final desta década”, disse
Bruno Kahl, citado pelo Politico.
Kahl avisa que um confronto militar com a NATO “é uma opção
para Moscovo”, e que a Rússia “quer empurrar os EUA para fora da Europa, de modo a
restabelecer as fronteiras da NATO dos anos 90, criar uma “nova esfera de
influência russa” e “estabelecer uma nova ordem mundial”.
Questionado sobre a credibilidade destas palavras, o
major-general Agostinho Costa afirma de que se trata de
“narrativa para nos manter todos na linha”.
“A intenção é manter a ideia de que temos um inimigo que vai
atacar a Europa porque muita coisa vai ter de mudar no plano da defesa. Vamos
todos ter de fazer sacrifícios e vamos mandar os jovens fazer o serviço militar
obrigatório”, afirma o especialista em assuntos de segurança.
“Estamos
numa guerra de narrativas e a Alemanha está a preparar a opinião pública alemã
para aquilo que as autoridades querem impor, que é o serviço militar
obrigatório. São discursos para o consumo interno da Alemanha”,
complementa.
O major-general Agostinho Costa questiona mesmo se a Rússia
quer e conseguirá atacar a Europa.
“Os russos querem atacar a Europa para quê? Têm capacidade?
Não. Para a terem têm de fazer uma mobilização como fazem os ucranianos e isso
quebraria o pilar económico. Ir buscar gente para ir para a linha da frente é
retirá-los da economia. Portanto, qual é o interesse dos russos em entrar pela
Europa? Não tem recursos. Querem atacar os polacos? E porquê?”, interroga o
especialista. “A Rússia tem as capacidades adequadas para vencer a guerra na
Ucrânia e tem condições para as alargar, mas não para atacar a Europa”.
“Os russos querem é vender gás e petróleo à Europa”, remata
Agostinho Costa.
No entanto, avisa: se a Polónia tentar fechar o Corredor de Suwalki ou Finlândia e Estónia
tentarem fechar o Mar Báltico, os russos “vão abri-los à força”.
Como referência para um futuro cenário possível, o
major-general cita Emmanuel
Todd, historiador francês que esta semana disse, em entrevista ao Corriere
di Bologna, que “se a Rússia for derrotada na Ucrânia, a subserviência europeia aos
americanos prolongar-se-ia por um século. Se os Estados Unidos forem
derrotados, a NATO desintegrar-se-á e a Europa ficará livre”. Todd
vaticina também que a Alemanha e a Rússia vão voltar a juntar-se e ter relações
económicas interdependentes após a “pulverização” do “controlo americano” da
Europa.
“O que é natural, numa Europa de baixa fertilidade e com a
sua população envelhecida, é a complementaridade entre a indústria alemã e os
recursos energéticos e minerais russos”, defende Todd.
Plausível? Sim. Garantido? Não.
Por sua vez, o major-general Isidro de Morais Pereira não descarta a validade deste
alerta, que diz ser “verosímil e provável”, mas não “garantido”. “Diria que o
grau de probabilidade é de 50-50”,
refere, explicando que há três fatores que podem ajudar a materializar o
cenário de um ataque russo.
Os dois primeiros estão relacionados com a guerra na
Ucrânia: se a Rússia vencer o
conflito e a sua economia aguentar este período, um ataque à Europa fica mais
provável.
“Se a economia russa entra em colapso, vai acontecer à
Rússia aquilo que aconteceu à União Soviética. Vai ser incapaz de continuar
este seu novo impulso imperialista”, defende o especialista militar.
O terceiro fator vem do outro lado do Atlântico. Se Trump
vencer as eleições, é muito provável que os EUA coloquem a Europa de parte para
se centrarem no Indo-Pacífico e na China e também no Médio Oriente, diz o
major-general.
Isidro de Morais Pereira elenca também outros fatores
conhecidos que podem indiciar que a Rússia se está a preparar para atacar a
Europa no futuro.
“A indústria russa está ou não a converter-se numa indústria
de guerra? Está. A Rússia está a alocar grande parte do investimento e das suas
reservas de ouro e de divisas para equipamento de defesa? Está. Putin
determinou o aumento do exército
permanente porque quer ter
um maior que o norte-americano? Sim”.
O major-general descarta, no entanto, que esse conflito se
materialize numa guerra nuclear. “Putin não quer morrer. No dia em que o Putin der ordem para utilizar armas
nucleares, no momento seguinte está morto. Sabe que está a assinar a sua
sentença de morte, sim”, perspetiva.
“Agora, uma ameaça convencional que a Rússia poderá
materializar até 2030 é perfeitamente plausível. Se me perguntar ‘é altamente
provável que isso aconteça?’ Bem, eu não iria tão longe, mas é plausível e é
provável”.
Provável ou não, o que é certo é que há vontade política
para a Europa se preparar para esse cenário. Andrius Kubilius, nomeado para a
estreia do cargo de Comissário Europeu para a Defesa, disse em setembro que as defesas europeias se devem preparar
rapidamente para um confronto com a Rússia dentro de seis a oito anos.
“Os
ministros da Defesa e os generais da NATO concordam que Vladimir Putin
poderá estar pronto para um confronto com a NATO e a UE dentro de seis a oito
anos. Se levarmos estas avaliações a sério, então este é o tempo para nos
prepararmos adequadamente, e é um tempo curto. Isto significa que temos de
tomar decisões rápidas e ambiciosas”, afirmou Kubilius, citado pela Reuters.
Fonte: CNN Portugal, 14 de outubro de 2024
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