As mulheres, os jantares, o dinheiro e o poder. Queiroz Pereira denunciou "interesses entre Marcelo e Salgado"

The Thundermans (2013–2018) - Kira Kosarin, Jack Griffo, Rosa Blasi

No depoimento que deu antes de morrer, o industrial Pedro Queiroz Pereira, que travou uma guerra contra Ricardo Salgado no Grupo Espírito Santo, fez várias revelações sobre as influências que o antigo líder do BES detinha na política e na economia portuguesas. Uma dessas influências, garantiu na sua declaração ao DCIAP em 2018, era sob Marcelo Rebelo de Sousa.

Queiroz Pereira conta que durante a sua campanha para a presidência do PSD, que venceu em 1996, Marcelo Rebelo de Sousa fez um discurso “contra os grandes grupos económicos”, incluindo o BES - o que levou a que a relação com Salgado ficasse “tremida”.

“Só que os interesses eram grandes demais”, continuou o industrial. Marcelo tinha o “poder político, mas precisava do dinheiro” e Ricardo Salgado “tinha dinheiro, mas não o poder político”. Os dois terão organizado um jantar para restabelecer as relações. E "encomendaram às mulheres" a reconciliação. "Foi a dra. Rita Amaral Cabral e a Maria João Salgado que começaram a promover um reencontro entre os dois". "Se for, por exemplo, ao escritório da dra. Rita Amaral Cabral, 60% do trabalho vinha do BES".

A seguir, Salgado “pegou no departamento jurídico do BES e mandou trabalho de cobrança a Rita Amaral Cabral”, na altura já namorada de Rebelo de Sousa. “Era uma forma de comprar o professor Rebelo de Sousa. Isto é assim mesmo, não é? E ela para ajudar o dr. Ricardo Salgado aceitou ir para a administração da Semapa, para segurar ali, saber o que lá se passava, isso tudo, e veio junto com o Rui Silveira”, afirmou.

Mais tarde, já fora da sala de julgamento, a defesa de Ricardo Salgado desmentiu o sucedido, sublinhando que a reprodução do depoimento de Queiroz Pereira em tribunal “só serviu para soundbytes e para esmagar a opinião pública”. “Ricardo Salgado não ameaçou ninguém, muito menos Marcelo Rebelo de Sousa”, afirmou.

No depoimento, Queiroz Pereira traçou também o perfil do homem de quem foi sócio na Espírito Santo Control, a holding que controlava os negócios do GES, mas que disse nunca ter sido seu amigo. Caracterizou-o como uma pessoa com características boas e más. Entre as boas é “extraordinariamente trabalhador”. Entre as más, “há duas que se destacam”, é um “ambicioso desmedido, capaz de matar o pai e a mãe”, e é “um mentiroso compulsivo”. “Uma pessoa que diz determinadas coisas e quer convencer o interlocutor que 2 e 2 são 5”. “É capaz de chegar aqui e dizer que esta folha de papel é preta”.

“Estão a tratar com uma pessoa doente, que vai mentir até ao fim da vida”

Na declaração, fez também um aviso ao Ministério Público: “Estão a tratar com uma pessoa doente, que vai mentir até ao fim da vida”, afirmou, antevendo que a estratégia de Ricardo Salgado será que o processo “dure uma série de anos para morrer antes de ver isto chegar ao fim”. “Por muito grave que o Ministério Público ache que isto é”, a verdade será “muito pior”. “Ainda vão ter muitas surpresas”.

Foi Queiroz Pereira o primeiro a denunciar a falsificação de contas no Grupo Espírito Santo ao Banco de Portugal, em outubro de 2013. O que levou à investigação que fez cair o BES e o império de Ricardo Salgado. O industrial, antigo dono da Semapa, sublinhou que “não estava nisto para fazer de polícia”. E que apenas procurou defender as suas empresas de um ataque hostil e secreto de Ricardo Salgado. “Andavam a comprar os meus acionistas e não tinham dinheiro”, afirmou, acrescentando que sabia “que as contas deles (do GES) estavam mal, porque quando consolidavam as contas das suas holdings, não usavam os valores de cotação em bolsa, mas uns outros que eles criaram”.

Entre os problemas nas contas, existiram dois que sobressaíram: uma foi a Rio Forte ser contabilizada em mil milhões de euros, quando as contas apontavam para uma situação muito frágil. A outra foi o facto de “a Espírito Santo Financial Group estava na bolsa cotada a 5.24 euros e na consolidação das contas apresentava um valor de 24 euros por ação”.

Queiroz Pereira garantiu ainda que falou sobre as ocultações de contas no Grupo Espírito Santo com José Maria Ricciardi, mas que o primo de Salgado “procurou demovê-lo de ir ao Banco de Portugal”. A denúncia sobre toda a situação foi feita ao governador Carlos Costa em outubro de 2013.

Já sobre os dividendos por ter sido acionista da ES Control, explicou que “todas as distribuições de dividendos eram seguidas, dois ou três meses depois, com um pedido de aumento de capital com mais dinheiro”.

Fonte: CNN Portugal, 22 de outubro de 2024

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