Marcelo diz que novos poderes "não são racionais" e recorda coabitação com Costa: "Éramos felizes e não sabíamos"
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"Era
tudo relativo, era uma felicidade relativa, mas, comparado com o que vinha por
aí, era uma felicidade", disse o Presidente da República. E acrescentou
que os “novos poderes são emocionais, não são racionais”
O presidente da República referiu-se hoje aos oito anos de coabitação com o anterior
primeiro-ministro, António Costa, como um tempo que, "comparado com o que
vinha por aí", será recordado como de "felicidade relativa".
Marcelo Rebelo de Sousa falava numa iniciativa do jornal Público sobre literacia mediática, em que manifestou
"grande preocupação" com o panorama mediático e declarou que nos seus
mandatos tem procurado "agir perante o chamado populismo, pela via
popular, sem ultrapassar os
limites que separam o popular do populista".
A meio da sua intervenção, ao falar das mudanças constantes e da "reconstrução permanente da História",
o chefe de Estado referiu-se ao tempo em que coabitou com António Costa, agora
presidente do Conselho Europeu. "Dizia muitas vezes a um governante com o qual partilhei quase oito anos
e meio de experiência inesquecível: um dia reconhecerá que éramos felizes e não
sabíamos", relatou. "Era tudo relativo, era uma felicidade
relativa, mas, comparado com o que vinha por aí, era uma felicidade",
considerou o presidente da República.
Neste discurso, Marcelo Rebelo de Sousa retomou a ideia de que se está a
entrar num novo ciclo "relativamente aos sistemas políticos,
económicos, sociais e comunicacionais" e de que "a realidade não está
racional, está emocional". "As novas lideranças são emocionais, as
novas formas de comunicação são emocionais, os novos poderes são emocionais,
não são racionais", apontou.
Sobre o panorama mediático, associou a vitória de Donald Trump nas presidenciais
norte-americanas de 2016 ao surgimento de uma "corrente de
comunicação direta com os destinatários", que procura "abolir a
intermediação toda" e criar "novos meios de comunicação social à
medida daquele estilo", definindo "um novo paradigma de
comunicação".
"Sem responsabilidade, influenciam,
servem de intermediários e não respondem, porque não são eleitos. Ajudam a
eleger. Isto é um fenómeno transnacional novo, que coincide com uma geopolítica
em que vivemos hoje", descreveu.
O chefe de Estado manifestou-se "muito preocupado"
com este "fenómeno transnacional" e com os problemas dos "meios de comunicação social
mais clássicos",
que no seu entender estão "mais fracos, lutando pela sobrevivência,
com maior instabilidade interna, do ponto de vista dessa sobrevivência, com uma
capacidade de renovação limitada".
O presidente da República defendeu que, perante este
"contexto novo", os sistemas políticos, económicos e sociais "ou
se reajustam ou entram em crise". "Isto se aplica também às
lideranças. As lideranças ou se reajustam ou morrem mais depressa ou morrem
mais devagar -- coincidindo ainda por cima com um período de substituição natural de lideranças,
nomeadamente na Europa", acrescentou.
Embora "muito preocupado", Marcelo Rebelo de Sousa
afirmou estar "muito motivado" a não "deixar cair os
braços" e enfrentar este "fenómeno emocional". "É um
desafio impressionante, que eu, aliás, enfrentei todos os dias ao longo dos
últimos anos, do lado do poder: como agir perante o chamado populismo, pela via
popular, sem ultrapassar os limites que separam o popular do populista",
declarou. O chefe de Estado argumentou que "é preciso estar lá antes, é preciso antecipar a
compreensão do que vai ser a mensagem" e "permanentemente fazer pedagogia sobre
a mensagem".
Fonte: Expresso, 4 de dezembro de 2024
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