MSF denuncia aumento israelita de “violência extrema” e obstrução a socorro na Cisjordânia
Vera – Brenda
Blethyn
A
organização internacional médico-humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF)
denunciou hoje o aumento da “violência física extrema” de colonos e tropas
israelitas contra palestinianos na Cisjordânia e da obstrução à prestação de
cuidados de saúde naquele território palestiniano
Num relatório hoje divulgado, intitulado “Infligir danos
e negar cuidados - Padrões de ataque e obstrução a cuidados de saúde na
Cisjordânia”, a MSF sublinha que a escalada de violência na Cisjordânia –
desde que Israel declarou guerra contra o movimento islamita palestiniano Hamas
na Faixa de Gaza, a 7 de outubro de 2023 – “tem dificultado gravemente o acesso
aos cuidados de saúde e faz parte de um padrão de opressão sistémica por parte
de Israel, que foi descrito pelo Tribunal
Internacional de Justiça (TIJ) como correspondendo a segregação racial e
‘apartheid’”.
Segundo a organização, no total, pelo menos 870 palestinianos foram mortos e mais
de 7100 ficaram feridos entre outubro de 2023 e janeiro de 2025,
tendo-se a violência israelita contra palestinianos e os ataques e obstrução a
cuidados de saúde intensificado mais ainda desde
que entrou em vigor o acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, a 19 de janeiro,
agravando “as terríveis condições de vida de muitos palestinianos, que estão a
pagar um elevado preço físico e psicológico”.
O relatório, que abrange o período de um ano, entre outubro
de 2023 e outubro de 2024, assenta em entrevistas a 38 doentes e funcionários
da MSF, paramédicos de equipas hospitalares e voluntários apoiados pela MSF,
que relatam “longas e violentas incursões militares israelitas e restrições de
movimentos mais rígidas, todas as quais prejudicaram gravemente o acesso a
serviços essenciais, particularmente cuidados de saúde”.
“Os doentes palestinianos estão a morrer, porque
simplesmente não conseguem chegar aos hospitais”, afirmou o coordenador de
emergência da MSF, Brice de le Vingne, citado no relatório.
“Estamos a assistir a ambulâncias bloqueadas pelas forças
israelitas nos postos de controlo enquanto transportam doentes em estado
crítico, instalações médicas cercadas e
invadidas durante cirurgias e profissionais de saúde alvos de
violência física enquanto tentam salvar vidas”, descreveu.
Um número crescente de ataques contra profissionais e
instalações médicas foi relatado às equipas da MSF, indica o relatório,
“incluindo ataques a hospitais e destruição de instalações médicas improvisadas
em campos de refugiados, além de perseguição, detenção, ferimentos e morte de
socorristas e profissionais médicos pelas forças israelitas”.
Entre outubro de 2023 e dezembro de 2024, a Organização
Mundial da Saúde (OMS) registou 694 ataques a
unidades de saúde na Cisjordânia, com hospitais e instalações de
saúde frequentemente cercados por forças militares, expressando os
profissionais de saúde um sentimento de insegurança, uma vez que são
frequentemente perseguidos, detidos, feridos e mesmo mortos, refere a MSF.
Também a destruição de
infraestruturas civis vitais, como estradas, condutas de água e sistemas de
abastecimento de energia elétrica tem agravado a situação, “em
especial nos campos de refugiados de Tulkarem e Jenin”, precisa a organização
não-governamental.
“Em zonas remotas e nos arredores de cidades como Jenin ou
Nablus, a situação é especialmente grave, uma vez que os doentes com doenças
crónicas, como os que necessitam de tratamento de hemodiálise regular, são
obrigados a ficar em casa devido aos obstáculos intransponíveis para chegar às
unidades de saúde”, refere também a MSF.
O documento da MSF vinca ainda que, além das frequentes
incursões militares israelitas, “a violência dos colonos e a expansão cada vez maior dos colonatos deixaram muitos palestinianos vulneráveis à
violência e com medo de se deslocarem na Cisjordânia”, precisando que, no
total, 1500 ataques de colonos israelitas contra palestinianos foram
comunicados pelo Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos
Humanitários (OCHA) entre outubro de 2023 e de 2024.
Em suma, a Médicos Sem Fronteiras sublinha que “o sistema de
saúde na Cisjordânia está sob imensa pressão e forçado a um estado de
emergência perpétuo” e que Israel, “enquanto potência ocupante, tem obrigações
jurídicas nos termos do Direito Internacional para garantir o acesso aos cuidados de saúde e
proteger os profissionais de saúde”, pelo que a organização lhe dirige um apelo
“para pôr fim à violência contra profissionais de saúde, doentes e instalações
médicas e para cessar de impedir o pessoal médico de realizar missões que
salvam vidas”.
Fonte: CNN Portugal, 6 de fevereiro de 2025
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