Chefe do Shin Bet diz que Netanyahu lhe pediu ajuda para adiar julgamento
Perry Mason
(1957-1966) - Catherine McLeod, Willard Sage
O diretor
do Shin Bet (serviços secretos internos israelitas) revelou hoje que o
primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, lhe pediu que elaborasse um parecer para
espaçar as suas comparências no tribunal que está a julgá-lo por corrupção
Ronen Bar fez esta revelação numa carta que escreveu ao
Supremo Tribunal de Israel para contestar a sua demissão pelo governo e que foi
hoje divulgada pela procuradora-geral da República, Gali Baharav-Miara.
“Durante o mês de novembro de 2024, o primeiro-ministro
pediu-me, em várias ocasiões, que emitisse um parecer sobre segurança afirmando
que as condições de segurança [no país] não permitiam a continuação do seu
depoimento no seu processo penal”, escreveu Ronen Bar.
Em visita oficial à Hungria, Netanyahu
já reagiu, afirmando que as acusações do diretor do Shin Bet são uma “teia de
mentiras”.
“Essa declaração é uma teia de mentiras”, declarou o
primeiro-ministro, citado num comunicado do seu gabinete.
“O primeiro-ministro discutiu com o diretor do Shin Bet como
tornar possível o seu testemunho em tribunal, dadas as ameaças de mísseis
contra Israel e contra ele em particular. A conversa incidiu sobre o local do
testemunho e não sobre a sua realização ou não”, acrescentou o gabinete do
chefe do executivo israelita no comunicado.
Depois de inúmeras tentativas para adiar a sua comparência
em tribunal, Netanyahu acabou por ser judicialmente obrigado a depor no
processo a decorrer contra ele mesmo por várias acusações de corrupção.
As audiências têm-se realizado todas as semanas, desde
dezembro, numa sala de audiências segura numa cave em Telavive.
Horas antes, a procuradora-geral anunciou ter concluído que
a decisão governamental de demitir o chefe do Shin Bet padecia de um vício
fundamental, um conflito de interesses do primeiro-ministro, Benjamin
Netanyahu.
“A decisão de pôr termo ao
mandato do chefe do Shin Bet é fundamentalmente viciada, manchada por um
conflito de interesses pessoais por parte do primeiro-ministro, devido às
investigações criminais que envolvem pessoas que lhe são próximas, e conduzirá”
à politização do cargo, declarou hoje Gali Baharav-Miara num
comunicado.
A procuradora-geral divulgou na nota de imprensa o parecer
pormenorizado que transmitiu ao Supremo Tribunal de Israel, no qual defende as
suas conclusões sobre este caso.
O Supremo deverá realizar a 8 de abril uma audiência para
analisar os recursos interpostos, nomeadamente pela oposição e pela própria
Baharav-Miara, contra a decisão do governo, de 21 de março, de demitir o
diretor da Agência de Segurança Interna (Shin Bet), Ronen Bar, depois de
Netanyahu ter declarado que já não podia ter qualquer confiança nele, nem a
nível profissional nem pessoal.
Netanyahu condena, em
especial, Ronen Bar por o seu departamento não ter conseguido prever ou impedir
o ataque de uma violência sem
precedentes do movimento islamita palestiniano Hamas a 7 de outubro de 2023 em
território israelita, que desencadeou, horas depois, a guerra ainda em curso na
Faixa de Gaza.
Mas a oposição israelita e uma organização não-governamental
(ONG) consideram que a decisão do governo foi
sobretudo ditada pelo desejo de Netanyahu de se livrar do chefe do departamento
que conduziu a investigação no âmbito da qual dois familiares seus estão
detidos, suspeitos de terem recebido subornos do Qatar.
O chefe do executivo israelita acusou hoje não só Ronen Bar
mas também a procuradora-geral, cuja demissão também pretende, de serem eles os
culpados de um “conflito de interesses”.
O anúncio, a 21 de março, da demissão de Ronen Bar, na
sequência de uma votação governamental, e, em menor escala, o processo de
destituição de Gali Baharav-Miara em seguida iniciado pelo governo reacenderam
os protestos contra o executivo.
Além dos manifestantes antiguerra, solidários com os reféns
israelitas em Gaza, que exigem um cessar-fogo - a única solução que, na sua
opinião, permitirá recuperar o maior número possível de sequestrados com vida,
numa altura em que Netanyahu e os seus aliados de extrema-direita defendem o
aumento da pressão militar -, há também milhares de pessoas que condenam a
deriva autoritária do governo liderado por Netanyahu.
Fonte: Lusa, 4 de abril de 2025
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