Israel diz que televoto espanhol na Eurovisão é uma "bofetada" a Pedro Sánchez
The Hunter's Prayer (2017) - Allen Leech, Dylan Miles-Davis
A
participação de Israel no festival gerou polémica devido à ofensiva em Gaza. A
representante israelita ficou em segundo lugar, atrás apenas da vencedora
Áustria
O ministro israelita da Diáspora e da Luta contra o
Antissemitismo considerou este domingo que a pontuação do televoto espanhol
recolhida pela canção de Israel no Festival da Eurovisão foi uma
"bofetada" na cara do primeiro-ministro de Espanha.
Na rede social X, Amichai Chikli, numa mensagem dirigida a
Pedro Sánchez, face aos 12 votos (o máximo) recolhidos pela canção israelita no
televoto espanhol, escreveu: "Sánchez, parece que os espanhóis falaram e a
bofetada na cara foi ouvida aqui em Jerusalém".
Chikli publicou a sua mensagem depois de a representante
israelita, Yuval Raphael, ter ficado em segundo lugar ao obter 357 pontos - 297
dos quais do televoto -, num Festival da Canção que prolongou a polémica de
2024 quanto à participação de Israel em plena ofensiva na Faixa de Gaza, que já
fez 53 mil mortos.
A Áustria venceu o concurso, que este ano teve lugar em
Basileia, na Suíça.
Chikli já criticara Sánchez em março, durante uma convenção
contra o antissemitismo organizada pelo seu departamento em Jerusalém, na qual
participaram vários membros de partidos europeus de extrema-direita, incluindo o Vox, de Espanha.
"Sánchez é um antissemita"
Na altura, afirmou que Sánchez é "um antissemita"
por ter encorajado a comunidade internacional a reconhecer o Estado da
Palestina "logo após o massacre de 7 de outubro" de 2023, perpetrado
pelo Hamas em território israelita".
"Não quero ter nenhuma ligação com Sánchez, não
respeito Sánchez", acrescentou.
As vaias voltaram à Eurovisão no sábado, na final da 69.ª
edição, durante a atuação da representante israelita, embora não tão
ruidosamente como em 2024.
No ano passado, a representante de Israel, Eden Golan, foi
vaiada por causa dos milhares de palestinianos mortos pela ofensiva militar
israelita em Gaza, um número que agora ascende a 53 000, com muitas crianças
vítimas.
Fonte: SIC Notícias, 18 de maio de 2025
Na edição de 2024 da Eurovisão, Israel obteve a pontuação máxima — os 12 pontos do televoto — dos seguintes países Austrália, Bélgica, Finlândia, França, Alemanha, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Portugal, São Marino, Espanha, Suécia, Suíça e Reino Unido, para além do agregado "resto do mundo". No total, somou 323 pontos no voto popular, uma métrica excecional, mas suspeita. Nas ruas há contestação e manifestações, no éden da Eurovisão todos aprovam Israel. A democracia do Médio Oriente obteve também 10 pontos — a segunda pontuação mais alta — dos júris nacionais da Albânia, Áustria, Chipre, República Checa, Moldávia, Eslovénia e da Irlanda, país geralmente identificado como um dos mais críticos da política israelita no contexto europeu.
A vulnerabilidade do sistema de televoto a campanhas coordenadas, manipulação algorítmica e operações de bots tem sido documentada desde pelo menos 2013, quando a EBU confirmou indícios de tentativas de compra de votos por parte de delegações nacionais.
Segundo investigação do jornal The Guardian (2013), “foram detetadas redes organizadas de manipulação dos televotos em vários países, incluindo a utilização de múltiplos cartões SIM e proxies digitais para falsear os resultados”. Em 2022, seis países foram excluídos da contagem original do júri por “padrões de votação irregulares”, e em 2023, a própria EBU admitiu ter ajustado resultados para garantir a “equidade e credibilidade do processo” — o que demonstra até que ponto o sistema se encontra tecnicamente frágil e politicamente permeável.
Os resultados israelitas revelam não apenas um alinhamento afetivo e simbólico no espaço da cultura pop, mas também a eficácia de uma estratégia de nation branding em ambiente mediático. Como observou Melissa Aronczyk, especialista em comunicação política:
“As campanhas de ‘marca nacional’ operam através da cultura, da arte e do entretenimento como formas de diplomacia suave — mas são, na sua essência, dispositivos de poder e engenharia reputacional” (Aronczyk, Branding the Nation, 2013).
A Eurovisão, nesse contexto, torna-se mais do que um festival musical: funciona como uma arena de disputa simbólica, tal como os Jogos Olímpicos, onde a política se esconde à vista de todos, sob a forma de coreografias, cantorias e televotos, cuidadosamente embalados pela organização num discurso de neutralidade política.
Na edição de 2025, Yuval Raphael arrecadou dos júris nacionais a seguinte pontuação: Azerbaijão 12 pontos. Holanda 5. Luxemburgo 1. Ucrânia 2. França 7. Dinamarca 3. Croácia 6. Irlanda. 7. Grécia 1. Finlândia 2. Alemanha 3. Albânia 5. Geórgia 1. Chipre 5.
E alcançou a pontuação máxima de 12 pontos do televoto em treze países: Espanha, Alemanha, Austrália, Azerbaijão, Bélgica, França, Luxemburgo, Países Baixos, Portugal, Reino Unido, Suécia, Suíça e o “resto do mundo”.
Recebeu também 10 pontos, a segunda classificação mais elevada, em seis outros países: Chipre, República Checa, Finlândia, Irlanda, Noruega e São Marinho. No total, apenas três países não lhe atribuíram qualquer ponto no televoto: Arménia, Croácia e Polónia.
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