Ataque israelita mata cardiologista palestiniano de renome e a sua família em Gaza
Perry Mason
(1957-1966) – Les Tremayne, Edward Mallory
“O meu
pai era apenas um médico, apenas um ser humano que cuidava de pacientes”, disse
Ahmad, de 17 anos, um dos filhos sobreviventes de Marwan Sultan, à NBC News,
com a voz trémula
O dr. Marwan Sultan fazia uma rara pausa no trabalho para
estar em casa com a família na quarta-feira quando, às 14h15, se tornou mais
uma estatística sombria: o 70.º profissional de saúde morto por fogo israelita nos
últimos 50 dias, segundo um grupo de monitorização palestiniano.
Pouco depois, no Hospital Al-Shifa, na Cidade de Gaza, uma
equipa da NBC News testemunhou familiares e colegas em luto a rodearem o
corpo de Sultan, um cardiologista de renome, que foi morto juntamente com a
esposa, a filha, o genro e a irmã.
Na morgue, funcionários do hospital limpavam o sangue do
rosto pálido e arranhado de Sultan, cujo corpo jazia envolto num lençol branco
manchado. De acordo com o vídeo, os visitantes abraçavam-no e beijavam-no, com
lamentos a ecoar por toda a sala.
“O meu pai era apenas um médico, apenas um ser humano que
cuidava de pacientes,” disse Ahmad, um dos filhos sobreviventes de Sultan, com
a voz a tremer.
Ahmad, de 17 anos, contou à NBC News que a sua
família se abrigava num apartamento em Gaza com outras cinco famílias
deslocadas quando a bomba israelita atingiu o edifício. Mais tarde, chorou nos
braços de um familiar.
Sultan era o diretor do Hospital Indonésio, uma das maiores
unidades médicas no norte da Faixa de Gaza, onde tratava os doentes e feridos
desde o início da guerra em outubro de 2023.
“Era um médico raro,” disse, entre lágrimas, o dr. Munir
Bursh, diretor-geral do ministério da Saúde, à NBC News. “Um homem de
profunda competência e de consciência ainda mais profunda. Não perdemos apenas
um médico — perdemos um homem que era linha de vida para tantos.”
A organização Healthcare Workers Watch, que monitoriza e
verifica ataques contra profissionais de saúde palestinianos, afirmou que
Sultan foi o 70.º trabalhador da área da saúde morto em ataques aéreos
israelitas nos últimos 50 dias.
Acrescentou que Sultan, professor associado na Universidade
Islâmica de Gaza, era um dos dois últimos cardiologistas restantes no enclave
sitiado.
As Nações Unidas estimam que mais
de 1400 profissionais de saúde morreram na guerra.
Bursh foi visto a abraçar o seu colega médico, dr. Mohammad
Abu Salmiya, diretor do Hospital Al-Shifa, enquanto ambos choravam junto ao
corpo de Sultan.
O exército israelita disse à NBC News que tinha como
alvo um “importante terrorista” do Hamas na zona da Cidade de Gaza e que estava a rever os
relatórios sobre o incidente envolvendo Sultan.
Acrescentou que lamentava qualquer dano causado a
“indivíduos não envolvidos” e que estava a tomar medidas para mitigar esse tipo
de consequências.
O ministério da Saúde palestiniano elogiou a “longa carreira
de entrega nos campos da medicina e da compaixão” de Sultan, durante a qual foi
“um símbolo de dedicação, firmeza e sinceridade nas circunstâncias mais
difíceis.”
Referindo-se à morte de Sultan, o ministério acusou ainda as
forças israelitas de um padrão mais amplo de assassinatos e detenções de
médicos em Gaza, mencionando os casos do dr. Ahmed Al-Kahlout e do dr. Hussam
Abu Safiya, do Hospital Kamal Adwan, que estão detidos por Israel há mais de
500 dias.
O exército israelita afirmou repetidamente que as
instalações médicas em Gaza estão a ser utilizadas como bases operacionais do
Hamas, locais de armazenamento de armas e esconderijos para operacionais entre
a população civil que nelas se abriga — uma acusação que os responsáveis de
saúde no enclave negam. O exército não respondeu quando questionado sobre se
tem como alvo médicos nas suas residências.
Familiares e amigos ainda estavam de luto pela morte de
Sultan quando, nas últimas 24 horas, ataques
aéreos israelitas mataram 130 palestinianos, incluindo 25 que
morreram enquanto esperavam por ajuda em locais de distribuição, segundo o dr.
Marwan al-Hams, diretor dos hospitais de campanha em Gaza.
(…).
O Comité Internacional da Cruz Vermelha, numa declaração
separada esta quarta-feira, afirmou estar “profundamente alarmado” com as
mortes causadas pela “intensificação das hostilidades” em Gaza nos últimos três
dias.
Os ataques ocorrem numa altura em que “o já devastado
sistema de saúde de Gaza luta para absorver um fluxo incessante de casos
críticos”, afirmou o Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV),
acrescentando que quase todos os hospitais públicos de Gaza foram encerrados ou
destruídos por ataques repetidos e por restrições impostas pelas autoridades
israelitas à entrada de ajuda médica.
“O CICV reitera urgentemente o seu apelo à proteção do
pessoal médico e das instalações de saúde em Gaza”, declarou ainda,
acrescentando: “Devem ser respeitados e protegidos para garantir uma tábua de
salvação para os feridos e doentes.”
Fonte: NBC News, 3 de julho de 2025
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