Irão tentou matar político em Madrid como aviso à União Europeia
Maria Kallio (2021) – Elena Leeve
O
atentado contra Alejo Vidal-Quadras, em 2023, numa rua de Madrid, pretendia ser
uma "vingança da sua atividade política em favor da resistência iraniana,
assim como avisar o governo de Espanha e a União Europeia"
A justiça espanhola prepara-se para julgar oito pessoas por
tentarem matar em Madrid, em 2023, um ex-dirigente do Partido Popular e do Vox
em nome do regime iraniano e como aviso a Espanha e à União Europeia.
O atentado contra Alejo Vidal-Quadras, em 9 de novembro de
2023, numa rua de Madrid, pretendia ser uma "vingança da sua atividade
política em favor da resistência iraniana, assim como avisar o Governo de
Espanha e a União Europeia de que não devia acolher os movimentos dessa
resistência, que o regime iraniano qualifica como terroristas", lê-se num despacho do juiz Santiago
Pedraz, da Audiência Nacional, a instância em Espanha que investiga e julga os
crimes mais graves.
No documento, datado de 9 de julho, a que a Lusa teve
acesso, o juiz processa oito pessoas, de diversas nacionalidades, acusadas de
crimes de pertença a associação criminosa e tentativa de homicídio terrorista.
Alejo Vidal-Quadras, hoje com
80 anos, foi atingido a tiro na cara em 9 de novembro de 2023 por um
homem que abandonou o local numa moto conduzida por outra pessoa e que acabou detido nos Países Baixos, meses mais tarde, depois de ter
inicialmente fugido para Portugal, segundo as conclusões da
investigação judicial contidas no despacho do juiz Santiago Pedraz.
A justiça espanhola lembra o percurso político de
Vidal-Quadras, ex-dirigente do Partido Popular de Espanha (PP, direita),
sobretudo o período em que foi eurodeputado e vice-presidente do Parlamento
Europeu (de 1999 a 2014), marcado pelo apoio à oposição iraniana e pelo
ativismo em defesa de diversos movimentos de resistência ao regime de Teerão,
como a organização 'Mujahidines' do Povo (MEK).
Uma atividade que levou a que fosse conhecido como "o
homem do MEK em Bruxelas", realça o juiz da Audiência Nacional de Espanha.
O apoio público à oposição iraniana prosseguiu depois de
deixar o PP e ter sido um dos fundadores do Vox, partido
de extrema-direita que reconheceu que fez uma campanha para as europeias de
2014 financiada em 80% pelo Conselho Nacional da Resistência do Irão (CNRI).
Aquando do atentado contra Vidal-Quadras, o CNRI sublinhou,
num comunicado, que se relacionou com o político espanhol nos últimos 25 anos e
destacou o "papel fundamental e inesquecível" que o fundador do Vox
desempenhou para que o movimento dos 'Mujahidines' do Povo do Irão fosse
retirado da lista de organizações terroristas da União Europeia (UE).
Assim, milhares dos seus membros foram protegidos no campo
de refugiados iraquiano de Ashraf, onde se encontravam, e transportados em
segurança para fora desse país.
No despacho judicial a que a Lusa teve acesso, a
justiça espanhola diz que o atentado contra Vidal-Quadras foi encomendado
diretamente aos oito acusados de o concretizar por pessoas cuja identidade não
conseguiu apurar durante a investigação. Mas não tem dúvidas sobre os
objetivos, que passavam por acabar com a vida de "uma personalidade de
referência a nível europeu da oposição ao regime iraniano".
Dias depois do atentado, em 14 de novembro de 2023, surgiu
"uma advertência" direta ao governo espanhol e outros países europeus
por parte do regime do Irão, realça ainda o despacho, que cita um texto da
agência de notícias semioficial iraniana Fars sobre as "consequências
graves" para Espanha do apoio à resistência e a opositores iranianos.
O juiz refere ainda que o Irão tem estado envolvido em
"operações encobertas" para "perseguir, intimidar e
inclusivamente assassinar opositores, dissidentes e vozes críticas" em
diversos países, havendo investigações abertas nos Países Baixos, Dinamarca ou
Reino Unido.
Alguns dos oito processados, que o juiz da Audiência
Nacional de Espanha envia para julgamento, têm antecedentes criminais e/ou
estão a ser investigados por outros crimes noutros países, segundo o mesmo
despacho.
Estão todos sob custódia das autoridades espanholas, menos um, Sami Bekal Bounouare, acusado de ser o organizador do atentado, que se encontra em "paradeiro desconhecido", embora haja suspeita de que se encontra no Irão.
Nacionalidade: Espanhola/marroquina
Alcunhas: Colomo, Pacho, Pachito, Swilleh
Data de nascimento: 28/09/1997
Naturalidade: Palma (Espanha)
Altura: 1,85 m
Cor do cabelo: Preto
Cor dos olhos: Castanhos
Fala: Holandês, espanhol, francês, árabe marroquino e provavelmente inglês
Este homem, nascido em Espanha há 27 anos, já foi vinculado
pela justiça e polícias de outros países a outros homicídios e tentativas de
homicídio de ativistas iranianos e iraquianos, e já esteve preso em Itália por
tráfico de drogas, como lembra a Audiência Nacional espanhola.
O julgamento dos oito acusados não tem data para começar e a
sua realização depende ainda de alguns procedimentos judiciais em Espanha.
Alejo Vidal-Quadras, que ficou com sequelas físicas do
atentado, acusou sempre o regime iraniano de estar por trás do ataque.
Fonte: Lusa, 19 de julho de 2025
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