A jogada de Trump pelo esquivo acordo de paz no Cáucaso do Sul

Crank: High Voltage (2009) - Amy Smart

Todos querem tirar proveito deste desanuviamento iminente entre o Azerbaijão e a Arménia, enquanto os seus líderes se reúnem hoje na Casa Branca

O presidente dos EUA, Donald Trump, espera que o primeiro-ministro arménio, Nikol Pashinyan, e o presidente azeri, Ilham Aliyev, estejam preparados para a paz quando se encontrarem esta sexta-feira na Casa Branca.

Espera-se que os dois líderes assinem um acordo-quadro que incluirá, segundo se relata, direitos exclusivos de desenvolvimento comercial norte-americano sobre uma rota de 43 quilómetros através da região arménia de Syunik. Este corredor terrestre atravessará território arménio para ligar o Azerbaijão continental ao seu enclave de Nakhichevan e à Turquia — uma das principais pedras no sapato das negociações até agora.

Se isto resultará ou não num Cáucaso do Sul mais pacífico, estável e próspero, continua por responder. A região, rodeada pela Rússia, Turquia e Irão, tem-se revelado, no passado, um campo difícil para a manobra estratégica de Washington.

Nos últimos anos, a Arménia e o Azerbaijão têm estado envolvidos num processo de negociação para resolver o seu conflito de décadas. Esse processo atingiu uma espécie de ponto alto em março, quando ambas as partes anunciaram que tinham finalmente acordado o texto de um tratado de paz, depois da Arménia ter aceitado dois artigos anteriormente não resolvidos. No entanto, o Azerbaijão impôs várias pré-condições — incluindo alterações à constituição da Arménia — antes de assinar o documento.

Como aqui chegámos

O Azerbaijão emergiu vitorioso, confiante e assertivo após reatar as hostilidades com uma guerra de seis semanas pela região disputada de Nagorno-Karabah no final de 2020. Sentindo-se ainda mais fortalecido pelos desenvolvimentos geopolíticos desde então, Baku tem seguido frequentemente uma agenda coerciva e maximalista face à Arménia.

A situação complicou-se ainda mais com o crescente descontentamento, por parte do governo e da sociedade arménia, em relação à Rússia — seu aliado nominal. Esta crise nas relações agravou-se à medida que Moscovo permaneceu praticamente inerte perante sucessivas escaladas militares do Azerbaijão, tanto em território arménio reconhecido internacionalmente (cerca de 200 km² ainda ocupados atualmente), como em Nagorno-Karabah, culminando com a expulsão de mais de 100 mil arménios étnicos da região em setembro de 2023.

Os reveses iniciais da Rússia na Ucrânia e o corte drástico nas trocas comerciais e energéticas com a União Europeia — devido às sanções — tornaram Moscovo cada vez mais dependente do Azerbaijão e da Turquia. Essa dependência traduziu-se numa recusa tácita em intervir contra as táticas de pressão violenta sobre a Arménia ou em condenar publicamente as ações de Baku — para grande desagrado de Erevan.

A subsequente mudança de direção da Arménia para o Ocidente provocou, no entanto, fortes reações por parte de alguns na Rússia. A iniciativa arménia (e azeri) de marginalizar efetivamente o envolvimento russo na rota de trânsito acima referida agravou ainda mais as relações.

Apesar disso, embora Erevan e Moscovo troquem retórica agressiva, ambas as partes mantêm cautela para não ultrapassar linhas vermelhas. A Arménia continua a ser membro oficial da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC) e da União Económica Euroasiática (UEEA) e aumentou até o seu comércio com a Rússia. Moscovo, por sua vez, não tomou quaisquer medidas retaliatórias significativas contra a economia arménia, altamente dependente da Rússia. De forma reveladora, o presidente russo Vladimir Putin tem mantido um tom contido nas suas declarações sobre a Arménia e Pashinyan.

À medida que Erevan tenta agora afastar-se da Rússia e reduzir a sua dependência crítica — sobretudo nos setores da energia e do comércio — restam poucas alternativas além de uma política que vise desbloquear a fronteira com a Turquia, fechada desde 1993, e permitir assim relações comerciais diretas com Ancara.

A Arménia espera também que uma fronteira aberta com a Turquia possa criar novas oportunidades para expandir os seus laços com parceiros europeus e outros atores internacionais.

Contudo, o principal obstáculo a esse processo reside na exigência turca de que a normalização com a Arménia esteja diretamente condicionada à assinatura de um acordo de paz entre Erevan e Baku. Por sua vez, o Azerbaijão afirma que o acordo já finalizado só será assinado quando as suas pré-condições forem integralmente cumpridas — entre elas, a exigência de um corredor de trânsito ininterrupto até ao enclave de Nakhichevan. Se o acordo for concluído, esse corredor ligaria efetivamente a Turquia ao Azerbaijão e, através do Mar Cáspio, à Ásia Central, contornando os territórios do Irão e da Rússia.

A Arménia, que declarou a sua soberania e jurisdição sobre o corredor como uma linha vermelha, está agora a procurar todos os meios disponíveis para resistir à pressão contínua do Azerbaijão. Este esforço tem levado a um aumento da dependência arménia dos EUA, da UE e, paradoxalmente, também da Turquia — enquanto Erevan tenta avançar com a sua chamada “agenda de paz”.

Ligações Irão-Israel

Ligações entre o Irão e Israel

Para o Irão, que partilha fronteira a noroeste tanto com a Arménia como com o Azerbaijão, quaisquer planos extraterritoriais na região arménia de Syunik são vistos como uma linha vermelha inegociável.

No final de julho, Ali Akbar Velayati, conselheiro sénior para os assuntos internacionais do Ayatollah, fez declarações duras sobre o assunto e sobre o eventual envolvimento dos Estados Unidos. “O objetivo principal”, afirmou, “é enfraquecer o Eixo da Resistência, cortar a ligação do Irão com o Cáucaso e impor um bloqueio terrestre ao Irão e à Rússia no sul da região.” Velayati acrescentou ainda que o “projeto faz parte da estratégia americana de transferir pressões da Ucrânia para o Cáucaso, e conta com o apoio da NATO e de certos movimentos pan-turquistas.”

O porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão, no entanto, adotou recentemente um tom mais pragmático.

Uma preocupação particular para o Irão prende-se com o aprofundamento das relações entre o Azerbaijão e Israel.

Estão em curso esforços significativos em Washington, Telavive e Baku para integrar este país de maioria xiita nos Acordos de Abraão. O enviado especial de Donald Trump, Steve Witkoff, fez uma visita discreta a Baku em meados de março para discutir esse tema com a liderança do país. Segundo uma reportagem recente da Reuters, os EUA consideram que o conflito do Azerbaijão com a Arménia constitui um “obstáculo chave”, dado que Washington vê um acordo de paz como “pré-condição” para a adesão aos Acordos.

No entanto, no mundo muçulmano, as relações Azerbaijão-Israel já são das mais avançadas. Após anos relativamente discretas, a ofensiva de Baku em 2020 expôs a presença significativa de armamento israelita nos arsenais azeris. Segundo o Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI), entre 2016 e 2020, cerca de 70% das importações de armamento pesado do Azerbaijão tiveram origem em Israel.

Em contrapartida, o Azerbaijão fornece entre 40% a 60% das necessidades energéticas de Israel, e Baku procura atualmente expandir a sua cooperação energética com Telavive. É também amplamente assumido que Israel conduz operações de espionagem a partir do território azeri, especialmente junto à fronteira sul com o Irão. De facto, após a guerra de 12 dias em junho, Teerão apelou a Baku para investigar relatos de que drones israelitas estariam a utilizar o espaço aéreo do Azerbaijão — uma alegação que Baku nega veementemente.

Com o Irão enfraquecido e a preparar-se para uma guerra futura antecipada, e a Rússia ainda obcecada com a Ucrânia, os EUA e a Turquia parecem ver nesta conjuntura uma janela de oportunidade para reforçar a sua influência e fazer avançar os seus interesses no Cáucaso do Sul.

Permanecem, no entanto, duas questões centrais: o aumento da presença americana e turca na região irá exacerbar ou apaziguar as tensões mais amplas? E qual é, de facto, a durabilidade do compromisso norte-americano no Cáucaso do Sul sob a atual administração?

O que os desenvolvimentos em curso parecem sinalizar com clareza é que uma nova luta pela influência no Cáucaso está apenas a começar a aquecer.

Artin DerSimonian

Fonte: Responsible Statecraft, 8 de agosto de 2025

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