Israel acusa ONG de não cumprirem requisitos de segurança para entregar ajuda em Gaza
Crank: High
Voltage (2009) - Keone Young, Jason Statham
O Exército israelita acusou hoje as mais de cem organizações
não-governamentais (ONG) que se queixam de não conseguirem levar ajuda
humanitária à Faixa de Gaza de não cumprirem “requisitos básicos de segurança”.
Entre os requisitos, o organismo militar responsável por
supervisionar a entrega de ajuda no território cercado, o COGAT, está a exigência de fornecer informações sobre os seus
trabalhadores, para, segundo Israel, evitar que o grupo islamita Hamas,
que controla o enclave, beneficie da distribuição.
O organismo militar reagiu assim a um comunicado assinado
por mais de uma centena de ONG – entre elas a Plataforma Portuguesa das
Organizações Não-Governamentais para o Desenvolvimento (ONGD), Cáritas, Oxfam
ou os Médicos Sem Fronteiras (MSF) – em que denunciam que Israel não lhes
permitiu entregar um único camião com abastecimentos desde março.
“O alegado atraso na entrada de ajuda, segundo as
organizações signatárias, só acontece quando estas decidem não cumprir os
requisitos básicos de segurança, concebidos para evitar o envolvimento do
Hamas”, afirmou o COGAT nas redes sociais.
Estes “requisitos” dizem respeito a uma nova regulamentação,
aprovada no início de março pelas autoridades israelitas, que obriga as
organizações internacionais a registar informações sensíveis sobre os seus
trabalhadores palestinianos.
No comunicado, as ONG alertaram que este registo pode pôr em
risco os seus funcionários e recordaram que 98%
dos trabalhadores humanitários mortos em todo o mundo são palestinianos.
Segundo o COGAT, o processo de registo assenta em “critérios profissionais e de segurança claros”, concebidos para impedir “a infiltração
de elementos terroristas”, numa referência a membros do Hamas. Israel acusa,
sem apresentar provas, este grupo islamita de se apropriar da ajuda humanitária
que entra em Gaza.
“A recusa de algumas organizações internacionais em fornecer
informações e cooperar com o processo de registo levanta sérias dúvidas sobre
as suas verdadeiras intenções”, acrescentou o organismo militar israelita.
Desde o início da ofensiva israelita contra Gaza, após os
ataques do Hamas de 7 de outubro de 2023, foram
mortos no enclave 508 trabalhadores humanitários: 346 da ONU, 51 do
Crescente Vermelho Palestiniano, quatro do Comité Internacional da Cruz
Vermelha (CICV) e 107 de outras organizações, segundo dados do Escritório das
Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
No comunicado, as 102 organizações não-governamentais
afirmaram que as autoridades israelitas impõem efetivamente restrições à
entrada de ajuda na Faixa, ao contrário do que defende Israel, e que milhões de
dólares em alimentos, medicamentos e água estão retidos em armazéns na Jordânia
e no Egito “enquanto os palestinianos passam fome”.
O COGAT afirmou, por seu lado, que na quarta-feira entraram
em Gaza 380 camiões com ajuda humanitária; outros 400 foram recolhidos e
distribuídos no enclave pela ONU e outras entidades, e 119 paletes de alimentos
foram lançadas por via aérea por seis países.
De acordo com as organizações humanitárias, deveriam entrar na
Faixa pelo menos 500 camiões por dia, cada um com cerca de 25 toneladas de
carga. Dados oficiais israelitas indicam que, em junho, entravam diariamente entre 50 e 100 camiões.
Desde o final de julho, quando foram anunciadas pausas
humanitárias, começaram a entrar 200 por dia, número que subiu para cerca de
300 atualmente, enquanto o governo de Gaza diz que o total não ultrapassa os
100.
Na declaração, as ONG denunciaram que Israel ameaçou proibir
a atuação das principais organizações de ajuda humanitária nos territórios
palestinianos, numa altura em que se agrava a fome na Faixa de Gaza e
expressaram “alerta e repúdio” face à decisão israelita de banir as grandes
organizações internacionais de ajuda humanitária de Gaza, ao mesmo tempo que a
fome se agrava no enclave palestiniano.
Fonte: Lusa, 14 de agosto de 2025
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