Marwan Barghouti. O "Mandela palestiniano" que mantém viva a solução de dois estados
Em dezembro de 2004, três semanas após a morte de Yasser
Arafat, Marwan Barghouti candidatava-se à corrida eleitoral pela sucessão
contra Mahmoud Abbas. Decidira desafiar o candidato do seu próprio partido à
presidência da Autoridade Palestiniana e as sondagens apontavam para uma
disputa renhida entre os dois homens da Fatah nas eleições do mês seguinte.
À data, a revista The Economist apelidava-o de
“jovem” apesar dos seus 45 anos. Abbas tinha 69, Arafat morrera com 75 e a sua
popularidade desafiava a de qualquer membro da “velha guarda” da Fatah,
regressada do exílio em meados dos anos 90, enquanto Marwan vinha sendo uma das
figuras de proa nas ruas da Cisjordânia desde a década de 80. Líder popular na
Primeira Intifada (1987-1993), tornou-se um dos rostos mais destacados na
Segunda (2000-2005), enquanto líder do braço armado do partido, acreditando no
uso da violência política como moeda de troca nas negociações por um estado
palestiniano.
Nesse final de 2004, Barghouti acabou por se retirar da
eleição presidencial que Abbas ganharia com maioria absoluta. E continuou onde
estava desde 2002: numa prisão israelita, condenado a 40 anos e cinco penas
perpétuas pelo alegado envolvimento em ataques terroristas que mataram cinco
cidadãos israelitas. Tornou-se, nas duas décadas seguintes, no mais proeminente
prisioneiro palestiniano nas prisões do estado ocupante.
Defensor da solução dos dois estados, advogava uma reforma
democrática da Fatah, denunciava a corrupção da velha elite que a liderava e os
sistemáticos abusos das suas forças de segurança na Autoridade Palestiniana, um
proto estado que emergira dos Acordos de Oslo (1993) como modelo de transição
até à fundação de um estado palestiniano soberano.
Em 2006, havia eleições legislativas e uma nova oportunidade
de desafiar os senadores do partido. Um grupo de dissidentes anunciou, então, a
criação de uma alternativa: o movimento Al-Mustaqbal (O Futuro), encabeçado por
Marwan.
Mas a dissidência durou pouco. Duas semanas depois, o
partido anunciou uma lista única ao parlamento palestiniano. Marwan Barghouti
liderava-a. Analistas viram nisto uma jogada calculada para demonstrar a
lealdade dos reformistas ao movimento da Fatah. Foi eleito deputado, a partir
da prisão, nessas que foram as últimas eleições na Palestina. O Hamas ganhou a
maioria dos assentos parlamentares e, apesar de observadores internacionais não
terem detetado interferências nos resultados, a presidência da Fatah e uma
coligação de países ocidentais bloqueou o seu governo.
À medida que confrontos armados entre militantes da Fatah e
do Hamas ameaçavam escalar para uma guerra civil em Gaza, em maio de 2006, a
partir da prisão israelita de Hadarim, Marwan impulsionou a escrita do
Documento dos Prisioneiros. Um apelo à unificação dos partidos palestinianos.
Reivindicava o direito de retorno dos refugiados e a fundação do estado da
Palestina nas fronteiras anteriores à invasão de 1967. Assinado por cinco
presos, entre eles representantes do Hamas e da Jihad Islâmica, refletia a anuência
dos dois partidos ao reconhecimento, implícito, do estado de Israel.
“Isto é aquilo por que Marwan sempre lutou: a unificação dos
partidos e do povo palestiniano”, reflete, em entrevista, o irmão Moqbel
Barghouti. A sua visão implica não só a reforma da Fatah, como uma relação
construtiva entre os movimentos palestinianos seculares e os partidos
islâmicos. Via em Ismail Haniyeh, líder político do Hamas, assassinado pelo
exército israelita em Teerão, em 2024, um aliado nesse objetivo. “Marwan é uma
pessoa do diálogo”, para quem “sempre foi extremamente claro que a única solução”
para a autodeterminação palestiniana ao fim de 77 anos de colonização era a
existência de dois estados, afirma.
Antes da prisão, Marwan Barghouti estabeleceu relações
estreitas com políticos israelitas. Fluente em hebraico, falava-lhes na mesma
língua. Aprendeu a ser essa “figura de consenso" com Yasser Arafat, de
quem era muito próximo, caracteriza Moqbel. Descreve o irmão como o herdeiro
das suas ideias políticas. E como ambos se inspiravam no percurso de Nelson
Mandela.
Ainda hoje as sondagens o apontam como um líder difícil de
contestar em futuras eleições. "Esse é o mais importante dos motivos por
que ele continua preso: o povo palestiniano quer que Marwan Barghouti seja o
seu líder”, aponta Moqbel. Em vários momentos ao longo das duas últimas
décadas, a sua libertação numa troca de prisioneiros pareceu iminente: em
particular, em 2010 e 2011, aquando das negociações para libertar o soldado
israelita Gilad Shalit, detido em Gaza em 2006. E desde outubro de 2023, cada
vez que há negociações de um cessar-fogo em Gaza”, o Hamas coloca sempre o seu
nome no topo da lista de exigências.
Marwan sempre foi enfaticamente adjetivado nos meios de
comunicação internacionais: “o príncipe da resistência”, “o Mandela
palestiniano”, “o prisioneiro mais importante do mundo.” “Festejaremos em breve
a sua libertação”, acredita o irmão Moqbel. “Mas o mais importante para todos
os palestinianos", antes disso, “é que se acabe com o genocídio em Gaza”.
Quem é Marwan Barghouti?
Marwan nasceu em 1959 em Kobar, a pouco mais de dez
quilómetros de Ramallah, a capital administrativa da Autoridade Palestiniana.
Fez oito anos na semana em que a aldeia, assim como Jerusalém Oriental, Gaza e
toda Cisjordânia, foi ocupada pelo exército israelita, em 1967. A sua terra foi
mais tarde dividida pelos Acordos de Oslo, em 1995, em duas parcelas: pouco
mais de metade está dentro daquilo que é considerado a área A, onde a
Autoridade Palestiniana tem maior controlo administrativo e securitário, e a restante
na área C, sob autoridade militar israelita.
Desde então, nas colinas em redor da aldeia,
multiplicaram-se os colonatos. Descendo o vale, novas caravanas e
pré-fabricados denunciam o crescimento recente destes assentamentos ilegais à
luz do direito internacional, forçando pastores beduínos, que vivem nos
arredores da aldeia, a deslocar os abrigos de gado e áreas de pastoreio para
fugir da violência dos colonos sionistas. Desde 7 de outubro de 2023, são cada
vez mais e mais violentos os seus ataques aos campos e armazéns agrícolas,
casas e pessoas palestinianas — muitas vezes com respaldo do exército
israelita.
O mais recente colonato em
Kobar, na colina ocidental da aldeia, foi criado em março. Passado
um mês, depois de várias pessoas terem sido atacadas, duas delas assaltadas e
raptadas durante várias horas, uma família foi forçada a deixar a sua casa. Em
junho, o mesmo aconteceu com quatro outras — 29 pessoas, 19 delas crianças —,
após milícias de colonos armados terem incendiado as suas propriedades e as
intimidado a não voltar, reportou a Organização das Nações Unidas (ONU). Um
reflexo da escalada de violência e repressão contra palestinianos que se tem
intensificado por toda a Cisjordânia ocupada.
Marwan tinha 11 anos quando a
colonização israelita se tornou um assunto pessoal, recorda o irmão Moqbel,
sete anos mais novo. Passeava o seu cão na rua quando um militar israelita que
patrulhava a aldeia o matou a tiro.
Vindo de uma família proeminente na luta pela
autodeterminação palestiniana, começou por se envolver na resistência
não-violenta organizada pelo partido comunista. Depois das aulas, ia para a
frente dos protestos em Ramallah. Aos 15 anos, juntou-se à Fatah, movimento
secular que dominava a coligação de partidos palestinianos, a Organização para
a Libertação da Palestina (OLP), e coordenava ataques violentos contra Israel a
partir do exílio.
Aos 18 anos, foi detido em
casa, numa rusga noturna, pelo seu envolvimento na luta armada. Nos
quatro anos e meio em que esteve preso, completou o ensino secundário e estudou
hebraico. Regressado a casa em 1983, foi estudar na universidade de Bir Zeit,
onde a sua capacidade de mobilização o fez ganhar protagonismo como dirigente
estudantil e continuar o percurso político que o levaria a tornar-se um dos
líderes mais influentes da “jovem guarda” da Fatah. Quando, em 1987, estalou
uma grande revolta popular contra o avanço da colonização israelita — a
Primeira Intifada, ou “Intifada das Pedras” —, ocupou um lugar central nas ruas
da Cisjordânia, até ser deportado para a Jordânia.
Viveu sete anos no exílio com a mulher, Fadwa Barghouti,
organizadora comunitária e advogada, e os filhos. Tornou-se o mais jovem membro
do Conselho Revolucionário da Fatah, em 1989. E, em 1994, a assinatura dos
Acordos de Oslo permitiu-lhe regressar à Palestina. Arafat aceitara, sem
consultar a sua delegação diplomática, os termos definidos por Israel para
controlar grande parte da Cisjordânia. Marwan foi vocal no apoio ao compromisso
aí firmado com a solução dos dois estados, mas também no quanto duvidava que
Israel fosse devolver o território que ocupara em 1967 de forma a permiti-lo.
Perante isso, acreditava que a resistência armada era uma forma legítima de
forçar a ocupação a cumprir o acordo e permitir a fundação de um estado
palestiniano.
Em 1996, fazendo campanha contra a corrupção e violações dos
direitos humanos da administração de Yasser Arafat, foi eleito deputado no
recém-criado parlamento palestiniano.
Tudo mudou com o espoletar da Segunda Intifada, em 2000. Os
partidos palestinianos assumiram um protagonismo que não tiveram no primeiro
levantamento popular. Tendo cedido a Israel em quase todos os pontos nas
negociações de Oslo, a Autoridade Palestiniana e a OLP procuravam, então,
restabelecer as suas credenciais nacionalistas. A popularidade de Marwan
Barghouti disparou com a sua liderança dos Tanzim, o braço armado da Fatah, e
tornou-se um dos combatentes mais procurados pelas autoridades israelitas, alvo
de várias tentativas de assassinato.
“Embora eu e o movimento Fatah, ao qual pertenço, nos
oponhamos veementemente aos ataques e aos alvos civis dentro de Israel, o nosso
futuro vizinho, reservo-me o direito de me proteger, resistir à ocupação
israelita do meu país e lutar pela minha liberdade”, escreveu num artigo de
opinião no The Washington Post, em janeiro de 2002, enquanto decorria a
invasão militar de Ramallah. “Se se espera que os palestinianos negociem sob
ocupação, então deve-se esperar que Israel negocie enquanto resistimos essa
ocupação. (...) Não nos esqueçamos de que nós,
palestinianos, reconhecemos Israel em 78% da Palestina histórica. É Israel que
se recusa a reconhecer o direito de a Palestina existir nos restantes 22% do
território ocupado em 1967.”
Dezoito dias antes de ser encontrado pelo exército
israelita, Marwan começou a ditar a Fadwa Barghouti o seu testamento. Foi preso
a 15 de abril de 2002. Durante o julgamento, recusou-se a reconhecer a
legitimidade de Israel para o deter em território ocupado e de um tribunal
civil em Telavive o julgar, enquanto deputado eleito. “Este julgamento é tão
ilegal e imoral como a ocupação do meu país”, disse ao juiz.
Os serviços secretos e o tribunal israelita acusavam-no de
liderar uma coligação de milícias associada à Fatah — as Brigadas dos Mártires
de Al-Aqsa — e coordenar quatro ataques contra civis e forças de segurança
israelitas, em que foram mortas cinco pessoas, feridas várias dezenas.
Barghouti negou as acusações.
Os primeiros três anos de prisão passou-os numa cela
solitária. A sua última entrevista filmada é de janeiro de 2006, à única
jornalista ocidental autorizada por Israel a fazê-lo, a britânica Lindsey
Hilsum do Channel 4. Relatava-lhe ser essa a primeira vez em quatro anos
que via alguém de fora da prisão. “Os israelitas consideram que todos os que se
opõem à ocupação são terroristas”, afirmou Marwan. “As últimas pessoas no mundo
que podem falar sobre terror, penso eu, são os israelitas."
Nessa entrevista, nas vésperas das primeiras eleições
legislativas em que o Hamas se apresentava, após boicotar as de 1996, o
dirigente da Fatah congratula-se pela pressão que fizera aos prisioneiros do
partido para persuadir a liderança a concorrer. Interpretava essa decisão como
um sinal histórico de que o Hamas estava “pronto para trabalhar de acordo com
as regras da democracia”. Marwan Barghouti convenceria vários dirigentes
israelitas de que teria mais hipóteses de unir os movimentos palestinianos em torno
da solução de dois estados do que qualquer outro líder na Palestina.
Quem pede a sua libertação?
Dentro do aparelho militar israelita, diversos opositores do
primeiro-ministro Benjamin Netanyahu advogaram publicamente pela sua
libertação, como forma de agregar a sociedade palestiniana em torno de um
político que lhes parece disposto a negociar com Israel.
Na última década, o antigo diretor da agência de espionagem
israelita, Mossad, Efraim Halevy tem-no repetido. Admitiu que, apesar de Israel
conseguir que a Autoridade Palestiniana promova ou destitua pessoas à sua
vontade, fazendo uso de chantagem económica e militar, as inúmeras tentativas
de interferência na escolha de líderes palestinianos falharam, descreveu ao Haaretz,
em 2016. “Se ele é a pessoa que os palestinianos escolheram, temos de falar com
ele”, disse, comparando a sua condição à de Nelson Mandela — que “também era um
terrorista”. No passado julho, repetiu à France 24 que o considerava a
pessoa “mais sã e qualificada” para “liderar os palestinianos”.
Em 2024, também um antigo líder militar e dos serviços de
segurança interna Shin Bet, Ami Ayalon, o apontou como “o único que pode
liderar os palestinianos para um estado ao lado de Israel”.
E será a libertação de Marwan Barghouti uma ameaça à
cúpula da Autoridade Palestiniana?
Moqbel Barghouti, que até aqui respondia em árabe, dá-nos
uma perentória resposta em inglês: "Sure". “Com certeza. Isso não é
um segredo." Mahmoud Abbas e a atual liderança da Fatah não têm interesse
na libertação de um prisioneiro que lhes faria frente, diz o irmão. Na sua
opinião, isso não reflete, no entanto, a vontade dos militantes do partido.
Porta-vozes da Fatah sempre negaram as notícias, baseadas em fontes anónimas
presentes nas negociações, de que o partido se opõe à libertação de Marwan.
Que importância pode ter ele fora da prisão? O irmão Moqbel
defende que conseguiria unir o povo palestiniano através de eleições, liderar a
reconstrução de Gaza e impulsionar uma negociação política com vista à
autodeterminação da Palestina. "Marwan é uma das pessoas que mais se
preocupa em promover uma verdadeira via democrática. O que as pessoas esperam
dele é que se possa começar a construção de um estado moderno."
“A vida nas prisões tornou-se um inferno"
Dentro da prisão, Marwan Barghouti doutorou-se em Ciência
Política pela universidade do Cairo e criou uma espécie de faculdade de
História e Política para os restantes prisioneiros, retrata o irmão. Era,
então, possível esse tipo de organização durante o encarceramento, essencial à
politização de gerações de líderes da resistência palestiniana.
Mas depois do “7 de outubro,
a vida nas prisões tornou-se um inferno", descreve Moqbel
Barghouti, ele mesmo funcionário no ministério dos Assuntos dos Detidos e
Ex-Detidos na Autoridade Palestiniana. Do dia para a noite, a rotina foi
desmantelada, as rusgas militares generalizadas e o isolamento
institucionalizado. Não há telemóveis, livros, televisões, rádios nem jornais.
As horas de ar livre foram cortadas. A comida, racionada. Várias prisões
passaram a ser controladas pelo exército. Acabaram as visitas mensais de
familiares e amigos — só entram advogados.
Antigos presos e várias organizações de direitos humanos,
incluindo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, têm
denunciado múltiplos casos de privação de comida e fome intencional, de
sobrelotação de celas ao ponto de o ar se tornar rarefeito, de falta de
cuidados médicos, produtos de higiene e roupa, da propagação generalizada de
sarna, que infetou milhares de prisioneiros nos últimos meses, de abuso sexual,
violação e tortura.
Um homem libertado em fevereiro (anónimo, por temer
represálias) conta-nos como em 20 anos de prisão nunca vira brutalidade como
aquela que viveu nos primeiros dias após o 7 de outubro de 2023. A comida, que passaram a receber diretamente para as
mãos, sem pratos ou talheres, foi
reduzida ao ponto de ter sempre fome. A quantidade de arroz não
chegava para encher uma chávena de café.
Passara seis meses sem lavar a única roupa que tinha,
enfrentando o inverno com roupa de verão, só tendo mudado quando um dos 12
companheiros de cela foi libertado e lhe deixou a sua. Passara seis meses sem
sair desse espaço sobrelotado de onde não se via o sol.
Descreve como era algemado,
pelos pés e pelas mãos, a cada visita do ministro da Segurança Nacional Itamar
Ben-Gvir — supremacista sionista,
antigo recluso por incitamento ao racismo e apoio a uma organização terrorista.
No dia em que foi libertado, diz que guardas lhe
bateram tanto que lhe partiram alguns dentes.
A ONU ouviu testemunhos de homens e mulheres torturados com
música tão alta que os seus ouvidos sangraram, atacados por cães, suspensos no
teto, vítimas de afogamento simulado e violência sexual grave.
A família de Marwan Barghouti teve notícia do seu repetido espancamento por guardas prisionais, bem como da tortura por privação de sono e de longos meses de isolamento, apontando que nenhum recluso está seguro.
"Há torturas diárias de todos os prisioneiros",
denuncia Moqbel Barghouti, como parte da “campanha de punição coletiva”
empreendida por Israel após os ataques liderados pelo Hamas a 7 de outubro de
2023.
Nos 22 meses desde então, à medida que o exército israelita
multiplicou os postos de controlo e as invasões militares na Cisjordânia,
duplicou o número de palestinianos nas suas prisões. São atualmente 10 800 pessoas, um terço delas presas sem acusação ou
julgamento, mais de 450 menores de idade, segundo a Sociedade dos
Prisioneiros Palestinianos. É um aumento de quase 250 reclusos a cada mês.
Neste período, 76 morreram
encarcerados. Nunca como agora as prisões israelitas foram um lugar
tão perigoso para os prisioneiros palestinianos, assinala a organização
não-governamental.
Testemunhos apontam para a particular violência dos abusos
físicos e psicológicos infligidos aos cerca de 2300 detidos em Gaza. Presos não
em prisões, mas em centros de detenção militares, como o de Sde Teiman, onde há denúncia de homens serem
agredidos, algemados com os olhos vendados e usando fraldas, contidos em
jaulas, amputados por falta de cuidados de médicos adequados, eletrocutados,
queimados com cigarros, chantageados e ameaçados, privados de água, comida e
sono.
Moqbel Barghouti, irmão de Marwan, acredita que a punição
coletiva dos últimos 22 meses mudou o olhar internacional sobre o povo
palestiniano. "Antes, a causa palestiniana estava a ser esquecida. A 7 de
outubro, o mundo redescobriu o nosso sofrimento e a nossa raiva. Hoje, à custa
de muito sangue, a Palestina está dentro de todas as casas."
O crescimento dos protestos pró-palestinianos dá-lhe
esperança de que o reconhecimento do segundo estado se tenha tornado uma
inevitabilidade para Israel — a force a negociar. Está convicto que a sociedade
israelita perceberá, em breve, que “o genocídio em Gaza acabará com a política,
a economia e a vida social” a que se habituaram, porque o isolamento
internacional do seu estado será cada vez maior. "Tornou-se claro que
[Benjamin] Netanyahu, [Itamar] Ben Gvir e [o ministro da Defesa, Bezalel] Smotrich
não oferecem nem segurança nem esperança a ninguém. E a sociedade israelita
perceberá que a única solução é acabar com isto."
Para isso, defende que Israel tem de encontrar o seu F. W.
de Klerk, o último presidente do apartheid da África do Sul (1989-1994), que
participou nas negociações pelo seu desmantelamento e se tornou vice-presidente
de Nelson Mandela no mandato seguinte (1994-1996). "Não há outra solução
que não vivermos nesta terra como vizinhos."
Fonte: CNN Portugal, 24 de agosto de 2025
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