Tomás Taveira e idade de ouro portuguesa



O filme “Tavares o Arquiteto Quebra-bilhas” (2010), merecia justo lugar na Torre do Tombo, pareado com a bula Manifestis Probatum, o relatório da sanidade mental do beato Nuno Álvares, os “Apelos da Mensagem de Fátima” da irmã Lúcia, ou o fado da Mariquinhas. O argumento não versa o traumatizante encerramento, pela Opus Dei, do Quebra Bilhas do Campo Grande, mas um facto fulcral da História lusa, do final da década de 80.

Proctólogo amador, o arquiteto Papa do pós-modernismo lusitano e papa de outras coisas, recebia na poltrona do seu atelier, as esposas da elite nacional e, como um monge budista*,

_

* “… julgava eu que Emmanuelle Arsan se iniciara nos arcanjos erótico-místicos do tantrismo indiano. Ela conta como entregou o corpo a um bonzo do pagode do Buda da Esmeralda, num mosteiro budista de Banguecoque, que em vez de a tomar pela frente a penetrou com o pénis escaldante nas nádegas, empalando-a com a fúria de um sátiro”, Ernest de Gengenbach em “Judas ou o Vampiro Surrealista”.

_

extasiava-as com entradas por trás, dava-lhes na bilha, por assim dizer. Elas retornavam ao lar, de andar novo e doridas no sentar, contudo, satisfeitas, desempenhavam a sua função de donas de casa ideais, não chateavam os maridos, que se dedicavam, corpo e alma, à boa gestão do país. 

E o arquiteto cunhou frases que não envelheceram. Ainda hoje são muito verbalizadas: “Isso, mexe a linguinha.” “Isso, ponha esse cuzinho bem para cima.” “Isso mesmo, respira fundo.”

Portugal viveu prosperidade, nunca foi tão bem governado como então, o empenho do arquiteto é uma lição em Ciência Política do caminho para a boa governação.


(Nesta cena final, a heroína do filme já estava desencabada e respirava de alívio)

E, ele filmava as sessões com diálogos camonianos, pontuados pelos ais dela:

ele: “Pronto, já está todo. Pronto, aí está todo! Pronto. Pronto” ai ai, ela: “Ai! está a doer tanto!” ai ai, ele: “Pronto agora já está. Já está todo, pronto. Aguenta. Aguenta. Aguenta” ai ai, ela: “Ai! não faça isso que dói” ai ai, ele: “Espera aí que já fica bom” ai ai, ela: “Está a magoar” ai ai, ele: “Pronto querida, está todo! linda, pronto, ora! ele está todo lá dentro. Todo lá dentro!” ai ai, ele: “Agora já não dói, pois não? Não está a doer. Tás a ver querida, como é bom, pronto” ai ai…

(Injustamente, nem a poltrona, nem o escritório foram declarados monumentos nacionais e património material da Humanidade).

Quando lhe roubaram as cassetes e a Semana Ilustrada publicou as fotos rebentou a bronca: mulheres de ministros e outros figurões nacionais amochavam, de rabo pró candeeiro do teto, na cadeira do arquiteto.

A revista espanhola Interviú insistiu em fotos inéditas dessa fossanguice. Proibiram a sua venda em Portugal. Simultaneamente, choviam fundos da UE e rumores de que desapareciam sem rasto. Aqueles com vida na política azafamavam-se em criar instituições, fundações, corporações, para deitar a mão ao dinheiro europeu. Estávamos no quente 1989.

Cavaco Silva, o primeiro-ministro, foi à televisão, numa alocução ao país, denunciar a campanha difamatória contra o seu Governo, exortando os jornalistas e a Opinião Pública, a recusar essas notícias “falsas, caluniosas e atentatórias contra os direitos humanos, ao bom-nome e à privacidade” – e a incógnita pairou: falava ele de dinheiros europeus ou de cus portugueses.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Nem Antetokounmpo escapa a Donald Trump: "Somos igualmente gregos"