Prostituição, séculos XIX – XXI (1)
Adolphe Willette, Madeleine, Monólogo e 9 desenho, Paris, D'Alignan, 1920 (uma das 250 cópias fac-símile de um caderno de Willette, datado de julho de 1911)
A prostituição, supostamente “a profissão mais antiga do mundo”,
foi transformada no século XIX pelos efeitos combinados da revolução
demográfica, fuga rural (primeiro envolvendo os solteiros), urbanização e
revolução dos transportes. Um súbito aumento quantitativo da prostituição nos
países mais afetados por essas mudanças foi associado a um processo de
europeização, mesmo internacionalização, através da circulação de prostitutas
(nesse momento, a existência da prostituição masculina era negada). Mesmo antes
dessa expansão, o desejo dos Estados de controlar a prostituição levou à
disseminação de sistemas de regulação estatal por toda a Europa após a sua
primeira introdução na França em 1800: um consenso regulatório europeu baseado numa
ideologia comum.
Um consenso regulatório europeu
A regulação europeia variou de lugar para lugar de acordo com a
priorização de objetivos (saúde pública, moral, policiamento), a distribuição
de autoridade (nacional, regional, municipal) e a sua base na legislação, que
geralmente faltava, exceto em alguns casos excecionais (lei municipal belga de
1836, leis nacionais húngaras de 1876 e 1899). Havia até diferenças na forma
como a prostituição era identificada: na Alemanha, a regulamentação só se
aplicava às relações sexuais transacionais comprovadas, enquanto na Áustria
bastava uma mera suspeita.
No entanto, as semelhanças tendiam a superar as diferenças,
evidência de que a gestão da prostituição foi moldada por uma ideologia comum:
o chamado “sistema francês” era de facto um sistema europeu, o que contribuiu
para uma identidade europeia. Baseava-se em quatro elementos sobre os quais
todos concordavam. Em primeiro lugar, a Europa do século XIX aceitou a
prostituição. Segundo o vocabulário da época, a Europa não era, portanto,
proibicionista, porque a prostituição era considerada necessária.
Essa afirmação foi baseada, em segundo lugar, numa compreensão
compartilhada da masculinidade. A sexualidade masculina, argumentava-se, tinha
que ser satisfeita em nome do equilíbrio físico e mental. A prostituição
existia assim em resposta às necessidades sexuais dos homens, não para
satisfazer os seus desejos ou prazeres. Era um “mal necessário”, um meio de
regular o sexo. O recurso à prostituição era visto, aliás, como parte do
processo pelo qual a masculinidade era aprendida ou adquirida, sendo, portanto,
também uma característica da sociabilidade masculina. As atitudes variavam, de
julgar a prostituição um mal necessário, a considerá-la um mal absoluto, uma
noção mais comum no norte da Europa.
Fonte: Digital Encyclopedia
of European History
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