Polémica: novo “Branca de Neve” arrasado por trocar os anões por “criaturas mágicas”

Tracker - Fiona Rene

Os atores de Hollywood com nanismo estão furiosos com a decisão da Disney. O filme chegou aos cinemas esta quinta-feira

Ainda não tinha estreado e o live-action de “Branca de Neve” já era um dos filmes mais controversos dos últimos anos. A polémica começou ainda em 2021, quando se soube que Rachel Zegler seria a protagonista. “Há um foco muito grande na história de amor com um homem que literalmente a persegue”, disse a atriz ao programa “Extra” quando lhe perguntaram a opinião sobre a obra original da Disney.

O remake estreou finalmente esta quinta-feira, 20 de março, e conta com outros pontos controversos que têm gerado muita discussão. O mais comentado é, talvez, o facto de não haver sete anões na história, mas sim personagens que a Disney apelidou de “criaturas mágicas”.

A decisão de não incluir as clássicas personagens do filme de 1937 surgiu após uma crítica de Peter Dinklage, o ator de “A Guerra dos Tronos” que sofre de nanismo. “Tentam ser progressistas, mas ainda estão a fazer aquela história retrógrada dos sete anões a viver numa caverna. O que raio é isto? Será que não fiz nada para avançar esta causa? Acho que não falei o suficiente”, disse em entrevista ao podcast “WTF with Marc Macron” em 2022.

Eles estavam orgulhosos porque tinham contratado uma atriz latina para o papel principal, mas depois fazem isto. Aceitaria participar no filme se tivessem dado um toque mais progressista e fixe à história, mas agora não tenho interesse”, acrescentou o norte-americano de 55 anos.

Face às críticas de Dinklage, a Disney não tardou em responder e revelou que ia dar um twist à história original. “Para evitar reforçar estereótipos do filme de animação original, estamos a adotar uma abordagem diferente para estas sete personagens e temos vindo a consultar membros da comunidade com nanismo. Estamos ansiosos por partilhar mais, à medida que o projeto avança para a produção, após um longo período de desenvolvimento.”

Apesar das alterações, Dinklage não faz parte do elenco e os anões — que mantêm os nomes originais — acabaram por ser criados com recurso a efeitos especiais. As vozes das personagens são de Andrew Barth Feldman, Tituss Burgess, Jason Kravits, George Salazar, Jeremy Swift, Andy Grotelueschen e Martin Klebba (o único com nanismo).

A abordagem que se afasta do filme original revoltou os fãs e, ao mesmo tempo, indignou vários atores com nanismo em Hollywood, que dizem que podiam ter tido um trabalho realmente relevante, mas que os seus papéis foram dados a atores sem a sua condição.

“Acho que a Disney está a tentar ser politicamente correta, mas ao fazê-lo está a magoar as nossas carreiras e oportunidades”, disse o ator Choon Tan — que já interpretou Rezingão numa peça de teatro de “Branca de Neve” — ao The Daily Mail. Acrescenta ainda que o facto de a empresa ter optado por criá-los com efeitos especiais é, de certa forma, “discriminatório e completamente absurdo”

“Não há absolutamente nada de errado em escolher alguém com nanismo para interpretar um anão em qualquer oportunidade. Desde que sejamos tratados de forma igual e com respeito, normalmente ficamos mais do que felizes em aceitar papéis que sejam adequados para nós. Além disso, é também uma oportunidade para as crianças verem alguém com nanismo, algo que talvez nunca tenham visto antes”, reforça.

O ator e bodybuilder de 31 anos não nega estar “ofendido e desapontado” com a decisão da empresa e acredita em não ser o único. “Há muitos atores talentosos que adorariam ficar com estes papéis e agora foi-nos tirada uma das poucas oportunidades que temos. Se não usam efeitos especiais para personagens altas, porque é que o fazem connosco?”, questiona.

O facto de não terem sido usados atores reais para interpretarem os anões também tem sido um fator destacado em várias das críticas que já foram publicadas por diferentes jornais e revistas norte-americanos.

“Os defeitos que mais distraem estão enraizados na problemática recriação de um material originalmente animado. A iluminação é difícil de suster, mas, pior ainda é a decisão de tornarem os bonecos em anões, o que é realçado ainda mais nas cenas em que estão ao pé de atores humanos”, escreveu o Irish Times. Atualmente, o filme tem uma pontuação de 46 por cento no agregador Rotten Tomatoes. “É mau ao ponto de ser cansativo”, comentou o The Guardian.

Fonte: NiT, 21 de março de 2025

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