Agressão de Putin à Europa leva país a querer quebrar neutralidade de 70 anos com adesão à NATO
Perry Mason
(1957-1966) – Mary Webster
O
princípio da neutralidade da Áustria tem sido um pilar fundamental da sua
política externa desde 1955: isso implica não participar em alianças militares,
não permitir bases militares estrangeiras no seu território e não se envolver
em conflitos armados internacionais. Este estatuto foi fundamental para a
recuperação da sua soberania após a II Guerra Mundial e tem feito parte da sua
identidade nacional desde então
No entanto, a ministra dos Negócios Estrangeiros austríaca,
Beate Meinl-Reisinger, acaba de abrir o debate institucionalmente e já não
descarta a possibilidade de o país se juntar à NATO num futuro próximo. A justificação? A agressão da Europa por Vladimir Putin.
“É claro que a neutralidade por si só não nos protege. O que
protege a Áustria no contexto de uma situação de segurança cada vez mais
incerta no mundo e de uma Rússia cada vez mais agressiva é o investimento nas
nossas próprias capacidades de Defesa, mas também nas parcerias”, afirmou em
entrevista ao jornal alemão Die Welt. Está “fundamentalmente muito
aberta à realização de um debate público sobre o futuro da política de
segurança e defesa da Áustria”, embora reconheça que “não existe atualmente uma
maioria no Parlamento e entre a população para aderir à NATO”.
A Áustria já participa na Política Comum de Segurança e Defesa da UE, o que modifica de facto a sua neutralidade desde 1995. Em 2022, após o início da invasão russa da Ucrânia, a adesão à NATO foi debatida publicamente na Áustria, mas o então chanceler Kark Nehammer recusou aderir ao pacote de adesão da Suécia e da Finlândia. Agora, a ameaça está novamente a crescer. O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, alertou recentemente os países vizinhos que devem preparar-se para um possível “grande conflito armado” com a Rússia em 2027, durante uma reunião pública em Pabianice, perto de Lodz.
Tusk referiu uma avaliação
do novo Comandante Supremo da NATO, Alexus Grynkewich, com quem
tinha conversado pouco antes e que está a considerar o cenário em que a Rússia
e a China se terão fortalecido até 2027 ao ponto de avançar para um confronto
coordenado com a NATO e os Estados Unidos.
“Não podemos ficar sentados a dizer que, se não fizermos
nada a ninguém, ninguém nos fará mal. Isso seria demasiada ingenuidade. O mundo mudou”, lamentou Meinl-Reisinger, que
está pronta para fazer campanha pela adesão à NATO no seu próprio país.
“Gostaria de dizer explicitamente que, com a UE, já temos um parceiro que nos
protege em caso de emergência”, referindo-se ao artigo 42.º, n.º 7, do Tratado
de Lisboa, que estabelece que, “em caso de ataque armado ao território de um
Estado-Membro, os outros Estados-Membros devem-lhe toda a ajuda e assistência
ao seu alcance, em conformidade com o artigo 51.º da Carta das Nações Unidas”.
Mas, face à crescente rede de acordos de Defesa,
Meinl-Reisinger acredita ser “mais seguro” expandir as alianças. No entanto, os
partidos políticos austríacos evitam questionar o princípio da neutralidade
devido à sua popularidade: quase 75% dos
inquiridos rejeitam abandoná-lo, embora apenas um terço acredite que
a neutralidade garanta realmente a segurança nacional.
Fonte: Executive Digest, 30 de julho de 2025
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