A indústria da IA vai colapsar brevemente (por uma regra elementar da economia)

Perry Mason (1957-1966) – Otto Kruger, Hal K. Dawson

Todos os grandes gigantes da tecnologia precisam de um monopólio global para sustentar o seu sucesso e valor de mercado. Mas entre os gigantes que lutam neste momento pela supremacia na Inteligência Artificial, apenas um vai ser uma espécie de Companhia das Índias Orientais do século XXI

Numa altura em que grande parte dos investidores no mercado de capitais está encantada com as promessas financeiras dos grandes modelos de linguagem (LLMs) e dos centros de dados necessários para os alimentar, um investidor de peso do setor tecnológico lança o alerta.

Num artigo publicado nesta quarta-feira no The Guardian, Roger McNamee, investidor de carreira que no passado apostou com êxito em empresas como o Google, Facebook e Amazon, adverte, em tom sombrio, que a indústria da IA está já a caminho do colapso.

Segundo McNamee, até ao final de 2025 a indústria tecnológica terá investido mais de 700 biliões de dólares em LLMs — um valor que, diz o investidor, as empresas deverão voltar a investir no próximo ano, se não acontecer, entretanto, nenhuma catástrofe.

O problema, porém, é que essa catástrofe poderá estar já ao virar da esquina, diz McNamee: por baixo de toda esta vaga de investimento em IA, a economia apresenta sinais preocupantes.

“Nos meus mais de 43 anos de carreira de investimento, em tecnologia, nunca vi nada que se compare remotamente ao fenómeno da IA baseada em grandes modelos de linguagem”, sublinha McNamee.

“As big tech, jornalistas, políticos, presidentes executivos e investidores estão todos convencidos de que a IA é inevitavelmente a próxima grande revolução, que vai transformar a economia e a sociedade para melhor”, nota o investidor.

O que poucos ponderaram, avisa McNamee, é uma contradição central: “mesmo que a tecnologia cumpra a sua promessa, muitos, se não a maioria, dos atuais protagonistas estão condenados ao fracasso. As consequências em cadeia dessas falências podem ser catastróficas, sobretudo para os investidores”.

Para McNamee, estamos perante uma corrida frenética entre 5 ou 6 gigantes tecnológicos, que desenvolvem modelos praticamente idênticos. Entre eles estão a Google, a Amazon, a Meta, a xAI e a parceria Microsoft / OpenAI.

Cada uma destas empresas está a gastar milhares de milhões na esperança de se tornar o ator dominante no universo dos LLMs — na prática, em busca de um monopólio global, uma espécie de Companhia das Índias Orientais do século XXI.

Mas, como o investidor salienta, um monopólio é por definição exclusivo, o que significa que os gigantes que não conseguirem alcançar a liderança terão de disputar as migalhas que restarem.

A análise de McNamee encontra eco na própria ciência económica, nota o Futurism. Já em meados do século XIX, os economistas sublinhavam haver uma tendência dos sistemas capitalistas para a formação de monopólios, sempre que não houvesse regulação governamental a garantir uma concorrência saudável.

Até o próprio Adam Smith, considerado o pai do pensamento económico moderno, advertiu contra essa tendência. Na sua célebre obra de 1776, “A Riqueza das Nações”, criticou o monopólio britânico sobre as suas treze colónias.

Fundar um grande império com o único objetivo de criar um povo de clientes pode, à primeira vista, parecer um projeto próprio apenas de uma nação de lojistas. Na verdade, é um projeto totalmente impróprio para uma nação de lojistas, mas muito conveniente para uma nação cujo governo é influenciado por lojistas”, escreveu.

A diferença importante, assinala Roger McNamee, é que os monopólios do passado ainda produziam algo de valor, algo que os atuais magnatas da IA ainda não conseguiram demonstrar.

“Chegará o dia, talvez mais cedo do que muitos esperam, em que acionistas, administradores e executivos vão exigir provas de que o investimento maciço na tecnologia dos LLMs gera retorno suficiente. A resposta será negativa para muitos, se não para a maioria, e o acerto de contas será feio para todos”, conclui.

Fonte: ZAP, 26 de setembro de 2025

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