Trump vai liderar a "Administração da Paz" da "nova Gaza" - que vai ter Blair, uma "força de estabilização" (a ISF) e "tarifas especiais"

 

Mas primeiro é preciso haver acordo sobre 20 pontos - acordo entre as partes em conflito. Entretanto: Trump coloca Portugal entre um grupo de países que fez uma "estupidez"

A Casa Branca divulgou esta sexta-feira um plano de 20 pontos para o fim do conflito entre Israel e Hamas e do genocídio na Faixa de Gaza.

"Pelo menos estamos muito, muito perto [da paz]. E acho que estamos mais do que muito perto. E quero agradecer ao Bibi (Benjamin Netanyahu) por realmente se envolver e fazer um bom trabalho”, disse Donald Trump durante a apresentação do plano, ao lado do primeiro-ministro israelita, esta segunda-feira.

Segundo o plano, este território palestiniano tornar-se-á numa “zona livre de terrorismo e desradicalizada, que não representará uma ameaça para os seus vizinhos”, e será desenvolvido “para benefício da população de Gaza, que já sofreu mais do que suficiente”.

A ser aceite por ambos os lados, o conflito terminará imediatamente, estabelece o plano, e os reféns do Hamas, vivos e mortos, serão libertados dentro das 72 horas seguintes à aceitação pública deste acordo por parte de Israel.

“Assim que todos os reféns forem libertados, Israel libertará 250 prisioneiros condenados a prisão perpétua, além de 1700 habitantes de Gaza que foram detidos após 7 de outubro de 2023, incluindo todas as mulheres e crianças detidas nesse contexto. Por cada refém israelita cujos restos mortais forem libertados, Israel libertará os restos mortais de 15 habitantes de Gaza falecidos”, diz o ponto 5 do chamado "Plano Abrangente para pôr Fim ao Conflito em Gaza”.

Assim que o acordo for aceite por ambas as partes, a ajuda humanitária será “imediatamente enviada” para Gaza. A coordenação da entrada deste apoio estará a cargo das Nações Unidas, do Crescente Vermelho e de “outras instituições internacionais não associadas de forma alguma a nenhuma das partes”, e será feita no âmbito do acordo prévio, assinado a 19 de janeiro deste ano.

Sobre a governação do exclave, esta será assegurada, num primeiro momento, por um “comité palestiniano tecnocrático e apolítico” composto por “palestinianos qualificados e especialistas internacionais”. Este comité será supervisionado pela “Administração da Paz”, que terá como líder o próprio Donald Trump e que contará com a presença de outros chefes de Estado e personalidades internacionais, como Tony Blair. O Hamas e outras fações, estabelece o plano, vão “concordar em não ter qualquer papel na governação de Gaza, direta, indireta ou de qualquer outra forma”.

“Todas as infraestruturas militares, terroristas e ofensivas, incluindo túneis e instalações de produção de armas, serão destruídas e não reconstruídas. Haverá um processo de desmilitarização de Gaza sob a supervisão de observadores independentes, que incluirá a inutilização permanente das armas através de um processo acordado de desativação, apoiado por um programa de recompra e reintegração financiado internacionalmente, tudo verificado pelos observadores independentes. A nova Gaza estará totalmente empenhada em construir uma economia próspera e na coexistência pacífica com os seus vizinhos”, pode ler-se no plano.

O acordo prevê também a criação da Força de Estabilização Internacional (ISF), trabalhada entre os EUA e os parceiros árabes e internacionais, para ser destacada imediatamente em Gaza. “A ISF irá treinar e prestar apoio às forças policiais palestinianas selecionadas em Gaza e irá consultar a Jordânia e o Egito, que têm uma vasta experiência neste domínio. Esta força será a solução de segurança interna a longo prazo”.

O ponto 16 estabelece que Israel “não deverá anexar a Faixa de Gaza”, o que contraria as pretensões de alguns membros do governo de Benjamin Netanyahu, e que as Forças de Defesa de Israel (IDF) vão retirar-se do território "com base em normas, marcos e prazos relacionados com a desmilitarização que serão acordados entre as Forças de Defesa de Israel, a ISF, os garantes e os Estados Unidos”.

“Na prática, as IDF irão progressivamente entregar o território de Gaza que ocupam à ISF, de acordo com um acordo que irão celebrar com a autoridade transitória, até se retirarem completamente de Gaza, com exceção de uma presença de segurança no perímetro que permanecerá até que Gaza esteja devidamente protegida contra qualquer ameaça terrorista ressurgente”.

Para os membros do Hamas, será oferecida amnistia e passagem segura para outros países desde que se comprometam a uma “coexistência pacífica” e a “baixar as armas”. “Ninguém será forçado a deixar Gaza e aqueles que desejarem partir serão livres para fazê-lo e livres para regressar. Incentivaremos as pessoas a ficar e ofereceremos a oportunidade de construírem uma Gaza melhor.”

A Casa Branca menciona também um plano económico de Donald Trump para “reconstruir e energizar” a Faixa de Gaza e a criação de uma “zona económica especial” com tarifas especiais a ser negociadas com os países participantes.

"Estupidamente"

Durante a conferência de imprensa de apresentação do plano, Trump elogiou o “guerreiro” Netanyahu e manifestou confiança numa resposta positiva do Hamas aos 20 pontos.

O presidente americano pediu aos palestinianos que “assumam a responsabilidade pelo seu destino”.

“Desafio os palestinianos a assumirem a responsabilidade pelo seu destino, porque é isso que lhes estamos a dar. Eles não querem a vida que têm tido. Têm tido uma vida difícil com o Hamas. Se a Autoridade Palestiniana não concluir as reformas que eu delineei, a minha visão para a paz em 2020, só poderão culpar-se a si próprios”, afirmou Trump.

O plano reconhece o desejo dos palestinianos à autodeterminação, mas Trump não se coibiu de dizer que os países ocidentais que reconheceram a Palestina nas últimas semanas, incluindo Portugal, o fizeram “estupidamente”.

O presidente dos EUA referiu que discutiu o plano com vários líderes internacionais, incluindo da Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos. Trump elogiou o primeiro-ministro do Paquistão, Shehbaz Sharif, que “esteve sempre connosco desde o início”, e também mencionou o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan.

Fonte: CNN Portugal, 29 de setembro de 2025

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