A Ucrânia lançou um inferno para a Rússia entrar em crise. Para já está a resultar
Perry Mason
(1957-1966) – Lucy Prentis
Cansada
de esperar por ajuda dos aliados, a Ucrânia decidiu avançar com os seus
próprios meios para atingir a Rússia onde dói mais. Os efeitos, esses, já se
vão notando
Mais alto, mais longe e mais profundo. A Ucrânia está a
intensificar os ataques contra as infraestruturas energéticas, procurando
atingir por si os alvos que há muito quer que o Ocidente ataque, ainda que com
outras armas.
Enquanto Estados Unidos e União Europeia vão dizendo que é
preciso atacar a indústria petrolífera russa economicamente, a Ucrânia vai
fazendo o mesmo, mas com armas.
O objetivo é o mesmo, a maneira de lá chegar é que é
diferente. Em vez de esperar pelas discussões nos escritórios de Washington ou
de Bruxelas, Kiev decidiu avançar de forma decisiva, utilizando autênticos
enxames de drones para atingir a Rússia naquele que é o seu verdadeiro motor de
guerra.
Os ataques mais a sério começaram em agosto, com refinarias
de petróleo a serem atacadas um pouco por todo o território russo. Mas os
ataques que pareciam só durar algumas semanas já vão para meses, começando a
ficar cada vez mais intensos e eficazes.
Exemplo disso é o que aconteceu em Novorossiysk, no Mar
Negro, mas ainda mais no complexo do Bascorcostão, a mais de 1300 quilómetros
de alcance da Ucrânia. Este último ataque mostra que a Ucrânia não só está
empenhada em continuar a atingir a economia russa, como tem capacidade para o
fazer a distâncias que se julgariam impensáveis.
O ataque a Chuvashia, a cerca de mil quilómetros, é outro
exemplo disso mesmo, tal como o ataque a Yaroslavl, que provocou uma disrupção
tal que a Rússia veio justificar-se com problemas “técnicos” para explicar
porque é que a produção foi afetada.
Pelo fim do primeiro mês de ataques a agência Reuters já
dava conta de que 17% da capacidade de refinação da Rússia tinha sido
danificada. Um dado que subiu de forma considerável: a revista The Economist aponta que
40% das infraestruturas foram atingidas, sendo que 20% da produção chegou a
estar sem funcionar em simultâneo.
Uma perda que representa uma quebra de produção de um milhão
de barris de petróleo por dia, segundo a Energy Aspects.
“As capacidades do complexo militar-industrial do inimigo
foram significativamente reduzidas; podemos ver isso no campo de batalha”,
afirmou o chefe das Forças Armadas da Ucrânia, Oleksandr Syrsky.
E isso deve-se, em grande parte, mais aos ataques realizados
contra a indústria petrolífera do que às operações contra locais de
armazenamento de armas.
Citado pelo The Economist, Benedict George, que faz
análise de preços para a Argus Media, indica que já foram atingidas 16 das 38
refinarias da Rússia, sendo que alguns dos locais foram alvejados por três
vezes.
Entre esses alvos está a refinaria de Ryazan, localizada a
200 quilómetros de Moscovo e capaz de produzir 340 mil barris por dia. É a
maior central de transformação de petróleo e, por isso, um dos alvos
primordiais.
Outro dado que explica o impacto dos ataques é a exportação.
A Rússia é o segundo maior
exportador de petróleo do mundo, mas a venda deste produto caiu 30% em apenas
um ano, o que também está a afetar a economia interna.
Na longínqua cidade de Vladivostok, por exemplo, foram
vistas filas de um quilómetro em postos de abastecimento. É em locais como
esses que já está a haver racionamento de combustível, num sinal claro de que
há problemas.
E se os problemas já chegaram aos civis, a Ucrânia acredita
que o continuar desta operação possa atingir o Kremlin de duas formas: primeiro
perderá algum apoio popular, já que há maior escassez de produtos; depois, se o
problema continuar, a máquina de guerra ficará mais difícil de alimentar.
Fonte: CNN Portugal, 6 de
outubro de 2025
EUA vão dar à Ucrânia informações secretas sobre alvos energéticos de longo alcance na Rússia
Moscovo já respondeu e diz que esse tipo de troca de informações secretas já acontece há muito
Os Estados Unidos vão dar à Ucrânia informações secretas sobre alvos energéticos de longo alcance na Rússia, avançam a Reuters e o The Wall Street Journal, citando fontes ligadas ao processo. A decisão surge num momento em que Washington avalia se vai enviar para Kiev mísseis que possam ser usados nesses ataques, como os Tomahawk.
Esta decisão representa a primeira mudança política que é conhecida desde que Donald Trump endureceu a sua posição em relação à Rússia nas últimas semanas, perante as dificuldades em impor o fim da guerra, que se arrasta há mais de três anos.
A Rússia já reagiu a esta notícia, alegando que os Estados Unidos e os aliados da NATO já forneciam este tipo de informação à Ucrânia de uma forma regular. “Os Estados Unidos da América transmitem online informações secretas à Ucrânia de uma forma regular”, afirmou o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov.
“É óbvio o fornecimento e a utilização de toda a infraestrutura da NATO e dos Estados Unidos para colher e transmitir informações para os ucranianos”, juntou.
É certo que Washington partilha informações secretas com Kiev há muito. Contudo, segundo o The Wall Street Journal, a partir de agora tornar-se-á mais fácil para a Ucrânia atingir infraestruturas como refinarias, oleodutos e centrais elétricas. O objetivo é claro: privar Moscovo das receitas do petróleo.
O próprio Trump tem pressionado os países europeus para que deixem de comprar petróleo russo. Em troca, acena com sanções severas à Rússia, numa tentativa de esgotar o financiamento da invasão à Ucrânia.
Mísseis a caminho?
Este desenvolvimento na guerra surge numa altura em que os Estados Unidos estão a considerar um pedido da Ucrânia para obter mísseis Tomahawk, que têm um alcance de 2500 quilómetros. Ou seja, conseguiriam atingir Moscovo, bem como grande parte do lado europeu da Rússia, se disparados a partir da Ucrânia.
Entretanto, a Ucrânia também desenvolveu o seu próprio míssil de longo alcance, o Flamingo. O míssil está em fase inicial de produção, desconhecendo-se por isso que quantidade poderá acabar envolvida no conflito.
Segundo as autoridades americanas citadas pelo The Wall Street Journal, a luz verde para o envio de mais informações secretas aconteceu pouco antes de Trump ter feito uma publicação nas redes sociais, na semana passada, a sugerir que a Ucrânia poderia recuperar “todos” os seus territórios ocupados pela Rússia – que representa uma vincada mudança de posição a favor de Kiev. A publicação aconteceu depois de um novo encontro entre Trump e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
Qual o impacto deste apoio?
Esta é a primeira vez que os Estados Unidos vão dar apoio a ataques ucranianos de longo alcance em território russo contra alvos energéticos.
As receitas produzidas pelo setor da energia continuam a ser a fonte mais importante para o Kremlin financiar os seus esforços de guerra. Além disso, as exportações de petróleo e de gás têm sido um alvo forte das sanções ocidentais.
Trump tem procurado que vários países interrompam as suas compras de petróleo russo, como é o caso da Índia ou da Turquia, que conseguem esta matéria-prima a preço de saldo.
Os ministros das finanças do G7, grupo que reúne as sete maiores economias do mundo, prometeram esta semana que vão aumentar a pressão sobre a Rússia, através daqueles que continuam a ser os seus principais clientes de petróleo.
Fonte: CNN Portugal, 2 de outubro de 2025
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