Dinheiro russo trama Rui Costa

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Eram 11:00 de 15 de julho passado quando o presidente da SAD do Benfica, Rui Costa, se apresentou com dois advogados no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), em Lisboa. Tinha sido notificado para ser interrogado e constituído arguido com a medida de coação mais leve, o Termo de Identidade e Residência - juntamente com o antigo administrador executivo e vice-presidente da SAD Luís Mendes - num caso que envolve o pagamento do ex-jogador dos encarnados Germán Conti.

Já no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), Rui Costa invocou que tinha nesse dia uma reunião plenária com os órgãos sociais do Benfica e requereu que a diligência fosse adiada, comprometendo-se a entregar a referida justificação, o que terá feito, de acordo com fonte oficial que representa a SAD e o seu presidente. Até hoje ainda não foi de novo notificado pela procuradora do inquérito, Filipa Rosado, segundo a mesma fonte. Posteriormente, em comunicado oficial, Rui Costa confirmou o adiamento, porque a 15 de julho estava ocupado ao ponto de tornar “inviável a prestação de declarações e o fornecimento de informação aos autos com a dedicação e atenção que o assunto exige.

Segundo a documentação a que acedeu o Exclusivo da TVI/CNN Portugal, o processo visa suspeitas da violação das medidas restritivas aprovadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) e/ou pela União Europeia (UE). Nos mesmos documentos, o Ministério Público (MP) português junta também a suspeita de crime de branqueamento de capitais, ainda que o dinheiro suspeito em causa tenha circulado diretamente da conta de um clube de futebol russo para a conta do Benfica, no BCP. Sem qualquer intermediário ou dissimulação. Esta transação proibida de 76 021 euros terá sido detetada pelo banco, tendo depois o MP ordenado a suspensão da operação. Por ordem do DCIAP, o dinheiro foi remetido à origem, ou seja, à conta da SAD proprietária do FC Lokomotiv de Moscovo, no banco AO Raiffeisenbank, na Rússia.

Fonte ligada à defesa da SAD do Benfica adiantou que o pagamento em causa se refere à primeira tranche da dívida que o Lokomotiv teria devido à transferência de 2023 do jogador Conti, um central que o Benfica comprou no verão de 2018 aos argentinos do Cólon por 3,5 milhões de euros, segundo o site especializado Transfermarket. No entanto, segundo os documentos oficiais do Benfica referentes ao exercício de 2017/18, o negócio ficou substancialmente mais caro, pois o investimento total atingiu os 4,721 milhões de euros (com a verba destinada a empresários e os custos com o plano de pagamentos).

Na época de 2018/19, o central ainda jogou 10 jogos e marcou um golo no Benfica. Mas não conseguiu impor-se e acabou sucessivamente emprestado. Primeiro seguiu para os mexicanos do Atlas, em 2021 rumou aos brasileiros do Bahia e, ano seguinte, jogou no Atlético de Mineiro. A 30 de janeiro de 2023, já com as medidas sancionatórias ativas que visam cidadãos e empresas russas (identidades que constam numa lista de milhares de nomes atualizada periodicamente), terá sido vendido por 300 mil euros ao Lokomotiv, cuja SAD designada Joint Stock Company Football Club Lokomotiv é detida indiretamente pelo Estado da Federação Russa através da empresa pública Transtelecom Company e ainda pelo VTB Bank. Nos documentos do processo, o MP refere ainda que este banco russo tem também como donos o Marathon Group, controlado por outro russo cujo nome também figura na lista de sanções internacional, Alexander Vinokurov.

O caso está a ser investigado no DCIAP desde o ano passado e, segundo a defesa jurídica o Benfica e de Rui Costa, o MP terá a intenção de propor a suspensão provisória do processo mediante o pagamento de uma multa. Segundo a legislação em vigor em Portugal, a violação das medidas restritivas internacionais pode ser punida com uma pena de prisão de um a cinco anos. Mas em caso de negligência, a lei estabelece uma multa de até 600 dias. “O Sport Lisboa e Benfica, em linha com o seu compromisso ético e legal de transparência e rigor, ao tomar conhecimento do entendimento do Ministério Público, imediatamente fez cessar os efeitos do referido contrato, até ao cabal esclarecimento dos factos”, referiu Rui Costa no já citado comunicado.

Ao Exclusivo TVI/CNN Portugal, a procuradora do inquérito recusou a consulta do processo invocando o segredo de justiça. Contactámos também o antigo administrador da SAD do Benfica com o pelouro financeiro Luís Mendes para saber se já foi constituído arguido no processo. “Não quero falar mais sobre o Benfica”, limitou-se a dizer o ex-administrador que renunciou aos cargos na SAD em junho do ano passado incompatibilizado com Rui Costa.

Fonte: CNN Portugal, 6 de outubro de 2025

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