Elementos de Cultura Portuguesa (9)

História de amor

Eusébio Leão, nascido em Gavião, Portalegre, médico, propagandista da República. Foi ele que leu o documento da proclamação da República na varanda da Câmara de Lisboa. Teve uma filha, Ester Leão, nascida em 1892.

Depois de ser governador civil de Lisboa foi nomeado embaixador em Roma (na época chamava-se ministro plenipotenciário).

A filha ficou encantada com os espetáculos de teatro italiano e decidiu ser atriz, mas a família proibiu. Aos 21 anos pôde então enveredar pela arte de palco. Estreou-se no Teatro da República em 1913, e foi representando até 1930 e tal. Formou uma companhia que só encenava originais portugueses.

Já com 40 anos, não sendo bonita, tinha personalidade magnética, muito comunicativa, foi representar ao teatro de Coimbra. Um caloiro viu-a representar e perdeu a cabeça, entra pelo camarim, cobre-a de beijos e nunca mais a largou. Ela vai para Lisboa, ele compra bilhete e vai na mesma carruagem. Instala-se no mesmo hotel dela. Ela vai para o Brasil, ele vai no mesmo vapor.

Quando deixa de ter idade para o palco, faz-se, no Rio de Janeiro, professora de declamação. Ensina os políticos que vêm do fundo do sertão a dizer lindos discursos.

José Hermano Saraiva: “Quando eu fui pela primeira vez ao Rio, na altura da exposição, ainda vi esse estudante de Coimbra que era o Leonardo Jorge, era um príncipe, o Leonardo Jorge.  Era um escritor finíssimo. Um poeta de grande sensibilidade, e um homem de uma grande elegância. E nessa altura, era um homem jovem, alto, bonito, bom, e trazia pelo braço, carinhosamente, mas como se trouxesse algo de precioso, como se houvesse ali uma rainha, trazia uma velhinha, uma velhinha já muito curvada sobre si própria, com uma bengalita, uma velhinha encarquilhada, parecia ter uma idade muito avançada. Depois soube eu não, que não tinha, porque ela morreu com 79 anos. Portanto, tinha 70 e tantos, mas a idade não a poupou nada, e era uma velhinha. E a gente via aquele par, Leonardo Jorge, trazendo a sua companheira de quase toda a vida.

Diziam as más línguas que os tais discursos que a Ester Leão inventava, ensinava a declamar, não eram escritos pelos candidatos aos lugares, eram discursos românticos, muito bonitos que levavam o povo, mas quem escrevia os discursos era o Leonardo Jorge”.

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