Jacques Rodrigues, a guerra contra a Electroliber e o secretismo de gestão
Tudo começou em 2008, numa guerra de Jacques Rodrigues
contra a Electroliber, empresa que tinha exclusividade na distribuição das
revistas da Impala. "A certa altura ele quis comprar a empresa, não
conseguiu. Depois tentou asfixiá-la retirando-lhe a distribuição das revistas,
a empresa foi para tribunal e a partir daí foi uma sucessão de esquemas
contabilísticos, de simulação de negócios, de dação e emissão de cartas de
assunção de dívida, transformação de dívida em capital. Ao mesmo tempo, o que
se suspeita é que, com este esquema, que já dura há muitos anos, conseguiu
dissipar a maior parte do seu património para fugir aos credores", explica
Carlos Rodrigues Lima.
Enquanto o dono da Impala criava uma teia de empresas que
prestavam serviços entre si, transferindo ativos, havia trabalhadores com salários por receber há mais de
dez anos e a denunciarem o recurso ao Plano Especial de Revitalização
(PER) - o primeiro, lembra a revista Sábado, foi pedido em 2015 pela
DescobrirPress (empresa criada pelo fundador da Impala para transferir
despesas) e o montante em dívida estava em 50,2 milhões de euros, 6,5 milhões
só a funcionários. A empresa, escreve a Sábado, pedia um perdão de 95% da
dívida e os restantes 5% pagos nos 17 anos seguintes. O PER foi aprovado, mas a
Lisgráfica e o banco Primus recorreram porque consideraram que a insolvência
seria mais vantajosa para a empresa e o Tribunal da Relação deu-lhes razão. No
total, Jaques Rodrigues avançou com três PER, havendo agora suspeitas sobre os
administradores judiciais que geriram os processos de falência das empresas do
fundador do grupo Impala.
Questionada sobre o 'timing' das detenções, Raquel Costa,
ex-funcionária da Impala, é contundente: "Não percebo como é que não
aconteceu antes, isto dura há anos, toda a gente sabe, o poder político
sabe", critica. "É verdade que as investigações demoram anos, mas foi
muito conveniente a muitas pessoas, durante muitos anos, que isto fosse
passando. E acho que é importante reforçar que houve muita gente, nomeadamente políticos, que ascenderam
mediaticamente graças às revistas do grupo Impala. O senhor Jacques construiu a
carreira política de muita gente. Antes de haver comentário político, as
revistas cor-de-rosa foram palco para muita gente se promover e criar uma
imagem de maior proximidade. E continuam a ser as revistas mais lidas",
salienta a jornalista.
"Há uma história em comum com o grupo Impresa, onde
também houve sucessão familiar, mas são grupos que nasceram na mesma altura e
seguiram direções completamente diferentes. Este escândalo financeiro não
rebentou há mais tempo por causa do secretismo, a forma como conseguiram criar
uma rede de segredos na Impala", reflete Raquel Costa.
Jaques Rodrigues teve, segundo a revista Sábado, nove
filhos, o mais novo com 13 anos, de quatro mulheres diferentes. As mães dos
filhos assumiram papéis de algum relevo no grupo Impala e o filho Jaques
"Júnior", que também foi detido esta quinta-feira, aparenta ser o seu
sucessor na liderança. A Sábado refere que outros filhos estão envolvidos em
negócios imobiliários do empresário no Brasil e que a atual namorada é mesmo a
diretora de marketing na Impala.
Fonte: TVI, 23 de março de 2023
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