Jacques Rodrigues, pioneiro e 'self made man'
Jacques Rodrigues foi um vanguardista: na década de 70,
abriu caminho no mundo da imprensa cor-de-rosa, por explorar em Portugal, e
afirmou-se num segmento pouco valorizado. Notem-se as diferenças para com o
tratamento dado a Francisco Pinto Balsemão, fundador do Expresso, com quem pode
partilhar o título de barão dos media portugueses e de quem é vizinho na Quinta
da Marinha, em Cascais. Mas o dono da Impala sempre foi discreto e avesso à
exposição. Não dava entrevistas e só mais recentemente começou a aparecer na
gala de atribuição dos prémios do grupo que fundou. Eram raras as ocasiões em
que falava publicamente. Apesar da reserva do patrão, sempre foi comentada a
sua postura agressiva e despótica dentro da empresa. Causava estranheza, por
exemplo, a forma como
tratava a filha Paula, o seu braço direito na Impala, por "senhora",
e como ela lhe devolvia o tratamento por "senhor".
"Ele foi pioneiro no negócio dos media em Portugal e
ninguém lhe pode tirar o mérito. Mas acho que o tempo dele passou. Como muitas
pessoas que conquistam muito poder e são 'self made man', como ele, que veio do
nada, não se soube renovar e não soube delegar. Sobretudo, não soube dar a
pessoas de fora da família a gestão e o controlo da empresa e foi aí que as
coisas correram mal. Estes crimes são de quem perde a noção da realidade",
diz Raquel Costa. Sobre o filho homónimo, a ex-jornalista da Impala recorda o
Jacques Rodrigues mais novo como uma pessoa "com muito boas intenções".
"Talvez noutro contexto pudesse ser uma pessoa com quem
seria bom trabalhar. Pessoalmente, não tenho razões de queixa, era uma pessoa
simpática. Mas trabalhava naquele meio e naquela família", acrescenta
Raquel Costa. "Era como se vivesse numa gaiola dourada."
A empresa, refere ainda a antiga funcionária, "tinha
tudo para ser saudável financeiramente, mas a gestão é 80% do trabalho". E
foi a partir do topo que o grupo Impala começou a ruir. A PJ suspeita que, do
dinheiro desviado das várias sociedades criadas por Rodrigues, dezenas de
milhares de euros foram colocados em offshores.
"Jacques Rodrigues viveu numa espécie de
chico-espertismo de gestão de empresas, à medida que os problemas iam surgindo
abria empresas e transferia ativos, colocava as despesas numa segunda empresa
que não pagava", disse Carlos Rodrigues Lima, jornalista da revista Visão,
à CNN Portugal. Estima-se que o patrão da Impala tenha desviado quase 70
milhões dos cerca de 100 milhões de euros em dívidas que deixou por pagar aos
credores.
Fonte: TVI, 23 de março de 2023
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