Região separatista da Transnístria pede “proteção” a Moscovo: Instituto para o Estudo da Guerra antecipa referendo de anexação formal
Night Hunter (2018)
Os
separatistas pró-russos da região moldava da Transnístria pediram esta
quarta-feira “proteção” a Moscovo, contra o que consideram ser a “pressão” da
Moldávia sobre a região. O Instituto para o Estudo da Guerra (ISW)
publicou no fim da semana passada um alerta sobre a possibilidade de que esta
região, no leste da Moldávia, pudesse pedir para ser anexada oficialmente à
Rússia
Os responsáveis separatistas pró-russos da região
separatista moldava da Transnístria pediram esta quarta-feira “proteção” a
Moscovo, de acordo com a agência de notícias France Presse, que cita um
congresso especial realizado na região.
Os responsáveis pediram ao Conselho da Federação e à Duma
(Parlamento) da Rússia que “apliquem medidas para proteger a Transnístria face
à crescente pressão da Moldávia”, diz a resolução.
O Instituto para o Estudo da Guerra (ISW) publicou no fim da
semana passada um alerta sobre a possibilidade de que esta região, no
leste da Moldávia, pudesse pedir para ser anexada oficialmente à Rússia. “A
região separatista pró-russa da Transnístria pode convocar ou organizar um
referendo sobre a anexação da Transnístria à Rússia no recentemente anunciado Congresso
dos Deputados da Transnístria, previsto para 28 de fevereiro”.
A região da Transnístria situa-se a leste da Moldávia,
encostada ao sudeste da Ucrânia, e a presença militar russa mantém-se desde
1992. Logo depois da queda da União Soviética, esta pequena faixa de terra
passou a ser controlada por forças pró-russas, apesar de ser
internacionalmente reconhecida como território moldavo. Nem a Rússia
reconhece a independência da região, apesar dos seus cerca de 465 mil
habitantes terem passaporte russo, em conjunto com a nacionalidade moldava e,
em alguns casos, ucraniana.
Mesmo que não exista nenhum cenário no qual a comunidade
internacional possa vir a reconhecer a Transnístria como nação independente num
futuro próximo, o “ministro” dos Negócios Estrangeiros da região, Vitaly
Ignatiev, disse que as conclusões do congresso “não podem ser ignoradas pela
comunidade internacional”.
A agência France Presse escreve ainda que, do lado do
Governo moldavo, que tem uma posição pró-Ocidente, as coisas parecem
“calmas”. “Não há perigo de escalada e de desestabilização da situação na
região da Transnístria”, disse uma fonte do Governo.
O ISW diz que os líderes da Transnístria podem usar como
justificação para a adesão da região à Rússia a "necessidade de proteger
os cidadãos e 'compatriotas' russos na Transnístria das ameaças da Moldávia ou
da NATO ou de ambas".
Cavalo de Troia russo na
Moldávia?
Desde que Moscovo iniciou o seu ataque em grande escala à
Ucrânia, Chisinau teme que o Kremlin possa usar a Transnístria para abrir uma
nova frente no sudoeste, na direção de Odesa, a cidade mais importante do Mar
Negro e uma das cidades-fetiche do presidente russo, que a entende como
parte essencial da ressurreição do império russo.
A região foi abalada por explosões, em 2022, que ninguém
conseguiu explicar muito bem. Na altura, analistas militares falaram da
possibilidade de que a Rússia estivesse a tentar criar um evento de falsa
bandeira, que acontece quando um determinado país em guerra fabrica um
ataque às suas posições de forma a atirar a culpa para o exército inimigo e
poder assim retaliar de forma “legítima”.
Vadim Krasnoselsky é o atual presidente da região e não é
segredo que deseja a integração da Transnístria na Rússia. Antigo presidente do
parlamento da região, conta com o apoio do partido da oposição Renovação, que
em 2016 estabeleceu uma parceria oficial com partido Rússia Unida, a casa de
Vladimir Putin.
Moscovo tem cerca de 1500 soldados na região.
Breve história da
Transnístria
A posição pró-Kremlin desta região é muito anterior à das
“repúblicas” de Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia, que só foram
invadidas por forças pró-Moscovo em 2014.
Na divisão da região após a Segunda Guerra Mundial, Moscovo
criou a República Socialista Soviética da Moldávia, a partir da região de
Dniester, anteriormente uma parte autónoma da Ucrânia, e a região vizinha da
Bessarábia, uma antiga denominação para terras que hoje são a Moldávia e partes
dos atuais distritos de Chernivtsi e Odesa e que tinham feito parte da Roménia
entre 1918 e 1940.
Quando já era claro que a União Soviética iria ruir, a
região do Dniester denunciou aquilo que considerava o crescente nacionalismo
moldavo e o espectro de uma possível reunificação da Moldávia com a Roménia. Uma
lei de 1989 que tornou o moldavo uma língua oficial aumentou a tensão e a
região separou-se em setembro de 1990. Em 1991, as forças paramilitares do
território separatista tomaram o controlo das instituições públicas moldavas da
região. Os combates intensificaram-se, culminando numa batalha na margem
direita do rio Dniester em junho de 1992. Cerca de 700 pessoas foram mortas
durante o conflito.
Fonte: Expresso, 28 de fevereiro de 2024
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