Receio de deportação leva residentes legais a apagar críticas a Trump e abandonar protestos
Morangos com açúcar - Cecília Borges
Maria
apagou todas as publicações que fez nas redes sociais a criticar as políticas
de Donald Trump e Isabel deixou de participar em protestos pró-Palestina, tudo
por receio de deportação, apesar de ambas estarem legalmente nos Estados Unidos
Maria e Isabel – nomes fictícios - falaram com a agência
Lusa sob condição de anonimato por temerem retaliações no seu estatuto
migratório, mas as duas são portadores de vistos que as permitem residir em
território norte-americano.
Contudo, as notícias que têm sido divulgadas nos últimos
dias - sobre uma maior repressão por parte do governo de Donald Trump até mesmo
contra titulares de ‘Green Card’, ou seja, estrangeiros com autorização de
residência permanente nos Estados Unidos – fez com que as duas imigrantes
alterassem a forma como se expressam publicamente.
Maria, detentora de um 'Green Card', confessou à Lusa que se
sente “uma cobarde” por ter apagado todo o seu
histórico de publicações a criticar as políticas do presidente norte-americano,
mas frisou que tem “muito a perder” e “não pode arriscar” tudo o que construiu
nos Estados Unidos, especialmente num momento em que já iniciou o seu processo
para a obtenção da cidadania norte-americana.
Porém, lamenta ter a sua liberdade de expressão condicionada
desta forma.
Na semana passada, Paris indicou que um cientista francês teve
a sua entrada negada nos Estados Unidos após as autoridades norte-americanas
terem encontrado trocas de mensagens no seu telemóvel que expunham uma visão
crítica das políticas adotadas por Donald Trump.
Segundo uma fonte diplomática francesa, o cientista – que
viajava em trabalho - teria passado por uma verificação aleatória na chegada ao
território norte-americano, durante a qual o seu computador de trabalho e
telefone pessoal foram revistados.
Terá sido acusado de enviar
mensagens “que exprimem ódio contra Trump e que podem ser classificadas como
terrorismo”.
O governo norte-americano negou a versão do executivo
francês, indicando que o investigador foi impedido de entrar nos Estados Unidos
não pelas suas “convicções políticas”, mas por
estar na posse de “informações confidenciais” de um laboratório de investigação
nuclear.
Mas o facto de o cientista ter o seu telemóvel e computador
revistados no aeroporto fez soar os alarmes junto de estrangeiros que residem
ou que visitam os Estados Unidos.
Além deste caso, ocorreram nas últimas semanas várias
deportações de cidadãos com vistos de estudante ou que trabalham em território
norte-americano, sendo o exemplo mais mediático o de Mahmoud Khalil, um
estudante da Universidade de Columbia que liderou protestos contra a guerra na
Faixa de Gaza, que teve o seu ‘Green Card’ revogado e o processo de deportação
iniciado.
Isabel, que estuda numa universidade norte-americana, era presença assídua em protestos contra a guerra em Gaza.
Mas agora, optou por não comparecer mais.
Desde que Donald Trump assumiu uma postura de repressão
contra estudantes que participaram nesse tipo de protestos – os quais acusa de
estarem envolvidos em “atividades pró-terroristas -, Isabel e muitos outros estudantes deixaram de participar nestas
manifestações por receio de retaliação e de perderem o seu visto.
Os estudantes que continuam a protestar, fazem-no de rosto
coberto, numa tentativa de preservar a sua identidade, conforme explicaram à
Lusa alguns desses ativistas.
Grupos de defesa dos direitos civis acusam o governo de
Donald Trump de ataque à liberdade de expressão protegida pela Constituição
norte-americana.
O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio,
informou na quinta-feira que os Estados Unidos já revogaram os vistos a mais de
300 estudantes universitários por protestos relacionados com a guerra em Gaza.
"Fazemos isso todos os
dias, cada vez que encontro um destes 'maluquinhos'", disse
Rubio, questionado sobre o número de revogações de vistos a universitários
acusados de ativismo pró-palestiniano.
"É uma vergonha o que se está a passar nos Estados
Unidos. Onde está a liberdade de expressão? Não é suposto ser esta a 'Terra dos
Livres'?", questionou, num tom de indignação, uma ativista que está legal
nos Estados Unidos.
Donald Trump garantiu
que irá expulsar "milhões e milhões" de imigrantes ilegais, uma das
principais promessas da sua campanha eleitoral, durante a qual prometeu levar a
cabo a "maior deportação em massa da história" do país.
Há cerca de 11 milhões de imigrantes indocumentados nos
Estados Unidos, segundo estimativas do Departamento de Segurança Interna de
2022, o ano mais recente com dados disponíveis
Contudo, ninguém esperava que também estrangeiros em
situação legal nos Estados Unidos, sem registo criminal, fossem alvo dos
agentes de imigração, incluindo mesmo os detentores de 'Green Card'.
Essa situação tem levado ao aumento da procura por
escritórios e advogados de imigração por parte de residentes legais, que tentam
agora saber o que fazer caso sejam abordados por agentes do governo.
Cerca de 12,8 milhões de portadores de 'Green Card' vivem
nos Estados Unidos, de acordo com as últimas estimativas do Gabinete de
Estatísticas de Segurança Interna.
Fonte: Lusa, 30 de março de 2025
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