Israel invoca "direito histórico" para avançar com mais 22 colonatos na Cisjordânia
Perry Mason (1957-1966)
“Sob a direção do ministro da Defesa, Israel Katz, e do
ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, o gabinete político-segurança aprovou uma decisão histórica (...) de criar 22 novos colonatos em toda a
Judeia-Samaria”, anunciaram Israel Katz e Bezalel Smotrich numa declaração
conjunta. Smotrich, um colono de extrema-direita, é ministro das Finanças e
também responsável pela gestão civil da Cisjordânia, ou seja, pela gestão dos
colonatos.
O ministro israelita da Defesa, Israel Katz, afirmou que a
decisão sobre os colonatos “reforça o domínio sobre a Judeia e Samaria”,
utilizando o termo bíblico para designar a Cisjordânia, “consolida o direito histórico à Terra de Israel e
constitui uma resposta esmagadora ao terrorismo palestiniano”.
Trata-se também de “uma medida estratégica que impede a criação de um
Estado palestiniano que colocaria Israel em perigo”.
A ONG israelita anti colonização Peace Now condenou a
decisão, afirmando que o governo israelita já não esconde os seus objetivos de
anexação.
“O governo israelita já não finge o contrário: a anexação
dos territórios ocupados e a expansão dos colonatos são o seu principal
objetivo”, declarou a organização em comunicado. Segundo a Peace Now, “em julho
de 2024, Israel aprovou a maior apropriação de terras na Cisjordânia ocupada em
mais de três décadas”, Na altura, o governo israelita aprovou a apropriação de
12,7 km2 de terra no vale do Jordão.
“A decisão do Conselho de Ministros de criar 22 novos
colonatos - a maior iniciativa do género desde
os Acordos de Oslo, nos termos dos quais Israel se comprometeu a não
criar novos colonatos - irá remodelar dramaticamente a Cisjordânia e reforçar
ainda mais a ocupação”, acrescenta o texto.
A colonização israelita é regularmente
denunciada pela ONU como ilegal ao abrigo do direito internacional e como um dos principais obstáculos a uma solução
de paz duradoura entre israelitas e palestinianos, na medida em que impede a
criação de um Estado palestiniano viável.
O anúncio do Executivo
israelita surge depois de o enviado especial do presidente dos EUA, Donald
Trump, para o Médio Oriente, Steve Witkoff, ter dito na quarta-feira que tinha
um “muito bom pressentimento” sobre a possibilidade de concluir uma
trégua em Gaza, após 600 dias de guerra entre Israel e o Hamas, e enquanto a
escalada militar de Israel em Gaza atrai cada vez mais críticas no estrangeiro,
incluindo dos aliados mais próximos do Estado hebraico. Israel ocupou a
Cisjordânia, capturando-a à Jordânia, na guerra dos seis dias de 1967. Desde
então, sucessivos governos têm tentado cimentar o controlo sobre o território,
declarando partes deste como “terras do Estado”, o que impede a propriedade
palestiniana.
A França, juntamente com a Arábia Saudita, deverá presidir,
em junho, a uma conferência da ONU destinada a promover uma solução de paz com
“dois Estados”: Israel e uma Palestina independente e plenamente soberana,
vivendo lado a lado e em harmonia.
“Legado dos nossos antepassados”
De acordo com um mapa publicado pelo Likud, o partido de
direita do primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, os 22 colonatos
planeados estão espalhados por toda a Cisjordânia, de norte a sul, passando
pelo centro, fragmentando ainda mais um território dividido por colonatos
judeus.
Dois dos 22 colonatos anunciados, Homesh e Sa-Nur, são
particularmente simbólicos: situados no norte da Cisjordânia, são de facto
reinstalações, tendo sido evacuados em 2005 no âmbito do plano israelita de
retirada da Faixa de Gaza promovido na altura pelo primeiro-ministro Ariel
Sharon.
O colono Bezalel Smotrich não esconde esse facto. “Não
tomámos terras estrangeiras, mas a herança dos nossos antepassados”, declarou
na rede social X, “o passo seguinte é a soberania”.
Em maio de 2023, Smotrich,
tinha afirmado que a sua “missão de vida é impedir a criação de um Estado
palestiniano”, e deu instruções aos ministérios do governo israelita
para se prepararem para a instalação de mais 500 mil colonos israelitas na
Cisjordânia ocupada. Cerca de 500 mil israelitas vivem em colonatos na
Cisjordânia, entre três milhões de palestinianos. Os colonos têm cidadania
israelita.
Os colonatos variam de pequenos postos no topo de colinas a
comunidades totalmente desenvolvidas com blocos de apartamentos, centros
comerciais, fábricas e parques públicos.
O governo tenciona utilizar os 22 colonatos para reforçar a presença israelita em torno da estrada 443, que liga Jerusalém a Telavive via Modiin, e que foi descrita por Israel Ganz, presidente do conselho de Yesha, que agrupa os municípios judeus da Cisjordânia, como “a decisão mais importante desde 1967”.
Formado em dezembro de 2022 com o apoio de partidos ultraortodoxos e de extrema-direita, o governo de Netanyahu é um dos mais à direita da história de Israel.
De acordo com as ONG de defesa dos Direitos Humanos e
anticolonização, na vigência deste governo foram feitos mais progressos no
terreno no sentido da anexação, pelo menos de facto, da Cisjordânia do que
nunca, em especial desde o início da guerra desencadeada em 7 de outubro de
2023 pelo ataque sem precedentes a Israel a partir da Faixa de Gaza pelo
movimento islamista palestiniano Hamas.
Fonte: RTP, 29 de maio de 2025
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