“O Goebbels desta mer**”. Bugalho apanhado a comparar-se ao ministro de propaganda de Hitler
Maria Kallio – Elena Leeve
As
escutas da Operação Tutti-Frutti indiciam uma relação próxima entre Sebastião
Bugalho e várias figuras do PSD, com o então jornalista a usar o seu trabalho
para favorecer o partido e até a comparar-se a um ministro nazi
Sebastião Bugalho, atualmente eurodeputado do PSD e antigo
jornalista, foi apanhado em dezenas de escutas telefónicas da Operação
Tutti-Frutti, entre 2017 e 2018. As conversas revelam uma estreita ligação com
os ex-deputados sociais-democratas Carlos Eduardo Reis e Sérgio Azevedo,
principais arguidos no processo que investiga crimes como corrupção, fraude e
branqueamento de capitais.
De acordo com a revista Sábado, Bugalho e Carlos
Eduardo Reis são ouvidos a tratar-se por “primo”,
embora não tenham qualquer relação familiar. Apesar de Bugalho não ser arguido
no processo, o Ministério Público considera que existiu “proximidade” e que o eurodeputado terá usado o seu trabalho como jornalista
para favorecer os interesses do PSD.
Um caso emblemático ocorreu em 2017, quando Bugalho
entrevistou Luís Newton, presidente da Junta de Freguesia da Estrela, também
arguido no processo. A entrevista foi editada por Sérgio Azevedo, que chegou a
apontar cortes e retoques favoráveis ao autarca.
Nas conversas telefónicas, Bugalho admitiu ter cortado
elogios de Newton a António Costa porque este “até parecia um gajo do PS”. “Tás
a ficar um profissional”, elogiou Sérgio Azevedo, que lhe prometeu o cargo de
“ministro da propaganda” num futuro governo, ao que Bugalho responde com uma
comparação com Joseph Goebbels, o ministro de propaganda do regime nazi de
Hitler. “O Goebbels desta merda”, concordou Azevedo.
O nome de Sebastião Bugalho
entrou na investigação logo no início devido à sua entrevista a André Ventura,
então candidato do PSD à Câmara de Loures. Essa entrevista, também preparada
com a ajuda de figuras do PSD, abordava as polémicas declarações de Ventura
sobre os ciganos. Em conversa com Bugalho, Sérgio Azevedo afirma que criou “um
Frankenstein” devido à popularidade de Ventura com eleitores de vários
partidos.
As escutas também mostram Bugalho a dizer a Carlos Eduardo Reis para
não responder às notícias sobre as suspeitas de a sua
empresa ter beneficiado de contratos fraudulentos com a Junta da Estrela,
incluindo negócios com a mulher do ex-ministro Miguel Relvas.
“Ignora, senão levas com mais fogo”, aconselhou.
Outro episódio envolve Jorge Bacelar Gouveia, professor de Direito
Constitucional. Sérgio Azevedo pretendia que Gouveia fosse nomeado Provedor de
Justiça e articulou com Bugalho uma entrevista para o jornal Sol para promover a imagem do académico.
Os alegados favores de Bugalho ao PSD quando era jornalista
contrastam com as declarações públicas do eurodeputado após as últimas
eleições. Enquanto comentador na noite eleitoral, Bugalho
considerou “humilhante para as televisões” o contraste entre as escolhas do
eleitorado e as análises dos comentadores. Dias depois, no podcast Expresso
da Manhã, Bugalho voltou a atacar a comunicação social e o seu “ativismo da
investigação”.
Em resposta à Sábado, Bugalho garante nunca ter tido
“qualquer relação profissional ou transacional com qualquer um dos visados” na
Operação Tutti-Frutti.
Fonte: ZAP, 29 de maio de 2025
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