O grande desvanecer: Influenciadores neoconservadores em fúria à medida que perdem relevância
The
Hunter's Prayer (2017) - Allen Leech, Dylan Miles-Davis
Mark
Levin lidera um cortejo cada vez mais reduzido de vozes outrora influentes,
agora desesperadas por travar um acordo com o Irão. O mundo MAGA está cada vez
mais desinteressado
Mark Levin parece estar à beira de um colapso.
O veterano comentador neoconservador está indignado com os
relatos de que o presidente Donald Trump poderá estar a aproximar-se de um
acordo nuclear com o Irão, reduzindo a probabilidade de guerra. Para além dos seus discursos inflamados sobre como isso prejudicaria
Israel, Levin tem clamado a quem o quiser ouvir que qualquer acordo
com o Irão precisa da aprovação do Congresso (curiosamente, não tem a mesma
posição em relação a declarar guerra — só para fazer a paz).
Tem também atacado os conservadores que não partilham a sua
fúria sobre o assunto. Aqui no noticiário de Eric Stakelbeck:
“Quando o Enola Gay largou a bomba atómica sobre Hiroxima,
foram precisos 45 segundos para apagar essa cidade da face da Terra — levando
com ela 60 mil pessoas. E devíamos ter feito o que era necessário fazer naquela
guerra, tendo em conta a Batalha de Okinawa e o número de baixas que tivemos —
mas esse não é o meu ponto. O meu ponto é: conseguem imaginar um culto da
morte, um regime terrorista que grita "Morte à América", com este
tipo de armas? Eu não consigo. Por isso, os isolacionistas, os pacifistas, os
apaziguadores — o mundo já lidou com eles antes. Só porque são chamados, ou se
autointitulam, influencers, bloggers, podcasters — não significam rigorosamente
nada para mim. O facto é este: a realidade — a nossa geração está a ser
confrontada por um culto da morte que afirma querer eliminar os Estados Unidos,
que está, efetivamente, a semanas de possuir
armas nucleares. E a nossa geração impor aos nossos filhos, netos e
às gerações ainda por nascer este tipo de ameaça é um pecado.”
Na segunda-feira, Levin criticou indiretamente a
administração Trump, acabada de chegar de uma viagem ao Médio Oriente que não incluiu Israel, por não ter mostrado mais
deferência para com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. “(Ele) é o
primeiro-ministro eleito da nação soberana de Israel, ao contrário dos vários
ditadores e terroristas que governam os países vizinhos de Israel”,
escreveu Levin. “Ele merece o respeito do nosso governo, não o tratamento de
uma espécie de burocrata inferior.”
O autor e podcaster libertário Tom Woods partilhou a
publicação, acrescentando: “Levin está a ficar muito impaciente com Trump. É
interessante observar”.
“Está a esforçar-se muito
para não condenar Trump abertamente”, acrescentou Woods, “e isso está a deixá-lo louco”.
Em março, uma sondagem mostrou que 70% dos israelitas
queriam a demissão de Netanyahu. Outra sondagem revelou que a maioria dos
norte-americanos, incluindo 64% dos republicanos, prefere um acordo com o Irão
à guerra.
Aparentemente, o cidadão
americano Levin tem mais
reverência pelo líder israelita do que a maioria dos compatriotas de Netanyahu.
Também quer a guerra mais do que os seus compatriotas americanos. Estranho.
Não é só Mark Levin que está frustrado. Ben Shapiro é provavelmente o neoconservador contemporâneo
mais conhecido entre os críticos da diplomacia de Trump, que afirma coisas
como: "Na
verdade, o mundo está a tornar claro que está disposto a recompensar o
terrorismo. Se o Hamas fosse um exército convencional (como a Rússia), Israel
poderia fazer o que quisesse com a aprovação dos EUA. O Hamas é um grupo
terrorista maligno, por isso deve ser recompensado e os palestinianos devem ter
um Estado".
Em nenhum cenário Ben Shapiro considera que o que está a ser
feito a civis inocentes, mulheres e crianças, em Gaza seja “terrorismo”.
Há também os falcões da era Bush, como Pamela Geller e
Frank Gaffney, que ainda por aí andam
e, previsivelmente, continuam desejosos de explodir o Médio Oriente em vez de
procurar soluções. E há outros.
Mas se observarmos as reações nas redes sociais às
investidas belicistas de Levin ou de qualquer uma destas figuras, encontraremos
tantos ou mais elementos do seu próprio público, bem como outros conservadores
alinhados com o MAGA, a discordar deles ou até a troçarem deles.
Para que fique claro, não estou a falar de neoconservadores
como Bill Kristol, Max Boot ou Jennifer Rubin — todos Never Trumpers,
hoje em dia mais próximos dos democratas do que do Partido Republicano.
Refiro-me estritamente a vozes conservadoras pró-guerra que ainda consideram
que o seu público coincide com o de Trump.
Eles são, cada vez mais, públicos diferentes. E o que é pior para os neoconservadores é o surgimento de um exército crescente de influenciadores MAGA antiguerra que agora ofuscam completamente os veteranos da velha guarda. Entre eles estão personalidades extremamente populares como Tucker Carlson, que traçou uma linha vermelha há apenas um mês, quando surgiram sugestões de que os EUA deveriam atacar o Irão.
“Perderíamos a guerra que se seguiria. Nada seria mais
destrutivo para o nosso país. E, no entanto, estamos mais próximos do que nunca
disso, graças à pressão incessante dos neoconservadores”, afirmou. “Isto é
suicida. Qualquer pessoa que defenda um conflito com o Irão não é aliada dos
Estados Unidos, mas sim inimiga.”
Este exército em expansão inclui também a congressista
republicana Marjorie Taylor Greene, o ex-congressista Matt Gaetz, o senador
Rand Paul, o ex-conselheiro de Trump Steve Bannon e o filho do presidente,
Donald Trump Jr.
Nenhum deles poupa nas palavras quando transmite a sua
mensagem de política externa “America First” aos milhões de seguidores.
O comediante libertário Dave Smith criticou o que considera
ser a “hipocrisia” de Ben Shapiro durante uma entrevista recente com Tucker
Carlson. “Ben Shapiro construiu uma carreira a opor-se à política identitária
como um orgulhoso sionista”, disse. “Anda por aí a dizer ‘os factos não ligam
aos teus sentimentos’, ‘a política identitária está errada’, e depois, enquanto
dizes isso, a tua prioridade número um é a manifestação da política
identitária.”
Ai!
Depois, há os influenciadores adjacentes ao MAGA —
simpáticos ao movimento quando a ocasião assim o exige, mas que não se alinham
totalmente com o trumpismo. O ex-“Bernie Bro” Joe Rogan, o podcaster mais
popular do mundo, encaixa-se nesta categoria, assim como libertários como os já
mencionados Dave Smith e Tom Woods. O comediante e podcaster Theo Von tem uma
audiência gigantesca e condenou veementemente o massacre em Gaza, depois de se
juntar à comitiva de Trump numa recente visita ao Qatar. O libertário civil
Glenn Greenwald continua tão antiguerra como sempre e provavelmente conta hoje
com uma base de audiência mais à direita do que em qualquer outro momento.
São estes os influenciadores que estão a definir o tom do
que a direita entende atualmente como uma política externa “America First” — e
essa visão é exatamente o oposto daquela defendida pelo número cada vez menor
de vozes favoráveis ao neoconservadorismo.
O eleitor médio de Trump, mais atento, simplesmente já não
parece estar a comprar o que os falcões continuam a tentar vender. Os
neoconservadores querem guerra. Querem guerra com o Irão, em particular, desde
o início do século XXI. E continuam a querer. Desesperadamente.
À medida que o movimento MAGA de Trump continua a definir a
direita americana mais do que qualquer outra fação interna, os influenciadores
neoconservadores — durante muito tempo habituados a moldar as narrativas entre
os conservadores — estão a ver a sua relevância diminuir.
No passado, conseguiam agitar
o público com o medo de que a Lei Sharia tomasse conta dos Estados Unidos, a
Irmandade Muçulmana se infiltrasse na administração Obama ou qualquer outro
truque sensacionalista que usassem para angariar apoio conservador para o
próximo erro de política externa dos EUA. A direita simplesmente já
não está nesse ponto.
O presidente Trump e a sua retórica não intervencionista
foram os principais responsáveis por esta mudança. Mas também contribuiu o
alargado conjunto de vozes antiguerra aqui mencionadas, que estão prontas para
ecoar e reforçar quando o presidente, o vice-presidente JD Vance, o enviado
especial Steve Witkoff ou a diretora da inteligência nacional Tulsi Gabbard
dizem algo positivo sobre realismo e contenção — e crítico dos
neoconservadores.
Mark Levin está a ter um chilique porque o mundo
neoconservador que ajudou a construir está a desaparecer.
Esperem que os espasmos piorem.
Jack Hunter
Fonte: Responsible Statecraft, 29 de maio de 2025
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